UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Brisa leve

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Brisa leve

Depois de anos sendo chamada pelo apelido familiar, uma amiga tomou, há poucos dias, a decisão de assumir seu primeiro nome, isto é, aquele com o qual ela foi registrada no cartório. O principal desdobramento deste ato deliberado não foi judicial, mas identitário: ele teve o objetivo de trazê-la de volta para ela mesma. E o ônus - se há algum - é dos familiares, que ainda estão dando nó em pingo d'água para se acostumarem à mudança.

O caso da islandesa Blaer Bjarkardottir tem semelhanças e diferenças em relação ao anterior.  Diferentemente da minha amiga, Blaer obteve, por vias legais, o direito de utilizar seu primeiro nome, que significa "Brisa Leve". "Antes da decisão, ela era identificada apenas como “Stulka” (menina) em todos os documentos, o que causou anos de frustração e problemas na hora de lidar com instituições como bancos e a própria burocracia do país" (http://oglobo.globo.com/mundo/apos-batalha-na-justica-islandesa-ganha-direito-de-usar-proprio-nome-7454695#ixzz2Jbmd1cQR ).

Considerado masculino demais para uma menina, o nome  foi alvo de controvéria judicial:
"Assim como na Alemanha e na Dinamarca, o país possui leis rígidas sobre como crianças devem ser nomeadas. Os nomes devem estar de acordo com regras gramaticais e de pronúncia, o que protegeria as pessoas de serem motivo de piada".

A regulamentação, que seria certamente considerada excessiva para nossos padrões mais permissivos, possui provavelmente uma vocação anti-bullying. Mas a linha que separa a proteção do controle é tênue que só vendo. "A lista da Comissão de Nomes da Islândia contém 1.853 nomes que podem ser usados para mulheres". São, portanto, 1.853 possibilidades existenciais femininas definidas pelas autoridades. Nem mais, nem menos. "Nomes como Carolina e Christa, por exemplo, não são permitidos por que a letra 'c' não faz parte do alfabeto do país", assim como "também não são permitidos nomes que podem ser usados por ambos os sexos".

A mãe de Blaer tentou reverter a situação, alegando "que não sabia que o nome de sua filha não estava na lista de nomes femininos permitidos no país". Alegar desconhecimento, em situações de tamanho controle social, é quase como alegar amnésia alcoólica sem ter bebido: difícil de acreditar! Sorte delas que o argumento colou. E feliz da minha amiga que, até onde eu sei, não precisou lutar na Justiça, nem se defender de bullying. E que mora em um país tão anárquico que nele o apelido é que ganha status de nome próprio!

Nenhum comentário:

Postar um comentário