UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Contras as vicissitudes da ocultação, Juó Bananére!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Contras as vicissitudes da ocultação, Juó Bananére!

Pode parecer mania de perseguição minha com o senhor Michel Temer, mas não é. Quase caí para trás esta manhã quando li uma matéria sobre sua reação adversa à súbita popularidade de sua jovem esposa na posse da Presidente Dilma. Pior: parece o Sr. Temer esconde a mulher! Dedos no teclado, pronta para destilar meu veneno, fui procurar a tal matéria agora à tarde, à procura dos fatos. Mas cadê? Sumiu a matéria! Não deu nem tempo de falar mal dela! Mas eu juro que ela estava lá!!!

Já que estamos falando de sumiço, aqui na terra das Minas e das Gerais, vem de longa data a expressão "esconder o ouro". É verdade que o hábito endêmico de sonegar impostos e jamais dar a real dimensão das riquezas possuídas é justificado pelas nossas raízes históricas de resistência ao jugo colonial. Mas raízes históricas viram um álibi interessante, fazendo muitas vezes o desvio de conduta ganhar ares determinação positivista.

Mas não é só aqui nas Alterosas que as pessoas escondem as coisas. Uma amiga baiana me contou uma vez que lá na terra dela, estado com a maior população negra do país, a expressão "esconder a avó" era aplicada em situações em que o semblante mestiço não negava a origem da cor. Ou seja, quando alguém dizia, "essa aí esconde a avó", insinuava-se que a pessoa em questão tinha antecedentes raciais - negro na maior parte dos casos - que seriam supostamente pouco meritórios da visibilidade pública. Numa sociedade racista como a nossa, padrões estéticos e comportamentais dominantes criam desconforto em quem neles não se encaixa. Esconder é, portanto, uma estratégia de quem opta por negar uma qualidade ou um pertencimento. Mas nem tudo pode ser escondido. Ou pode?

Tem gente que acha que sim. Algumas pessoas, por exemplo, teimam em esconder o que têm de melhor, com medo de ter de distribuir ou compartilhar sua riqueza. Outros sentem vergonha em ter ou ser justamente aquilo que não é valorizado, preferindo esconder ou camuflar o objeto da desvalorização.

Entre uma loucura ou outra, prefiro a paródia do Juó Bananére. Pseudônimo usado por Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, Bananére tripudia dos versos de Olavo Bilac - "Ora (direis), ouvir estrelas! Certo, Perdeste o senso!" - numa língua inventada, uma espécie de italiano macarrônico que imitava o sotaque típico dos bairros imigrantes de São Paulo do início do Séc. XX.

U vi strella

Che scuitá strella, né meia strella!
Vucê stá maluco! e o io ti diró intanto,
Chi p'ra iscuitalas moltas vezes livanto,
I vô dá una spiada na gianella.

I passo as notte acunversáno c'oella,
Inguanto che as otra lá d'un canto
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto
Naçe. Oglio p'ru çéu: - Cadê strella!?

Direis intó: - O' migno inlustre amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá contigo?

E io ti diró: - Studi p'ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
E' capaiz di intendê istas strella.

Juó Bananére, La Divina Increnca. São Paulo, Ed. 34, 2001, p. 25.

Na contramão de Bilac, Bananére chuta o pau da barraca e admite não escutar estrela nenhuma, não escondendo, portanto, sua frustração. Na ignorância de quem pouco sabe, Bananére é, no mínimo, mais honesto. E ensina: ao invés de esconder, a saída é estudar para entender.

P.S.= Meus agradecimentos ao meu cumpadre Washington (que não é o do Tchan) pelo excelente presente de ano novo!

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