Terminei o último dia útil desta Semana Santa sem forças sequer para manter os olhos abertos - quiças para escrever estas mal-traçadas linhas. Posto que escrita adiada é prazer interrompido, cá estou, em pleno feriado, para retomar o prazer de viver, de escrever, de descansar - porque ninguém é de ferro.
Fiquei sabendo ontem, por intermédia de uma notícia publicada no jornal Hoje em Dia online, que os famosos anéis de fada - "estes enigmáticos círculos de grama de 2 a 12 metros de diâmetro com o centro vazio" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/mundo/estudo-revela-aneis-de-fadas-da-africa-s-o-obra-de-cupins-1.106587) - não teriam nada de sobrenatural ou divino, conforme acreditavam os Himba, povo que vive na região de ocorrência dos anéis, na Namíbia. Pelo menos em princípio...
A opinião contrária aparace em artigo publicado na Revista Science pelo botânico Norbert Juerguens que revela que os anéis de fada, conhecidos também como "ciranda das bruxas", nada mais são do que cupins, que se "alimentam de raízes de grama, pastagens e outras plantas que acabam desaparecendo nestes locais".
Bem, os aneis podem até não ser de outro mundo, mas eles, no mínimo, surpreendem pela inteligência do seu propósito: "A falta de vegetação no interior dos círculos faz com que a água da
chuva não evapore e fique armazenada na profundidade do solo arenoso. (...) Essa água permite que os cupins sobrevivam e se mantenham ativos
durante a estação seca e também explica porque a vegetação pode crescer
fora do círculo".
Longe de mim querer aderir à máxima criacionista, segundo a qual tudo o que existe nesse mundo tem um propósito inteligente e é fruto de intervenção sobrenatural. Mas não deixa de ser intrigante a constatação de que nossa existência é o trilhar de caminhos tortuosos, muitas vezes sem sentido aparente. E, como todo caminho percorrido por um ser vivo, ele é suscetível a atalhos imprevistos.
Exatamente como o atalho que dois cosmonautas russos e um astronauta americano tomaram para chegar à Estação Espacial Internacional, "um laboratório de pesquisa de US$ 100 bilhões que flutua a 400 km sobre a Terra" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1254303-astronautas-pegam-atalho-e-chegam-a-estacao-espacial-em-tempor-recorde.shtml).
Eles tomaram um atalho espacial que lhes permitiu chegar à estação em pouco mais de seis horas, com ganhos evidentes: "A rota expressa, utilizada pela primeira vez por uma nave tripulada para
chegar à estação, reduziu cerca de 45 horas o tempo de viagem do três
viajantes - o astronauta da Nasa Chris Cassidy, e os cosmonautas russos
Pavel Vinogradov e Alexander Misurkin - até a estação".
Agora, o que esses três que farão com as 45 horas que ganharam de presente, eu não faço a menor ideia. Espero, sinceramente, que consigam fazer bom uso das horas economizadas. Exatamente como os aneis de fada, pouco importa se o atalho foi algo deste mundo ou de outro: importa apenas a inteligência do propósito que será foi confiado.
Ou não, como diria Caetano Veloso...
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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