UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Cadeira besta

quinta-feira, 7 de março de 2013

Cadeira besta

Eles chamam isso de "cadeira tecnológica": trata-se, na verdade, de uma cadeira com sensores que recolhe dados do usuário para compor uma base de dados biométrica. A partir daí, ela compõe um programa de atividades adaptado para o "peso, a pressão sanguínea e o pulso do usuário" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/tecnologia/cadeira-tecnologica-para-exercitar-corpo-e-mente-e-apresentada-na-alemanha-1.97718).

Sim, a grande sensação da feira de alta tecnologia de Hannover promete exercitar corpo e mente de "pessoas mais velhas". As habilidades da cadeira são fartamente ilustradas com exemplos: "Assim, a cadeira se comporta como um barco e permite ao usuário remar por uma corrente que aparece em uma grande tela", ensina a matéria.

Mas a coisa não para por aí. Além de propor, a cadeira também corrige: de acordo com Sven Feilner, do Instituto Fraunhofer, "inclusive neste modo, os sensores registram todos os sinais vitais, e o monitor de saúde observa se a pessoa não está fazendo os exercícios adequadamente".

E tem mais: a cadeira é capaz de "socializar" usuários solitários, programando atividades coletivas: "Os usuários podem estabelecer conexões uns com os outros e organizar uma 'corrida', ou simplesmente seguir um programa estabelecido de 'fitness', vigiado de perto pela cadeira."

Vigilância? Sim, vigilância. Inclusive, da sua memória: "A cadeira também exercita a mente, com um jogo da memória ao qual o usuário responde modificando sua postura." A intenção até que é boa: "Tentamos fazer com que as pessoas sejam mais ativas, sobretudo nossa população, que é cada vez mais velha", revela o chefe do projeto, Matthias Struck.

O projeto até que é bem bacana, mas acaba sendo um tiro no pé. Pode até ser que a cadeira realmente exercite seu corpo e sua mente; que ela te conecte a novos amigos por meio de atividades lúdicas e interessantes; ou, ainda, que ela seja capaz de estimular sua memória.

Contudo, o produto é um verdadeiro tiro no pé, já que só há uma maneira de você saber se a cadeira está funcionamento suficientemente bem: quando você tiver a capacidade de se levantar, caminhar até a porta, abrí-la e ganhar o mundo com as próprias pernas, encontrando pessoas reais, sentindo odores, tocando em texturas diversas.  Ou seja, é uma cadeira tecnologicamente "inteligente", mas, ainda assim, uma cadeira besta.

E quando este dia chegar, meu amigo, você vai entender como nunca que corpo e memória vigiados desconhecem a liberdade e a espontaneidade dos movimentos imprevistos.

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