UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Consenso sem Washington

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Consenso sem Washington

Interessantes e complementares essas duas notícias que foram publicadas, respectivamente, nos jornais O Globo online e Folha online de hoje. Interessantes porque elas são contra-intuittivas, isto é, servem de contraponto à visão de que normalmente se faz do poderio do capital privado em um mundo cada vez mais globalizado. Complementares porque elas expressam pontos de vista que normalmente são negligenciados na maior parte da cobertura econômica.

A primeira notícia replica matéria da revista "The Economist", segundo a qual "governos são as instituições que mais empregam no mundo", uma vez que "dos dez maiores empregadores globais, sete são governos" (http://oglobo.globo.com/economia/boachance/mat/2011/09/13/dos-10-maiores-empregadores-globais-sete-sao-governos-925346348.asp).

Segundo a notícia do O Globo, dentre os maiores empregadores globais, estão, em ordem decrescente do número de empregados: Departamento de Defesa dos Estados Unidos (3,2 milhões), Forças Armadas da China (2,3 milhões) e o Serviço Nacional de Saúde da Grã-Bretanha (1,4 milhão). Dentre os maiores empregadores privados - como era de se imaginar - estão o Walmart (2,1 milhões) e McDonalds (1,7 milhão).

A segunda notícia divulga dados sobre o contingente de funcionários públicos no Brasil de 1991 a 2010 e que foram levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). A notícia informa que "o número de funcionários públicos concursados hoje é semelhante ao do começo dos anos 90" (http://classificados.folha.uol.com.br/empregos/974213-numero-de-funcionarios-publicos-e-igual-ao-dos-anos-90-diz-ipea.shtml).

Na contramão da tendência global, e contrariando todas as acusões de inchaço da máquina estatal, o governo federal parece ter parado no tempo: é que, "embora tenha havido muitas contratações, os contingentes [de novos contratados] foram suficientes apenas para repor o patamar de servidores públicos que existiam em 92, 93". E mais: o estudo revela que a porcentagem de trabalhadores ocupados no setor público no Brasil passou de 27,8% (de 2003 a 2010) para 23,7% (2010), uma consequência das expansão das contratações do zsetor privado.

Bem, algum neoliberal de plantão há de lembrar que a redução dos gastos públicos está na cartilha do Consenso de Washington justamente porque os gastos com funcionalismo ainda são altos - o que só vem a confirmar os dados da primeira notícia e a necessidade de manter a tendência apontada na segunda. Lembremos, no entanto, que os direitos sociais adquiridos por esta parcela - salários, estabilidade, plano de carreira - são cruciais nesses momentos de crise, com fechamentos de fábricas e demissões em massa.

Levando-se em consideração que a população brasileira era, em 1991, de 147,4 milhões de habitantes, e que, em 2010, ela chegava a 192 milhões, o contingente do funcionalismo público no Brasil não parece estar nada estacionário: há fortes suspeitas de que ele esteja mais é aquém do contingente populacional.

Enfim, com ou sem consenso, a impressão que fica é que os ditames de Washington não conseguiram coibir totalmente a expansão dos setores públicos, já que eles são responsáveis ainda por uma parte significativa da economia mundial. Felizes mesmos com ambas as notícias ficam os donos de cursinhos preparatórios para concurso público aqui no Brasil: o mercado promete!

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