UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Com sorte no consórcio

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Com sorte no consórcio

"A que ponto chegamos?", eis a minha conclusão ao dar uma olhada hoje de manhã na Folha online (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/988118-consorcios-crescem-e-atraem-ate-igrejas.shtml).

Juro que tive arrepios na coluna vertebral, destes de entortar a cervical e tirar a lombar do eixo. Meus amigos, agora eles estão fazendo consórcio de tudo, tudo MESMO! "De fazendas a igrejas, de próteses dentárias a silicone, quase tudo pode ser encaixado em um consórcio", anuncia a matéria. Querem dados empíricos do crescimento deste segmento de negócios? Então lá vai: "A venda de consórcios no país, que cresceu à taxa de 37% em volume liberado negociado no acumulado do ano até agosto, não deixa nada de fora. Ou pouca coisa".

A explicação para o surto de consumo a prazo (e sabe-se lá que prazo!) está estreitamente ligada ao público-alvo visado: "A menor burocracia estimula a formação de grupos focados em públicos específicos, com menos acesso a linhas de crédito".

Surfando na crista desta onda, estão as igrejas evangélicas - sem dúvida, as mais inventivas na segmentação dos serviços oferecidos. Empresas de consórcios como a FBJ Representações estão apostando neste segmento em eventos de grande porte como a Expocristã 2011, que oferece produtos e serviços voltados para o público cristão. Aliás, a FBJ faz mais do que isto: segundo a matéria da Folha, ela "vai até as igrejas para explicar aos fiéis como funciona o consórcio": "A ideia é que o pastor ou a igreja que está alugando um templo possa ter recursos para construir sua própria sede", explica a matéria, citando depoimento do proprietário da empresa, o Sr. Delmar Borges. Claro, a entrada deste segmento religioso específico no mercado é importante, mas não explica tudo.

Uma possível explicação para a adesão aos consórcios - não só de produtos, como também de serviços tais como cirurgias plásticas, festas de casamento ou viagens - pode ter a ver com o perfil de consumo da nova classe C do país. Segundo aponta esta matéria publicada ontem no jornal Hoje em Dia online, "a nova classe média já gasta mais com serviços do que com bens de consumo, revela estudo do instituto Data Popular. De cada R$ 100 desembolsados hoje, R$ 65,20 são com serviços e R$ 34,80 com produtos. Há nove anos, as proporções entre gastos com serviços e bens de consumo estavam equilibradas. Eram de 49,5% e 50,5%, respectivamente".

E se levarmos em conta que a Classe C representa, hoje, 54% da população do país, então podemos ter uma ideia clara da potência do novo perfil que se delineia: uma classe emergente que começa a deixar de se interessar estritamente com produtos para se aproximar do padrão de consumo das classes mais altas, cujo principal foco são os serviços.

Enfim, qualquer que seja a real motivação dos consumidores deste novo filão, uma coisa é certa: a oferta tende a se diversificar cada vez mais. É ainda a matéria da Folha, citada no início deste comentário, que fornece dados adicionais sobre a versatilidade crescente da oferta do setor. Citando o presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio (ABAC), o Sr. Paulo Rossi, a matéria explica, por exemplo, que " 'você pode comprar um consórcio para o casamento para, por exemplo, arcar com os custos do vestido da noiva' ".

Bom, até aqui, tudo bem. Mas a grande lição de "flexibilização" do setor aparece em seguida, ainda em depoimento atribuído ao próprio Rossi: " 'Se, por algum motivo, o casamento não der certo, o dinheiro pode ser usado para viajar e esquecer da tragédia amorosa' ".

Maravilha! Então tem constrangimento algum! É satisfação garantida ou seu dinheiro de volta, nem que seja sob a forma de outro serviço. E dá-lhe consórcio, prestação e espera.

Quem sabe, com sorte, você não arruma um consorte no consórcio?

Nenhum comentário:

Postar um comentário