UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: O riso em situações adversas

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O riso em situações adversas

Como experimentar o prazer e o riso em situação de adversidade?

Se você não conseguir responder a esta pergunta até o fim deste comentário, pelo menos vai poder entender, de uma vez por todas, por que as matérias de divulgação científica são sempre as melhores, na minha modesta opinião.

A ideia inicial dos cientistas britânicos da unidade de cognição e ciências cerebrais do Conselho de Pesquisas Médicas daquele país, de acordo com matéria veiculada no site O Globo online, era "ajudar a determinar se pacientes em estado vegetativo são capazes de experimentar emoções positivas" (http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/06/28/exame-de-ressonancia-mostra-como-cerebro-processa-piadas-924791209.asp#ixzz1QiTk3x3h).

Até aí, tudo bem. Mas é o caminho escolhido para a demonstração é que me fez rir (e você verá porque a reação é mais que óbvia): ao avaliar com o uso de ressonância magnética "o cérebro de 12 voluntários saudáveis", tentou-se verificar como estes reagiam a piadas.

Os achados da pesquisa são ainda mais hilários: "eles notaram que as áreas de recompensa no cérebro se acendem muito mais ao processarem piadas do que ao processarem uma fala normal". Em vernáculo vulgar, isto quer dizer basicamente que uma luzinha acendia em determinado lugar conforme a graça da piada.

Claro, como todo bom experimento científico (pois não se faz pesquisa qualitativa em vão nas áreas Biomédicas, como costuma acontecer nas Humanas...), as variáveis de controle foram escolhidas a dedo: para cada tipo de piada, encontrou-se um padrão de atividade cerebral. A conclusão é atribuída a um dos coordenadores do experimento, o Sr. Matt Davis, que "explicou que a resposta também era diferente quando frases que não eram engraçadas continham palavras com mais de um sentido".

Como pode notar o leitor atento, para se chegar à questão "pode alguém em estado vegetativo reagir a uma emoção positiva?" o caminho foi um tanto tortuoso. Antecipando essa crítica, o cooordenador da pesquisa se defende: "Mapear a forma como o cérebro processa as piadas e as frases mostra como a linguagem contribui para o prazer de entender uma piada. Podemos usar isso como parâmetro para entender como as pessoas que não conseguem se comunicar normalmente reagem a piadas". Ele só se esqueceu de me explicar em que medida um cérebro em estado vegetativo está propenso a manter as mesmas atividades cerebrais que os cérebros ditos "normais" - o que está longe de ser consenso na área, diga-se de passagem...(http://chrisbarnes.blogharbor.com/blog/_archives/2007/10/1/3264102.html).

Piadas longas, piadas curtas, piadas com efeitos sonoros, mímicas e suspense. Neurocientistas do mundo inteiro, entendam: em que pese a estrutura determinante da linguagem cerebral, a química da piada precisa de um meio condutor para acontecer e esse meio é a cultura. Polêmicas à parte, a motivação inicial da pesquisa não deixa de ter lá a sua relevância existencial. Rir em caso de adversidade é coisa para poucos. Espero, sinceramente, que ela passe a ser coisa para muitos.

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