UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Desafio poético - 5º dia

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Desafio poético - 5º dia

Após uma breve pausa para descanso, cá estou eu já na reta final do último dos desafios. Antes de passar ao derradeiro poema, gostaria de frisar que este desafio poético não passa de um desafio de meia-tigela: não há nada mais prazeroso que ser desafiado a publicar e comentar poesia. Só que desafio que é desafio pode até dar prazer, mas tem que dar frio na barriga também. Do contrário, não é desafio.

Foi em consequência de um frio na barriga, portanto, que escolhi o poema que cito hoje. A primeira leitura me arregalou os olhos; a segunda me revirou as vísceras; mas foi na terceira que saí convencida da genialidade do seu autor.

Não, queridos leitores, lamento informar mas o autor de hoje não é conhecido da grande massa (ainda que ele venha angariando fãs incondicionais - como eu! - nas redes sociais). Por enquanto, devo ressaltar. Meu dever - e o seu, tão logo ler este poema - é semear seu nome até os confins da Ursa Maior, de modo que sua poesia continue varrendo universos e enternecendo pessoas.

Ok, vou parar com o suspense. Com vocês, senhoras e senhores, uma bela amostra da poesia visceral de Wender Montenegro.

De pedras e ganhos

Me dá uma pedra, Senhor.
onde eu possa recostar o sonho.
Uma pedra de mó que me sirva de âncora;
uma pedra só lâmina 
pra retirar escamas do remorso,
mais que isso, vísceras.
Pedras-de-lei para anistiar ofensas
e imprimir perdões.
Dá-me a alegria de um seixo leve:
quero das margens vê-lo milagrar
passos de dança sobre o chão das águas.
Uma pedra-alimento que seja, 
dessas que as rolas vêm colher aos bandos
na hora da sesta...
Minha pedra é caminho, Senhor,
e eu quero uma pedra-canção!

Wender Montenegro. Casca de nós. Guaratinguetá, Ed. Penalux, 2012, p. 65. 

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