"Alerta para a ameaça emergente de novos riscos existenciais" era o título da entrevista. Li e fiquei me perguntando o que estaria por vir. Logo entendi que a manobra era de ordem epistemológica: "Martin Rees, um dos cientistas mais importantes da atualidade, que acaba
de criar na Universidade de Cambridge um centro para estudos sobre o
que chama de riscos existenciais" (
http://oglobo.globo.com/ciencia/alerta-para-ameaca-emergente-dos-novos-riscos-existenciais-7848708).
Presidente da Sociedade Real de Astronomia, Rees tem um projeto robusto pela frente: "saber diferenciar o que são ameaças genuínas do que é ficção científica" quando se trata de ações do homem na natureza. "Não queremos impedir os avanços da ciência, nem podemos. Precisamos
garantir que podemos maximizar os benefícios das descobertas e minimizar
os riscos".
Bem, antes de saber como evitar algo, é necessário saber ao certo o que se pretende evitar. Entende-se por riscos existenciais a energia nuclear "e novas tecnologias da biologia e da cibernética". Mas eles não se resumem a isso: na opinião de Rees, "não nos preocupamos suficientemente com problemas mais sérios, tão
sérios que, se acontecerem uma única vez, podem desencadear uma grande
catástrofe, como a rápida disseminação de epidemias nas cada vez maiores
cidades do mundo em desenvolvimento, danos ambientais causados pelo
crescimento populacional descontrolado, escassez de recursos e mudanças
climáticas". Ao que parece, os riscos existenciais têm uma especificidade com relação a outras formas de risco: "embora tenham uma probabilidade pequena de se concretizar, têm consequências que podem ser desastrosas."
Fiquei me lembrando daquele meme de estrondoso sucesso nas redes sociais, "O que queremos". Depois de tanta aflição com os chamados riscos existenciais, deu mesmo vontade de perguntar: afinal, o que queremos? Capacidade de antecipação do desconhecido, mesmo que pouco provável de vir a ocorrer, responde o cientista. E como queremos?
Bem, aí é que a porca torce o rabo! Vou deixar para o presidente da Sociedade Real de Astronomia responder, pois a ideia de criar este grupo de pesquisa foi de seu presidente, Martin Rees, e não minha. Os grandes riscos existenciais - repito - eu deixo para os grandes
cientistas, que se reúnem "em pequenos grupos" e "com especialização em
áreas diferente."
Para ser sincera, a esta hora da noite, estou menos preocupada com novos grupos de pesquisa do que com riscos existenciais de menor escala e com maior probabilidade de vir a acontecer: acertar na escolha do filme no sábado à noite, tomar a linha de ônibus mais rápida para o trabalho, evitar engarrafamentos em momentos de impaciência.
Delego, sem problemas, a este simpático grupo interdisciplinar o direito de pensar nos grandes riscos existenciais da Humanidade por mim. Mas lembro que, tal como Shiva, deus indiano que baila sobre castelos em chamas, não há passo que seja dado nessa vida sem desequilíbrio (mesmo que temporário).
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