UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: No túnel do tempo da publicidade 13

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

No túnel do tempo da publicidade 13

Os comentários da série "No túnel do tempo da publicidade" normalmente cumprem bem sua vocação arqueológica e - pelo menos até hoje - nunca se prestaram a homenagens pessoais. Mas há sempre uma primeira vez para tudo nessa vida!

Foi com bastante consternação que li a notícia de que o ex-jogador de futebol Sócrates, ídolo da minha geração e de outras tantas mais, tinha sido internado no dia 19 de agosto de 2011, vítima de uma hemorragia intestinal (http://oglobo.globo.com/esportes/mat/2011/08/21/socrates-continua-internado-em-sao-paulo-respira-sem-aparelhos-informa-hospital-925173125.asp).

Capitão da seleção brasileira de 1982, Sócrates traz à lembrança um outro tempo do futebol brasileiro: um tempo em que os jogadores (todos, via de regra, magricelos) viviam mais ou menos ao abrigo de escândalos midiáticos e da histeria das musas-loucas-de-vontade-de-aparecer diante do público-louco-para-tudo-ver. Era também um tempo em que o Brasil tinha orgulho e acreditava no técnico e na seleção que possuía.

Apesar de todas estas diferenças marcantes, a publicidade da Revista Contigo! (Revista Veja, 07-03-1984, p. 11) logo acima marca o início de duas tendências que só vieram a se consolidar com os passar dos anos: a venda dos nossos jogadores ao mercado europeu, de um lado, e a crescente exposição da vida pessoal dos jogadores, do outro.

Por um lado, o texto da publicidade é altamente nostálgico: além de remeter a uma época em que os jogadores ainda guardavam alguma fidelidade aos clubes onde faziam carreira, ele reflete uma reação de consternação que era tipicamente esboçada pelos brasileiros com a ida dos jogadores brasileiros para o Velho Continente.

Por outro lado, a ameaça de chantagem e consequente exposição da exposição vida íntima do jogador, esboçada pela Revista Contigo!, está totalmente ultrapassada hoje. É que a exposição da vida pessoal dos jogadores já deixou há muito de ser exclusividade das revistas de fofoca para ganhar a cobertura dos grandes meios de massa, mostrando que há, certamente, muito menos espaço para os jogadores negociarem os limites de sua vida privada.

Enfim... quaisquer que sejam os prognósticos atuais, a publicidade da Contigo! nos convida e uma viagem no túnel do tempo. Junto do pacote de lembranças e emoções que trago comigo da Copa do Mundo de 1982 - uma sucessão de cenas em que o papel picado acumulado na rua em dia de jogo se mistura à frustração com a qual eu e meus irmãos, vestidos com as camisetas do Brasil que minha mãe comprou especialmente para o a ocasião, asssitimos a derrota do Brasil para a Itália - fica aqui a minha homenagem ao doutor Sócrates, capitão da seleção dos meus sonhos de infância.

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