UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Disseram que eu voltei americanizada...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Disseram que eu voltei americanizada...

Aquela famosa pesquisa sobre os hábitos alimentares dos brasileiros, encabeçada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda está dando o que falar (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/07/nos-e-os-peixes-morremos-pela-boca.html). Que o Brasil seja o País das Mil e Uma Plásticas, isso já é sabido por todo o universo - até pelo ET Bilu. Mas que a obesidade esteja agora associada às populações de áreas carentes, isso é novidade que exige uma atualização urgente dos conceitos que temos acerca de nós mesmos.

Matéria da BBC Brasil replicada pela Folha Online revela que "a obesidade vem aumentando também nas populações mais carentes, sobretudo entre as mulheres" (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/956685-excesso-de-peso-preocupa-mulheres-de-comunidades-carentes.shtml). Os dados são estarrecedores: de acordo com o IBGE, "entre os 20% mais pobres da população, o excesso de peso entre as mulheres adultas pulou de 14,6%, em 1974, para 45%, em 2009". Nos homens, a dinâmica da obesidade é outra e atinge principalmente os homens de classe mais alta: estima-se que o problema do excesso de peso maculino atinja 61,8% dos membros da população mais rica.

O que explica, então, uma discrepância que parece transcender a questão da renda? O diagnóstico apresentado na matéria enumera cada uma das possíveis fontes de atribulações que causam aumento de peso na população feminina de baixa renda: "Más condições de moradia e mobilidade, poucas áreas de lazer, escolaridade baixa e menos dinheiro para comprar alimentos que compõem uma dieta saudável, como frutas e verduras, são alguns dos fatores que levam ao aparente paradoxo da obesidade associada à pobreza".

O dado novo nisto tudo é que a obesidade pode ser solucionada apenas com o aumento da renda das populações mais carentes. É a nutricionista Rosana Magalhães quem vaticina: "Se eu aumento a renda, mas não amplio as possibilidade de reflexão sobre as escolhas alimentares e, enquanto isso, as pessoas continuam com dificuldade de acesso a moradia, a espaços de lazer e a atividades físicas, posso estar aumentando a obesidade e fomentando a obesidade infantil, que está se tornando um problema epidêmico".

Triste sina esta de um Brasil emergente: estamos copiando nossos vizinhos da América do Norte na combinação dos piores quesitos: má-educação alimentar e sedentarismo. Agora, é o aumento da renda que anda de braços dados com a invasão dos alimentos industrializados e de alto teor calórico na mesa das pessoas de baixa renda. Obviamente, com a luta pela sobrevivência limitando o tempo disponível para o lazer, aliada à dificuldade de acesso aos serviços de saúde, à informação nutricional e às atividades físicas, o quadro não poderia ser mais sombrio.

Enfim... Fato é que se Carmen Miranda voltasse ao Brasil hoje, ela teria dificuldades não só de se defender das críticas de americanização, como também de encontrar seu famoso "camarão ensopadinho com chuchu".




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