UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Para todo o mal, a cura!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Para todo o mal, a cura!

Em tempos de pandemias mundiais como a do Influenza A H1N1/09 - que andou rendendo muita cobertura alarmista da parte da imprensa brasileira e mundial nos idos de 2009 - vemos surgir paradoxos intrigantes: ora é a quase total falta de controle de doenças graves e comuns, ora é a busca de métodos modernos os mais insólitos para a cura dos males.

Dentre os métodos mais insólitos, sai ganhando disparado aquele empregado pelos moradores de Rawa Buaya, na ilha de Jacarta (http://f5.folha.uol.com.br/humanos/953242-indonesios-deitam-em-trilhos-de-trem-para-se-curarem-de-doencas.shtml). A terapia, que parece ser aplicada indistintamente a males diversos, consiste em se deitar sobre os trilhos de trem, já que "os moradores da região creem que a corrente elétrica presente nos trilhos tem o poder da cura".

Mas a matéria da Folha Online, fartamente ilustrada com registros fotográficos, deixa margem para outras dúvidas: se é a eletricidade a fonte de tratamento primordial, por que não abraçar um eletrodoméstico menos perigoso, como uma geladeira ou uma TV de 29 polegadas? Mas, não! Tinha que ser no trilho do trem, só dar um gostinho de risco à uma vida que já não anda lá muito saudável.

Já o outro lado do paradoxo é registrado no Brasil e tem a ver com o controle do diabetes tipo 1. Se a rápida resposta do governo brasileiro ao avanço da H1N1 foi considerada exemplar por alguns, outros males mais convencionais ainda carecem de rastreamento e tratamento adequado. É o que aponta o "Estudo multicêntrico de diabetes tipo 1 no Brasil", coordenado pela endocrinologista Marilia de Brito Gomes (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/08/01/estudo-inedito-mostra-que-diabetes-esta-fora-de-controle-no-brasil-925034678.asp#ixzz1TtSd7xCV). Realizado "durante dois anos com 3.591 pacientes de 28 cidades brasileiras, em cinco regiões", o estudo revela que "apenas 15% dos diabéticos têm seu nível de glicemia (a taxa de açúcar no sangue) bem controlado".

O perfil do paciente é alarmente: a doença auto-imune, que atinge pelo 1 milhão de brasileiros, ataca principalmente crianças e adolescentes: "71,5%, teve o diagnóstico antes dos 15 anos". Além disso, "a baixa escolaridade dos pacientes, associada à baixa renda econômica familiar, entre um e cinco salários mínimos, da maioria dos entrevistados (77,4%) é uma barreira no controle adequado do diabetes".

O mais intrigante disso tudo é que "não se sabe ainda as causas, mas o excesso de peso e o maior número de substâncias tóxicas no ambiente atacando o pâncreas, a nossa fábrica de insulina, são fatores que contribuem". Assim sendo, com causas desconhecidas e com cerca de 85% dos pacientes sem controle adequado, a doença vai fazendo cada vez mais vítimas, muitas delas antes de completar 50 anos.

Guardadas as devidas diferenças, o "paradoxo" da saúde planetária possui um cenário comum - um mundo achacalhado por doenças de origens inexplicadas - que pode ser resumido da seguinte forma: ou se fecha os olhos para o risco, evitando-se o equivocadamente rastreamento; ou se busca a cura fácil com riscos evidentes, mesmo que o custo do tratamento seja alto, como um óbito por atropelamento ou o risco iminente de amputação.

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