UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Nossos gladiadores no futuro

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Nossos gladiadores no futuro

Tá lá na Folha online: arqueólogos anunciam descoberta de escola de treinamento de gladiadores na Áustria. A escola em questão pertencia à cidade romana de Carnutum, "onde viveram 50 mil pessoas, [há] cerca de 1.700 anos atrás" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/970536-ruinas-de-escola-de-gladiadores-sao-encontradas-na-austria.shtml).

Segundo a instituição responsável pelas escavações - a Roemisch-Germanisches Zentralmuseum - uma escola de gladiadores "era uma mistura de quartel e prisão onde prisioneiros de guerra", em que escravos e criminosos de guerra dividiam espaço. "A escola contém cerca de 40 celas estreitas, que eram usadas como dormitório pelos lutadores; uma área de banho; um local de treino e prédios administrativos".

A escola de gladiadores, que se encontra a apenas 45km de Viena, foi localizada com o auxílio de radares e apresenta bom estado de conservação. No entanto, apesar de sua escavação da cidade ter começado em 1870, apenas 1% do sítio é conhecido pelos arqueólogos.

Daí que o grande barato da arqueologia é a capacidade de reconstruir situações invisíveis a "olho nu", isto é, de conferir um elo interpretativo a artefatos que, na ausência deste elo, não passariam de um amontoados de cacos espalhados pelo chão. Trocando em miúdos, o achado da escola de gladiadores prova que a arqueologia é uma ciência capaz de responder a questões sobre a vida nos mais diferentes ambientes, desde que não existam "testemunhas oculares" de fatos e eventos daquele determinado contexto histórico. Eis, portanto, seu aspecto mais inusitado dela: é preciso que não tenha sobrado ninguém vivo para que ela prospere!

Diante dessas reflexões da profundidade de um bidê, fica aqui a impressão de que os próximos jogos olímpicos no Brasil serão um verdadeiro desafio para a arqueologia do futuro. Primeiro porque, a julgar pelo crescimento de diplomas de engenheiro falsificados no mercado, não há de sobrar grandes coisas dos nossos estádios daqui a 1.700 anos.

Com o sugestivo título de "Falsificação de diplomas de engenharia cresce 100%", matéria do Hoje em Dia online relata que "certificados falsos são vendidos por até R$ 2 mil" e que "o Crea encaminhou 135 casos à Polícia Federal somente este ano" (http://www.hojeemdia.com.br/minas/falsificac-o-de-diplomas-de-engenharia-cresce-100-1.336526). O problema é que com tanto diploma falso no mercado vai faltar engenheiro de verdade. E se a coisa continuar nesse pé, daqui a uns tempos até crianças em idade de alfabetização serão recrutadas às pressas para realizar os cálculos estruturais das obras da Copa. Escutem só o que eu estou dizendo...

Bem, tudo isso porque ainda não toquei em outro problema nevrálgico. Quem achava que o futebol era o esporte mais praticado no país, enganou-se redondamente. É o "atraso" o esporte coletivo mais popular em Pindorama. Apesar disso, alguns prognósticos otimistas ainda teimam em sinalizar uma vantagem para os mineiros: "O Mineirão estará pronto em dezembro de 2012. O Itaquerão, na melhor das hipóteses, apenas um ano depois" (http://www.hojeemdia.com.br/esportes/mineir-o-ganha-presente-de-grego-nos-seus-46-anos-1.336423).

Se continuarmos batendo todos os records mundiais de atraso, nenhum dos dois estádios ficarão prontos antes em 2016 - quando muito para um outro evento qualquer do Padre Marcelo Rossi. Lamento muito, mas o risco de termos a abertura da Copa na várzea da Lagoa da Pampulha não é nada negligenciável. Torçamos então para que a humidade relativa do ar permaneça baixa até lá e dê para aterrar uns campinhos com areia na beira da lagoa. Ou nosso estádio Mineirão também não deixará grandes legados para os arqueólogos do futuro.

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