UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Consumismo primitivo

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Consumismo primitivo

Que o mercado capitalista contemporâneo prime pela flexbilidade, disso ninguém duvida. Mas poucos produtos propõem opções tão paradoxais como aquela divulgada pelo norte-americano Mark Sisson, de 59 anos. Conhecido como "principal porta-voz do estilo de vida primitivo" - ou primal lyfestyle  - Sisson prega um estilo que combina dieta, dicas comportamentais e exercícios para atletas, tudo muito bem alinhavado por instigantes bens de consumo (http://www1.folha.uol.com.br/serafina/1234510-dieta-paleolitica-prega-habitos-primitivos-e-atrai-famosos-nos-eua.shtml)

Mas duro vai ser entender como a definição de "estilo de vida primitivo" consegue ser tão elástica, a ponto de abrigar, no seu cardápio, opções que vão desde uma "linha de suplementos",  até seus "sete livros sobre o tema e na conferência que organiza três vezes por ano chamada PrimalCon, [e] uma imersão de três dias com atividades 'primitivas' num resort de luxo."

E tem mais: "Os entusiastas do estilo primitivo - entre eles celebridades como Megan Fox, Channing Tatum e Jessica Biel - também contam com uma revista bimestral, cujo mantra é 'vida moderna primal', centenas de livros de autoajuda e receitas, sem contar os apetrechos que usam o homem selvagem como garoto-propaganda de uma vida mais próxima da natureza". Alguns são bem curiosos: "Entre as curiosidades estão sacolas de areia para corridas com peso e um apoio de privada para os pés que possibilita usá-la como nossos ancestrais, ou seja, agachado. Segundo Mark Sisson, a posição reduz o risco de doenças no cólon". 

Bem... Que o consumo seja formador de subjetividade e que ele aja performativamente sobre as identidades dos sujeitos, isto é uma tecla na qual antropólogos da cultura, como Marshal Sahlins, vêm batendo desde os anos 1970. E que a identidade social seja multifacetada, forjada a partir de nossos encontros e redes de pertencimento também já constitui ponto pacífico para muitos - quiça a maioria - salvo para alguns integristas mais radicais.

Mas algum cientista social aí topa me explicar que raio de subjetividade resultará de um experimento social que se diz inspirado na "biologia evolutiva" e prevê uma dieta cuja porcentagem de gordura chega a 50%? O resultado, que dispensa entedimento lógico, parece ser este aqui: "Fomos feitos para ter rápidos impulsos de força, como acontecia com nossos ancestrais quando aparecia alguma ameaça e eles precisavam reagir. O resultado é aumento de hormônios, músculos e muitos outros benefícios."

No final das contas, flexibilizar parece ser mesmo o termo-chave. Apesar de odiar macarrão - considerado por ele "uma comida ridícula" - Sisson diz que consegue conviver bem entre os seus: "Mark, que toma café com creme pela manhã e tem como prato favorito uma generosa salada de 20 ingredientes, não impõe o estilo de vida à família. Ele é casado há mais de 20 anos com a ex-vegetariana Carrie, 57 anos e barriga tanquinho, que hoje come peixe".

Nada mal. Sua esposa ex-vegetariana haverá de compreender se, um dia, ele, que também é ex-maratonista e ex-triatleta, deixar de comer carne e gordura para passar os últimos anos da sua vida comendo marcarrão na Tailândia. De qualquer forma, até lá, qualquer que seja a fórmula adotada, eles terão acumulado renda suficiente para desobstruir suas artérias com métodos bem menos primitivos.


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