UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Desaldeados

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Desaldeados

No assim chamado "Dia do Índio", uma rápida atualização em algumas das nossas noções básicas de demografia brasileira.

Para quem acreditava que os povos nativos deste país ainda vivem distantes dos grandes centros urbanos, uma surpresa: os dados do censo do IBGE realizado em 2010 revelam que eles estão "presentes em 80,5% dos municípios brasileiros", apesar de "uma pequena queda da população indígena na área urbana, que pela primeira vez foi superada pela rural" (http://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/1077960-indios-ja-estao-presentes-em-805-dos-municipios-brasileiros-diz-ibge.shtml).

"Com uma população total de 817.963 mil, o número de índios em áreas rurais do país chefa a 502.783, enquanto nas zonas urbanas, o número é de 315.180". Isto significa que, "considerando o número de índios residentes em áreas não isoladas do país", a maior parte dos indígenas viviam, até bem recentemente, nas áreas urbanas do país. E mais: "entre as capitas brasileiras, São Paulo foi a única a apresentar, no Censo 2010, um número superior a 10 mil": foram 11.918 pessoas a se autodeclararem indígenas.

Como nosso método de aferição de pertencimento de cor e raça está calcado na autodeclaração, seguindo orientações da ONU, a presença de expressiva parte da população indígena nas regiões urbanas delimita um perfil pouco conhecido do grande público: a figura do desaldeado, como aquele que se identifica cultural e fenotipicamente com este extrato da população, sem contudo manter o modo de vida de seus antepassados.

Seria pretensiosamente reducionista encarar esses desaldeados como meros "desvios" do ideal do bom selvagem - ou do "mau selvagem", dependendo do livro de história consultado (como, por exemplo, o História Geral do Brasil, de Francisco Adolfo de Varnhagen, conhecido como o "Heródoto brasileiro" e considerado pai da historiografia nacional). A questão da aculturação, conquanto seja um problema real, não pode ser colocado sob o viés de um falso dilema entre regiões urbanas e regiões rurais.

A questão é: existe uma parte importante do contingente indígena deste país que continua vivendo nas cidades, sem com isso romperem totalmente o vínculo identitário com seus povos de origem, já que continuam se considerando (e muito provavelmente são também considerados por terceiros) como indígenas.

Esta constatação nos leva a uma série de questões subsidiárias: o que fazem? Como sobrevivem? Por onde andam? E como são acolhidos pelos não-indígenas nos nossos centros urbanos em pleno Séc. XXI? Certamente, ainda pouco se diz ou se sabe sobre o dia-a-dia dessa nossa ilustríssima minoria "minoritária" - a minoria dentro da minoria - que não vive nem lá, nem cá, preferindo ser o que simplesmente são: uma faceta viva da complexidade cultural desse nosso país.

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