UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Palavras

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Palavras

Palavras: novas, velhas, inventadas ou simplesmente usadas. Palavras têm sentido e sonoridade. Mudam, morrem, renascem em outra língua. Ou simplesmente permanecem, independentemente da língua.

Esta é a teoria que uma equipe de britânicos - ora descritos na notícia como linguistas, ora como especialistas em biologia evolutiva - defendem em publicação na  Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS): "nossos ancestrais que viveram há 15 mil anos podem ter usado algumas palavras reconhecíveis hoje em várias línguas modernas" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/ci%C3%AAncia-e-tecnologia/ancestrais-pre-historicos-usavam-palavras-similares-as-de-hoje-1.121115).

"Utilizando um modelo informático", o estudo tenta corrigir distorções produzidas em estudos anteriores, que tomam palavras com sonoridade próxima, mas com sentido distinto, para "identificar aquelas que, provavelmente, derivam de ancestrais comuns".

A conclusão foi que "certas palavras mudaram muito lentamente ao longo do tempo" e "estas palavras indicam a existência de uma grande família linguística que unifica sete grupos de línguas na Eurásia."

Embarcar na defesa de uma matriz linguística comum não é difícil. Complicado mesmo é embarcar no entusiasmo dos pesquisdores e comprar a ideia de que haveria uma pretensa universalidade subjacente às diversidade linguística predominante na contemporaneidade: "A forma como usamos determinadas palavras na linguagem cotidiana é comum a todas as línguas da humanidade".

Mas não se enganem: a maior parte das explicações universalistas acabam esbarrando na limitação dos exemplos empíricos. No frigir dos ovos, o que foi publicado na notícia do jornal Hoje em Dia online a favor de uma suposta universalidade linguística termina mais por validar como universal - sem necessariamente o ser - uma referência linguística em detrimento das demais: "As palavras comuns como eu, você, nós, mãe e casca (respectivamente I, you, we, mother, man e bark em inglês) têm, em algumas línguas, o mesmo sentido e quase o mesmo som que tinham antes, determinaram os linguistas."

Preguiça total! Infelizmente, perdemos de vista aqueles argumentos e provas da suposta universalidade linguística que devem ter sido fornecidas satisfatoriamente no artigo científico. Pobres de nós que não tivemos acesso a ele! Ficaremos à mercê de um universalismo etnocêntrico e mal-comprovado, acreditando na uniformidade das línguas do mundo quando, na verdade, quem uniformiza a abordagem aos fatos científicos são os releases das agências de notícia, publicados quase na íntegra por jornais acomodados.

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