A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Dormindo e acordando no zoológico
"Esta noite, gostaria que meu sono fosse profundo como a garganta do hipopótamo, mesmo se não for tão longo como o pescoço da girafa. Meus sonhos hão de ser leves como os passos da lebre e, com alguma sorte, coloridos como as escamas da cobra coral. Meu despertar será festivo como o canto das garças, mas sem o quê de obsessivo que tem o riso da hiena. Acordarei com uma fome de leão - como já é de praxe - comerei como um lobo faminto e ainda por cima lamberei os dedos como fazem os ursinhos comendo favos de mel. Não satisfeita com essa bicharada toda, vou tentar dar um tempo para os grilos de sempre e terminar o dia de paz com a vida, tentando ver o lado bom de se viver nesse mundo cão".
domingo, 30 de janeiro de 2011
Guia prático 3
Dando vazão à minha vocação altruísta e generosa, eis aqui alguns conselhos do novíssimo “Guia prático de coisas estúpidas para não se fazer em dia de sol”.
Para quem mora bem longe do mar, dia de sol = dia de cachoeira, certo? Bem, o seu passeio à cachoeira pode virar um "algo mais", caso você decida fazer a você mesmo e a aqueles que te aconpanham a gentileza de perder as chaves do carro NA PRÓPRIA CACHOEIRA. Neste caso, o seu dia de sol deixa de ser um dia de diversão para se tornar um dia de experimentação. Senão, vejamos...
A primeira delas foi testar o seu limite para a exaustação e para a insolação, ao percorrer pelo menos duas vezes o mesmo percurso na trilha que vai do carro estacionado até a cachoeira. Essa mesma trilha, que parecia bela e estimulante no início do passeio, parece ter adquirido algumas dezenas de quilômetros a mais. Nessa altura do campeonato, a água potável, por estar exposta à temperatura ambiente, já virou chá, e seus miolinhos, ovo frito.
Aí, depois de horas nesse percurso extenuante, você entrega a situação para o bom Cristo e percebe que não achou e nem vai achar a tal da chave. Hora de partir para o plano B, qual seja: mudar de área de atuação profissional e começar uma promissora carreira em arrombamentos de carro. Sabe por quê? Porque seu celular, sua carteira com dinheiro, cartões e todos os seus patuás, além do irremediável protetor labial, ficaram todos presos dentro do carro. Mais uma descoberta alarmante desse dia de experimentações: é mega-fácil arrombar um Fiat Strada; aliás, mais fácil do que tirar um doce de uma criança. Aqui vai uma prova de que o dono do carro tem uma promissora carreira como arrombador.
Terceira experimentação do dia: seu celular pode virar telefone fixo em um piscar de olhos! É verdade! É que na localidade onde você escolheu passar seu repousante dia de domingo os celulares quase não pegam. Mas aí você testa seus dons de sobrvivência tentando aprender com os nativos: eles desenvolveram um método infalível para fazer seu celular funcionar: o aparelho deve ficar pendurado em um arame farpado dentro da "extensa" área de cobertura local. Difícil é alcançar o dito-cujo, que só pode funcionar no viva voz. Aí, você descobre que a Era do Rádio era o máximo e que nasceu para ficar de pé com o pescoço esticado para um utensílio que capte sua voz para levá-la até os confins do mundo. Mas se não for até os confins do mundo, até a seguradora do carro também serve.
Bem, arrombado o carro, discado o celular e acionada a seguradora, só nos resta aguardar as três horas de prazo que nos foi dado pela simpática atendente paulista desta mesma seguradora. E eis que entra a quarta e última parte da experimentação: faltando 40 minutos para o fim do prazo de espera, você foi sabiamente aconselhado a ir até o outro boteco do povoado para saber se alguém encontrou a chave do seu carro. Milagre!!!! Alguém, talvez com menos preparo físico e tendo feito menos vezes o percurso entre carro e cachoeira, achou sua chave e a entregou no balcão do tal boteco. Aí, só te resta experimentar... o Nirvana!
Enfim, para fechar esse dia de grandes experimentações e retorno às trilhas e cachoeiras, nada como uma imagem que, por si só, diz mais que mil palavras. E até a próxima.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Depois da tempestade, a trilha!
Para quem anda querendo tomar rumo na vida, talvez seja mesmo a hora de descobrir novas trilhas. Com o espírito em paz e um joelho esquerdo novo em folha, as possibilidades são infinitas... É ou não é?
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Levando gato por lebre
Há dois dias atrás, lia que o canadense Dave Hockey, 57 anos, deixava a esposa em casa para viajar com bonecas infláveis (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/noticias/homem-troca-a-mulher-por-bonecas-inflaveis-1.231620). Hoje li que pesquisadores da Califórnia alertam para os riscos para a saúde envolvidos na crescente prática de se dormir com cães e gatos, já que mais e mais pessoas têm deixado de ter filhos para adotarem animais de estimação (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/01/27/dormir-com-cachorro-ou-gato-na-cama-aumenta-risco-de-doencas-923615661.asp).
No entanto, não é preciso nem sair da região metropolitana de Belo Horizonte para perceber que alguma coisa anda muito errada nas relações humanas e ninguém sequer chamou o corpo de bombeiros.
Veja bem: que aqui no País da Mil e Uma Plásticas já se possa "adquirir" uma cirurgia desta natureza por consórcio, eu já acho um absurdo. Mas substituir a mulher toda pelo solicone, aí já é demais! Mesma coisa para os solitários de plantão: substituir filhos por animaizinhos dóceis não garante nem a continuidade da espécie humana como um todo, nem substitui os cuidados básicos que só um filho zeloso pode ter com os pais no final da vida deles.
Mas como os papéis já andam misturados mesmo, eu proponho uma tática "pé na jaca": cirurgias para deixarem as mulheres peludas como gatos ou cães e filhos de estimação em silicone! Hahahaha! E deixa eu pegar meu ônibus que tá na hora de ir para a yoga.
Até amanhã, quando meu humor voltar (se voltar...).
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Conflito de interesses
Confira aqui um apanhado das notícias mais estarrecedoras:
1) Ibama libera obras da Usina de Belo Monte (o Ibama não deveria zelar pelo meio ambiente? Héin? Héin? Héin?);
2) O presidente do TCU, o senhor Benjamin Zymler, recebeu cerca de 228 mil para dar palestras a órgãos públicos que ele próprio fiscalizava (com certeza, ele dava a palestra e depois avaliava o órgão para ver se seus ensinamentos haviam surtido efeito; detalhe: tudo sem licitação);
3) Maqueiro cai em cima de jogador que ele transportava (o maqueiro bem que podia ter levado o jogador sem precisar de sentar em cima da cara dele);
4) O time de futebol Palmeiras contratou um cachorro para cuidar de um troféu pela singela soma de R$ 3 mil reais, o que gerou ciúmes entre funcionários (como um clube consegue pagar um salário tão alto para um bicho? As “cachorras” do funk carioca já estão crescendo o olho para cima do cãozinho, visto agora como um excelente partido);
5) Lideranças reunidas no Fórum Econômico Mundial de Davos vêem a situação da América Latina com otimismo (eca! Sugiro um banho latino-americano com folhas de arruda);
6) Prefeito de Duartina (interior de SP) morde morador que devia IPTU (Tá tudo errado! Isso era serviço do cachorro que está trabalhando lá no Palmeiras!);
Moral da história: deixai os lobos pastorarem as ovelhas e vereis lobos gordinhos dentro de pouquíssimo tempo!
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
"Breaking all the rules" - Peter Frampton
Com vocês, "Breaking all the rules" sem as imagens do clip original (snif, snif...).
Entre utopias e bombas no banheiro
http://www.youtube.com/watch?v=YsY1TXCza5k
Para quem não viu ou não se lembra, o vídeo clip é uma alegoria da inércia dos líderes mundiais na resolução de conflitos gerados por divisões físicas como o Muro de Berlim. Frampton, herói do clip - uma espécie de mensageiro da paz cabeludo e transgressor - desdenha da burocracia e dos esquemas de segurança nacionais. Fiquei rindo da singeleza com que as resoluções políticas de alto escalão eram vistas naquele contexto: como se um cochicho ao pé do ouvido fosse trazer a lucidez dos decisores de volta.
Bem, se cantar “breaking all the rules” diante das câmeras era desafiador nos idos de 1980, hoje, uma risadinha cínica, fora do alcance das câmeras, já dá pro gasto. É que existem transgressões com ‘t’ maiúsculo e minúsculo. Hoje de manhã, também fiquei rindo, admirada, ao ver a falta do que fazer da criatura que colocou uma falsa bomba no banheiro do Aeroporto de Confins (http://www.hojeemdia.com.br/cmlink/hoje-em-dia/minas/ameaca-de-bomba-revela-falta-de-seguranca-em-confins-1.231572). É claro que a pegadinha de mau gosto surtiu lá seu efeito positivo, já que a falsa bomba levou o Sindicato dos Aeroviários a questionar a eficiência do esquema de segurança de Confins: nenhuma câmera teria sido capaz de flagrar o transgressor.
Mas em termos de mobilização crítica, o mínimo que posso dizer é que faltou charme e utopia ao último episódio. Entre a utopia de um herói cabeludo fazendo as vezes de “diplomata” e essa delinquência caipira de pequenas proporções, claro, nem precisa perguntar: fico com o primeiro. Melhor para mim que, como não deixei de rir nem de um caso nem do outro, acabei o dia me achando ainda mais boba alegre.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Boa noite, dona Dúvida!
domingo, 23 de janeiro de 2011
Fim de semana
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Solidariedades eletivas
Parece que os suíços de ultramar se condoeram com a sorte de alguns de seus descentes que chegaram à região serrana do Rio por volta de 1850. Por esse motivo, a prefeitura e o cantão da suíça Fribourg estão enviando 130 mil francos suíços para remediar os estragos causados pela chuva (http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/21/redes-de-solidariedade-pelas-vitimas-unem-ate-os-dois-lados-do-atlantico-923577306.asp).
Bem, e se Nova Friburgo se chamasse Nova Guarani? Quem mandaria donativos? A FUNAI? Os Ianomâmis? Caiapós, Krenaks ou Timbiras?
Moral da história: em períodos de cataclismas e desastres naturais, mais vale lembrar um antepassado rico do que um antepassado pobre.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Luz no fim do túnel
Este vídeo é dedicado a você, caro leitor, que - exatamente como eu - anda buscando uma luz no fim do túnel!
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Lua cheia
Na lua cheia, fico indomável, irascível, voraz, audaciosa e inconseqüente. E ai de quem atravessar meu caminho! Dou um salto por cima e continuo, tranqüila da vida, meu mergulho no nada.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Rebu no palácio
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Desastres naturais
A notícia causou furor nos jornais de hoje: "governo vai levar quatro anos para implantar sistema de alerta de desastres naturais" (http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/17/governo-federal-vai-implantar-sistema-de-alerta-prevencao-de-desastres-naturais-923519418.asp).
Já as musas do País das Mil e Uma Plásticas perguntam: até lá, como conter as rugas e a queda de glúteos, mamas e outros deslizamentos morro abaixo?
Musas, não temam: enquanto o governo mapeia as áreas de risco, as Forças Armadas ocuparão as áreas mais isoladas.
É o que dizem os especialistas, juro procês.
domingo, 16 de janeiro de 2011
Guia prático 2
O Serviço de Meteorologia – aquele mesmo que você tem que fingir que não acredita para dar certo – anunciou outro fim de semana chuvoso. Nessa altura do campeonato, você já abdicou da cachoeira, do acampamento, do boteco ao ar livre e já viu todos os filmes que considera aceitáveis e que estão em cartaz no circuito de cinema. O tédio arromba as portas dos fundos da sua alma para se instalar na sua sala de estar, com os pés em cima do sofá. O que fazer?
Como as opções de lazer andam restritas, você decide dormir até mais tarde no domingo. No entanto, um temporal de dimensões apocalípticas te acorda mais cedo, fazendo tanto barulho que você desiste de dormir. O jeito então é levantar para tomar um café... Mas é aí que entra a sabedoria da Lição 2 do nosso "Guia prático de coisas estúpidas para não se fazer em dia de chuva".
Lição 2: nunca conte com as redes em dia de chuva
Refiro-me aqui a qualquer tipo de rede, desde a rede elétrica, até a rede de amigos, passando pelas redes sociais. É que o temporal que te acordou deixou seqüelas nas redes: nada funciona. Sabe seu fogão? Pois é, para acendê-lo você pressionava apenas um botão e eis que a chama aparecia. Só que sem energia elétrica ele não funciona; e só então é que você percebe que nem tem fósforo, nem isqueiro em casa.
Numa tentativa desesperada de salvar seu humor com um café bem quente, você ganha a rua em busca do supermercado mais próximo. Mas também não dá certo, porque você não tem dinheiro trocado e a rede de cartões de crédito está fora do ar, outra seqüela do temporal que caiu nessa manhã.
Você volta para casa derrotado, lembrando que ainda tem amigos e que, com alguma sorte, poderia filar o café na casa de um deles. Mas a sorte não colabora: a bateria do seu celular acaba de pifar.
Também nem dá para recorrer ao Facebook e congêneres para reclamar seu merecido café: sem energia elétrica, nada de Internet, nem redes sociais!
Bem, já viu que não dá para contar com as redes em dia de chuva. As soluções para casos assim são um tanto simples, ainda que conservadoras: 1) providencie um fogão à lenha para a sua cozinha; 2) guarde dinheiro debaixo do colchão; 3) entre em contato com os amigos tocando tambor ou fazendo sinais de fumaça; 4) arrume um celular e um computador movidos a corda.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Guia prático
Você está em casa, entediado, sem saber o que fazer? Que tal então começar por saber o que não fazer? Aqui vai a primeira lição prática do que jamais fazer em dias de chuva, alagamento, deslizamento de terra, quedas de barreira e trombas d’água.
Lição No. 1: Não acampe em dia de chuva!
Que trouxa que você é! Pois bem, este é o primeiro erro estúpido de quem quer acampar a todo custo. Em primeiro lugar, Santa Bárbara é uma santa muito atarefada e pode não ter te escutado. Em segundo lugar, serviço de meteorologia serve para enganar trouxa. Isso mesmo! Quando ele diz que vai chover, um trouxa vai lá e duvida, e é justamente aí que ele acerta. Mas se nenhum trouxa duvidar, ele erra. É sempre assim. A solução é aprender a desconfiar no serviço de meteorologia, acreditando nele quando ele diz que vai chover. Pelo menos assim, um esperto sai ganhando com um fim de semana de sol, enquanto o trouxa que acreditou que ia chover presta serviço à Humanidade. Isso se chama solidariedade, meu(minha) caro(a) leitor(a).
Segue abaixo, um exemplo iconográfico de uma barraca de um trouxa acampando em dia de chuva.
Bem, só pode existir um erro mais grave que confiar na sua reza e desconfiar das previsões de chuva: sair para fazer uma trilha de 14km, acreditando que a chuva vai parar no meio do percurso. Para este tipo de engano, prezado(a) leitor(a), só há uma cura: lobotomia!
Segue abaixo um exemplo de uma candidata a lobotomia:
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Morosidade na sinapse nervosa
Se ontem eu estava toda serelepe falando de alongamento de ideias e ginásticas cerebrais, hoje devo confessar que acordei com a nítida impressão de que meu raciocínio foi passar no mata-burro e acabou enganchando o pé. Corri para cima e para baixo o dia todo e ainda assim estou com a sensação de não ter saído do lugar. Não falo de um lugar físico específico, falo de um lugar existencial. O corpo pode até saltitar como uma lebre, mas é a cabeça que parece derrapar na pista e sair pelo acostamento. Aonde era mesmo que eu estava indo? Nem me lembro: o pé do meu raciocínio continua preso lá no mata-burro. Ou então ele ficou parado no acostamento, esperando uma carona passar.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Alongamentos e outras ginásticas cerebrais
Dizem que os ossos doem quando crescemos. Bem, do auge dos meus 35 anos e com reles 1m57cm, posso dizer com muita segurança que a minha experiência de crescimento físico, além de ter dado completamente com os burros n’água, já vai longe no tempo.
Assim sendo, uma primeira saída contra as mazelas do nanismo foi procurar refúgio em um consolo besta, dizendo aos meus irmãos - mais velhos e maiores do que eu - que o que não foi para os ossos, foi para o cérebro. Eu avisei que o consolo era besta, não avisei?...
Mais afeita à sina de cabeçuda do que à de anã de circo – e já sem saco para as alcunhas de “pintora de rodapé” e “surfista de microondas” – busquei outras duas estratégias de sobrevivência nesse mundo-cão: alongamento mental e auto-depreciação (em francês, auto-dérision; e em inglês, self-deprecating).
O alongamento mental funciona assim: se você tem uma ideia boa, estique-a até distorcê-la, deformá-la e torná-la ainda melhor. Não recomendo o procedimento para os músculos, porque pode doer muito, mas é um ótimo exercício mental.
Quanto à auto-depreciação, esta só funciona com um ingrediente fundamental: o humor. Porque auto-depreciação sem humor vira flagelo. E não tem coisa pior nesse mundo do que levar a sério as besteiras que a gente mesmo inventa. Pior, você pode até convencer alguns incautos da veracidade do seu delírio poético e torná-lo um dogma. Sim, meus caros, muitas contas bancárias foram engordadas assim. Mas como não tenho muita vocação messiânica – graças ao meu ceticismo veemente que me levou a desacreditar em Papai Noel precocemente, aos cinco anos de idade – prefiro alongar minhas idéias, rindo das minhas deformidades intelectuais para torná-las ainda mais engraçadas.
Aqui vão alguns exemplos: nada mais patético do que trocar nomes, certo? Pois bem. Quando me mudei para Montreal em 2003, meu domínio da língua francesa era bastante limitado. Não obstante, meu cabeção de dimensões desproporcionais à minha estatura me levava a insistir na aventura de aprender uma outra língua e a alongar meus músculos da aparelho fonador (que em mim reagem muito bem aos estímulos da mente divagadora): comprava, comia e bebia tudo em francês, apesar de, naquele tempo, lidar de maneira muito mais comfortável com a língua inglesa. Foi assim que, tempos depois, descobri que durante os quatro meses consecutivos que passei freqüentando o mesmo café, pedia “sofá de espinafre” (fauteuil aux épinards) ao invés de “folhado de espinafre” (feuilleté aux épinards). Outra vez, passei a noite inteira oferecendo muito “bouchon” (rolha) no lugar da “bouchée” (canapé ou qualquer miudeza do gênero) em uma festa de aniversário. Também já disse que amava as “alemãs” (allemandes), quando queria, na verdade, dizer que apreciava muito as “amêndoas” (amandes em francês ou almonds em inglês).
Enfim, a lista é longa e não me acabe aqui esgotá-la. Mas coleciono essas pérolas como quem coleciona figurinhas premiadas. E nas horas de tristeza ou melancolia, faço yoga com elas, rindo de mim mesma.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Parutions prometteuses
Bonsoir tout le monde! Ce soir, nous avons une invitée très spéciale parmi nous. Nous allons parler avec madame Année 2011, elle qui vient tout juste de paraître son nouveau calendrier.
Intervieweur : Mme 2011, c'est un vrai plaisir de vous avoir ici ce soir! Comment allez-vous?
Mme 2011 : Bien… Moi, je viens de commencer. Pas grand-chose à raconter. Pas encore, en tout cas.
Intervieweur : Oui, d’accord. Parlez-moi donc de votre nouvelle parution, le Calendrier 2011.
Mme 2011 : Voilà, c’est un beau calendrier de 365 jours, 12 mois, 52 semaines, avec des belles couleurs, traduit vers plus de 2.500 langues. Et vous le remplissez avec ce que vous voulez : des aventures, un changement de boulot, des voyages, un nouvel amour; il y aura forcément de trucs à quoi vous n’avez pas songé, mais bon… ça vient tout ensemble dans le même paquet.
Intervieweur : Pardon Mme 2011, mais je ne vous suis pas. De quel genre de choses parlez-vous au juste?
Mme 2011 : Bah, une année c’est un paquet de trucs bizarres, un gros mélange de désirs, souhaits et attentes, mais aussi des événements que nous ne pouvons pas prévoir, ni contrôler. Bref, il peut vous arriver aussi d’autres choses moins agréables, comme la mort, la maladie, les catastrophes naturelles. Mais vous pouvez quand même choisir les couleurs de vos jours. On vous donne ce choix.
Intervieweur : Je vois, je vois. Est-ce que cela change la donne, avoir le choix de modifier les couleurs de vos jours?
Mme 2011 : Si, si. Vous pouvez voir la vie en rose, par exemple. Avec ou sans Édith Piaff, peu importe.
Intervieweur : D’accord, d’accord. Mme 2011, vous venez d’une famille nombreuse d’années, avec beaucoup d’expérience sur le marché éditorial. Votre sœur aînée, Mme Année 2010, a connu beaucoup de critiques à l’égard de son rythme narratif et surtout de son style, disons, très corsé. Qu’en pensez-vous?
Mme 2011 : Écoutez : même si je viens tout juste de commencer, je ne dois rien à mes ancêtres. Vous savez, ce n’est pas facile de couper le cordon ombilical, mais il le faut. Je ne veux surtout pas de la continuité. Je veux innover sur le marché des calendriers, tout en vous offrant la possibilité de choix de vos couleurs pour chaque jour.
Intervieweur : Avec ou sans Édith Piaff…
Mme 2011 : Voilà, vous avez tout compris. Avec ou sans Édith Piaff, on peut voir la vie en rose, en gris, en vert, en ce que vous voulez. C’est à vous de choisir.
Intervieweur : D’accord, Mme 2011.À part votre nouvelle parution, le calendrier 2011, quels sont vos plans pour l’avenir?
Mme 2011 : Je pense publier mon journal intime d’ici 12 mois à peu près.
Intervieweur : Ah oui? Comptez-vous faire beaucoup de succès avec ça?
Mme 2011 : monsieur Intervieweur : peu importe le nombre d’années qui viennent ici à chaque cycle de 12 mois. Les années peuvent être nombreuses, mais la vie, ce n’est qu’une. C’est à vous de donner du sens à la défilée d’années. Moi, je me contente de faire de mon journal intime un bestseller. Voilà, c’est tout!
***
Messieurs, dames, nous sommes devant une nouvelle année, Mme Année 2011, et elle est devant moi. Elle me regarde d’un œil et a l’air de me mépriser. Autant de questions peuvent agacer une diva, c’est sûr. Mais quoi qu'il en soit, l’Année qui commence s’annonce… une véritable énigme!
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Máximos e mínimos
Enquanto isso, na Sala de Justiça, o governo discute o valor do novo salário mínimo. O Ministro do Trabalho quer mais, o Ministro da Fazenda quer menos. Hihihihi... É que na Fazenda brasileira já rolou muito trabalho escravo... Piadinha infame, mas com respaldo histórico. Quem vive de salário mínimo nesse país conhece a desvalorização do trabalho físico. E quem já foi professor, conhece a desvalorização do trabalho intelectual. Mas, afinal, quem ganha bem nesse país?
Jogador de futebol! Mas só alguns deles, como o Ronaldinho Gaúcho. Eu acho que o dito-cujo tem mais é que dar seu mínimo para a galera (que já deve ser muito mais alto do que o máximo da maioria dos cidadãos desse país), fazendo com ele uma bela frangada com farofa. E que não se esqueça de chamar o Mantega para untar a travessa. E tenho dito!
P.S.= Razão do mal-humor: está chovendo de novo!
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Solzão
domingo, 9 de janeiro de 2011
Solzinho
sábado, 8 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Entre uma torre e outra
Numa uma janela do navegador, fazia uma pesquisa sobre a iconografia de uma carta de Tarô chamada "A torre Fulminada".
Em outra janela, paralelamente, dou de cara com a notícia:
"Queda de torre de energia mata dois em Betim" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/856418-queda-de-torre-de-energia-mata-dois-em-betim-mg.shtml).
Serendipidade?
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
Pérolas do dia
Diálogo ensolarado:
"- Mas vc realmente tem necessidade disso?"
"- Ah, eu gosto da ideia" (deu para notar o tamanho da empolgação da figura...)
Vislumbre de lucidez:
"Tem gente que já nasce com o pé no barranco" (o que isso quer dizer, eu não sei; mas me pareceu muito lúcido).
Definição sintomática daquilo que não foi e que poderia ter sido:
"Sabe aquele cara que tem tudo para ser legal, mas que parou no meio do caminho e acabou esquecendo?" (Sei, o inferno tá cheinho desses).
Incompatibilidade de gênios:
"Não dá para procurar sorvete em um açougue" (É, não dá. Nem numa peixaria).
O ápice da profundidade:
"O mundo é pequeno deeeemaaaais!" (Nossa, que bom que me avisaram!)
Moral da história: o que seria de mim, nesse belo dia de sol, sem a doce presença dos meus amigos? Vixe, não quero nem pensar...
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Contras as vicissitudes da ocultação, Juó Bananére!
Já que estamos falando de sumiço, aqui na terra das Minas e das Gerais, vem de longa data a expressão "esconder o ouro". É verdade que o hábito endêmico de sonegar impostos e jamais dar a real dimensão das riquezas possuídas é justificado pelas nossas raízes históricas de resistência ao jugo colonial. Mas raízes históricas viram um álibi interessante, fazendo muitas vezes o desvio de conduta ganhar ares determinação positivista.
Mas não é só aqui nas Alterosas que as pessoas escondem as coisas. Uma amiga baiana me contou uma vez que lá na terra dela, estado com a maior população negra do país, a expressão "esconder a avó" era aplicada em situações em que o semblante mestiço não negava a origem da cor. Ou seja, quando alguém dizia, "essa aí esconde a avó", insinuava-se que a pessoa em questão tinha antecedentes raciais - negro na maior parte dos casos - que seriam supostamente pouco meritórios da visibilidade pública. Numa sociedade racista como a nossa, padrões estéticos e comportamentais dominantes criam desconforto em quem neles não se encaixa. Esconder é, portanto, uma estratégia de quem opta por negar uma qualidade ou um pertencimento. Mas nem tudo pode ser escondido. Ou pode?
Tem gente que acha que sim. Algumas pessoas, por exemplo, teimam em esconder o que têm de melhor, com medo de ter de distribuir ou compartilhar sua riqueza. Outros sentem vergonha em ter ou ser justamente aquilo que não é valorizado, preferindo esconder ou camuflar o objeto da desvalorização.
Entre uma loucura ou outra, prefiro a paródia do Juó Bananére. Pseudônimo usado por Alexandre Ribeiro Marcondes Machado, Bananére tripudia dos versos de Olavo Bilac - "Ora (direis), ouvir estrelas! Certo, Perdeste o senso!" - numa língua inventada, uma espécie de italiano macarrônico que imitava o sotaque típico dos bairros imigrantes de São Paulo do início do Séc. XX.
U vi strella
Che scuitá strella, né meia strella!
Vucê stá maluco! e o io ti diró intanto,
Chi p'ra iscuitalas moltas vezes livanto,
I vô dá una spiada na gianella.
I passo as notte acunversáno c'oella,
Inguanto che as otra lá d'un canto
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto
Naçe. Oglio p'ru çéu: - Cadê strella!?
Direis intó: - O' migno inlustre amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá contigo?
E io ti diró: - Studi p'ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
E' capaiz di intendê istas strella.
Juó Bananére, La Divina Increnca. São Paulo, Ed. 34, 2001, p. 25.
Na contramão de Bilac, Bananére chuta o pau da barraca e admite não escutar estrela nenhuma, não escondendo, portanto, sua frustração. Na ignorância de quem pouco sabe, Bananére é, no mínimo, mais honesto. E ensina: ao invés de esconder, a saída é estudar para entender.
P.S.= Meus agradecimentos ao meu cumpadre Washington (que não é o do Tchan) pelo excelente presente de ano novo!
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
No porta-malas do seu carro
Aliás, o que faria vc se abrisse o porta-malas e desse de cara o Robert Plant em posição fetal? Ou com uma mala cheia de dinheiro vivo? Um bicho morto numa mala velha? Um pacote de pilhas alcalinas, latas de querozene, revistas velhas para reciclar? Boias de patinho, um pé de sapato alheio? Roupas velhas, um candelabro, vários saquinhos de naftalina? Um espatilho usado pela Maria Callas em Carmen, um par de ingressos para o próximo show do Iron Maiden no Brasil, 3 discos de vinil do Pixinguinha? Uma barraca de camping, 2 lanternas e um vidrinho de repelente com cheiro de citronela? Álbuns de fotografia, tubinhos de plástico para colocar filmes de 35mm, um tripé para máquina fotográfica manual? Um guarda-sol furado, uma canga nova e dois frascos de sundown 30? Um guia do Routard de cinco anos antes, dois vales-transporte de BH com validade vencida, um mapa da Estrada Real?
Quanto coisa inusitada cabe em um porta-malas? Quanto susto comporta um coração de atleta? E quanta vontade de viajar consegue deslizar sobre quatro rodas?
Ai, ai. Acho que tá chegando a hora de comprar um fusca...
Enquanto o fusca não vem, o jeito é sonhar: Over the Hills and Far Away!
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Tigres, raposas e outros fósseis
Na África, as tais espécies de tigres dente de sabre já existiam há pelo menos 7 milhões de anos e só foram se tornar "novidade" aos olhos inquisidores dos palenontólogos do presente. No Brasil, a mesmice política passeava solta na posse, mas ninguém notou, nem falou nada: as raposas velhas já fazem parte da decoração fossilizada do cenário político brasileiro.
Na África, a "descoberta" dos cientistas em nada alterou o destino das espécies recém-descobertas: ambas sucumbiram aos seus predadores naturais, tais como o hominídeo Toumai. No Brasil, as raposas fossilizadas são uma praga: não há nada que coloque em risco sua existência política! O Sr. Michel Temer, por exemplo, saiu ileso das acusações de favorecimento da Construtora Camargo Correa. Temer também foi citado pelo go go boy político Alcyr Collaço (aquele do Mensalão do DEM que levava dinheiro na cueca), mas nem por isso perdeu o rebolado. O Sr. Sarney então, nem se fala. Apesar da cabidagem política deslavada que levava seus parentes e afins aos cargos públicos mais próximos (cabidagem esta que favoreceu até o namorado da neta do homem), Sarney permanece o grande artífice da sobrevivência política em tempos de escândalos mediáticos. Pior: além de fóssil, quis transformar o Brasil em um sítio arqueológico, ressuscitando o princípio da arcana imperii ao distribuir seus "atos secretos" pelo senado afora.
Na África, paleontólogos olham para os vestígios encontrados na tentativa de reconstituir um passado distante. No Brasil, nos perguntamos até quando os fósseis circularão entre os vivos em um futuro próximo.
P.S. = Se fosse o Cruzeiro Esporte Clube, processava oPMDB por atentado à honra de sua mascote.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Sobre o Juvenal e a ironia machadiana
O primeiro dispensa comentários, mas o segundo merece algumas considerações introdutórias. Juvenal era o nome do anel que usei durante cabalísticos 6 anos e 6 meses. Ele era, na verdade, uma réplica do símbolo dos Hells Angels e tinha sido presenteado por uma amiga que morou de intercâmbio nos EUA, salvo engano, no ano de 1989. Em pouco tempo, Juvenal ganhou uma notoriedade impressionante: largo demais para mim, ele teimava em voar do meu dedo e cair em lugares inusitados. Chegou mesmo a tumultuar um certo episódio da Copa do Mundo de 1990, quando desapareceu no meio de um jogo e só foi achado horas mais tarde, mergulhado em um copo de cuba libre. Naquela época, o Juvenal era visto em toda sorte de eventos (casamentos, batizados, bailes de formatura, festinhas de colégio e faculdade) que eu frequentava. Acreditem, era tão popular que até a minha avó materna sabia o seu nome. Juvenal partiu pelo mesmo motivo que fez dele (e de mim, subsidiariamente) uma figura popular: vôou do meu dedo sem que eu me desse conta e nunca mais foi encontrado. Partiu deixando saudades de um tempo gostoso, com ares de provocação. Rebeldia de adolescente. Um brinde ao Juvenal!
Ah, eu hoje fui acordando e logo me dando conta de que tem um filme passando no circuito comercial de cinema, cujo título em português é "Crônicas de Narnia" (do original "The Chronicles of Narnia"). Êta coincidência infeliz: este blog nada tem a ver com mitologia! Aqui, fadas, leões e feiticeiras são como vampiros - só entram quando convidados - e, assim mesmo, como personagens secundários.