Dentre todas as teorias catastróficas sobre o fim do mundo, esta é, sem dúvida, aquela com mais chances de se auto-realizar.
No seminário Diálogos Sociais: Rumo à Rio + 20, "o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou nesta quinta-feira que o mundo se acabaria, caso todos passassem a consumir bens e produtos da mesma forma que os ricos o fazem" (http://oglobo.globo.com/rio20/o-mundo-se-acabaria-rapidamente-se-fosse-universalizado-padrao-de-consumo-das-elites-diz-ministro-4743842#ixzz1tCgUGUxr).
De acordo com depoimento atribuído ao próprio Carvalho em matéria publicada no jornal O Globo online, "os muito ricos, tanto na sociedade brasileira, como no mundo todo, não praticam desenvolvimento sustentável, uma vez que o excesso de consumismo é inviável. O mundo se acabaria rapidamente se fosse universalizado o padrão de consumo das elites e cá entre nós, o nosso, muitas vezes".
Aliás, a "teoria do fim de mundo pelas vias do consumo" não deixa de comportar um certo teor de fatalismo, pois sabemos muito bem o quanto são magras as chances de "as elites" deixarem de: 1) consumir o que consomem; 2) ser um espelho valorativo para o resto da sociedade. A menos que...
A menos que se atente também para a insustentabilidade do padrão de consumo da classes emergentes, antes mesmo que elas se transformem em "elites" de consumo. Documento apontando "45 curiosidades sobre a nova classe média brasileira", disponível no site do Seminário de Políticas Públicas para a Nova Classe Média Brasileira, revela algumas tendências de consumo desta parcela que representa 50,5% da população do país (http://www.sae.gov.br/novaclassemedia/?page_id=58).
O documento aponta que "a nova classe média não deseja o estilo de vida das elites e prefere produtos que valorizam a sua origem". "Ufa!", diariam alguns. "O Brasil está salvo do fim do mundo".
"Nem tanto", diriam outros. "Em vez dos integrantes da classe média tradicional, que apenas almejavam reproduzir o status dos pais, num universo mais ou menos estático, os da 'nova' classe média têm a ambição de 'subir na vida', viver melhor, consumir mais e, portanto, aprender e se qualificar a fim de gerar a renda consentânea com essa forma de viver".
Ora, esta é apenas uma forma poética de dizer que a Nova Classe Média é mais voraz em termos de seu projeto de expansão dos padrões de consumo do que a classe média tradicional. Pois se hoje a Nova Classe C não consome - e nem quer consumir - como as elites, isto, porém, não significa que ela não venha a consumir como tal, em um futuro não muito longínquo.
A única esperança contra a possibilidade de um fim do mundo causado pela expansão desastrosa de formas predatórias de consumo reside, mais uma vez, na educação: "Segundo um levantamento da consultoria Data Popular, 68% dos jovens da Classe C estudaram mais que seus pais. Nas classes A e B esse percentual não passa de 10%". Se os padrões de consumo crescem que nem os Gremlins na piscina, há que se considerar o aumento sensível da escolaridade de uma geração para a seguinte possa alterar susbstancialmente este cenário. A menos que...
A menos que a educação formal disponível no mercado de ensino só venha a reforçar o mesmo padrão de consumo das elites atuais. Mas aí estaríamos voltando à estaca zero, com o fim do mundo batendo à porta - só que numa versão sem terremotos, nem tsunamis - mas naufragados numa sociedade totalmente inviável a médio e longo prazo. Nada mal para quem gosta de se "acabar nas compras"...
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
O Armagedon do consumo
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