Digamos assim: o mote era bom, mas a voz desafinou. Ou pior: a letra não fez jus ao mote. E a voz só desafinava...
Metaforicamente falando, foi exatamante o que aconteceu com esta notícia publicada no jornal Hoje em Dia online: trouxe um bom mote, mas a redação feita pelos cocos deixou os fatos narrados a tal ponto incompreensíveis que ela acabou realmente embolando... o meio de campo (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/bizarro/camera-perdida-atravessa-o-pacifico-e-volta-para-sua-dona-apos-seis-anos-1.105960).
Melhor ir por partes. Para início de conversa, o mote. O título "Câmera perdida atravessa o Pacífico e volta para sua dona após seis anos" tem lá seus atrattivos. Exatamente como reza o manual de redação, ele convida os olhos a prosseguirem nas linhas subsequentes: "Enquanto mergulhava na ilha de Maui, no Havaí, em 2007, a americana
Lindsay Crumbley Scallan perdeu sua câmera fotográfica com proteção a
prova d'água", relata a notícia.
O desastre narrativo começa na linha seguinte: "seis anos depois, já esquecida a perda do aparelho
e os registros dos momentos daquela viagem, Lindsay foi surpreendida
por um anúncio de uma companhia aérea de Taiwan, que procurava a dona da
câmera perdida". Perguntas pulularam: como ela soube deste anúncio? Por que a companhia aérea faria um anúncio desta natureza?
Alguns ensaios de resposta são dados no parágrafo seguinte:"Um gerente da China Airlines, Douglas Cheng, encontrou a máquina enquanto caminhava
em uma praia da costa leste de Taiwan, a mais de 9.600 km de distância
do local onde o aparelho foi perdido. O cartão de memória que se
mantinha a salvo e resistente ao mar, ainda guardava as últimas
fotografias de Lindsay". Bem, se a câmera foi perdida a quase 10 mil km do local onde ela foi perdida, onde o anúncio da câmera, bancado pela companhia aérea, estaria sendo veiculado: nos EUA? Em Taiwan?
O desfecho desta história mal-contada foi mal-sucedido, que ele conseguiu levantar mais dúvidas do que explicações: "As imagens divulgadas pela mídia foi o que levou Cheng a encontrar a
dona do aparelho, que acabou ganhando da American Airlines uma viagem de ida e volta para Taiwan para buscar sua câmera fotográfica". Que imagens "divulgadas pela mídia" seriam essas: as imagens da câmera reencontrada? As imagens fotografadas pela proprietária da foto? E que interesse teria a American Airlines de financiar esta viagem, se o anúncio teria sido feito pela China Airlines? E, finalmente, o que haveria nestas fotos que garantisse o reconhecimento da proprietária pelo gerente da China Airlines?
Quer saber? Para justificar a hilação dos fatos, só pode haver uma explicação: a tal Lindsay, neste caso, era a Lohan! Ela e o(a) redator(a) da notícia teriam se embriagado horrores até o fechamento desta matéria.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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