UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Desafio poético - 1º dia

terça-feira, 7 de julho de 2015

Desafio poético - 1º dia

Há vários dias - quiçá semanas - uma amiga me convidou para um desses desafios poéticos que andam grassando nas redes sociais. O desafio consistia em postar cinco poemas durante cinco dias seguidos.

Os dias se passaram e nada de eu arrumar tempo para catar meus versos preferidos. E aí a poesia foi ficando para depois, perdida entre os prazos, as lidas, os artigos. Agonizante, ela ainda quis crer que eu teria tempo para ela um dia desses aí, quando tarefa x ou y estivesse terminada.

Hoje, agradeço reiteradamente à poesia por ela não ter desistido de mim (o mesmo digo da amiga do desafio). Para aceitá-lo, contudo, achei por bem migra-lo para este blog, que é território todo meu, onde só me lê quem tem estômago para os faits divers, para as nerdices e para a ironia barata.

No entanto, quero deixar claro que trouxe o desafio para cá porque achei que a poesia ficaria bem ao lados das crônicas, que, por sinal, andam ficando mais esparsas do que eu gostaria. Para arejar este recinto, revigorá-lo e torná-lo um pouco mais útil para as almas errantes (aquelas que navegam pela Internet atrás de leitura acidentaçl), resolvi ir um pouco além da proposta inicial. Cada dia uma poesia, cada poesia um autor e cada autor um estilo, um sentimento, um sabor especial na ponta língua.

Vou começar então com o decano dos cinco autores, Manuel Bandeira, campeão olímpico de intensidade dramática nos 500 versos rasos. Escolhi o poema abaixo porque ele fala tanto de si próprio (o verso) quanto do seu autor: tão intenso e dramático, que por pouco não vira uma novela mexicana.

Senhoras e senhores, aqui vão os versos escolhidos do Manuel Bandeira:

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia adente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Do livro: "Vou-me embora para Pasárgada e outros poemas" (Ediouro, 2ª ed., Rio de Janeiro, p. 7).  

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