No último comentário que fiz sobre publicidades de cigarro voltadas especificamente para o público feminino, lembrei que a indústria do tabaco passou a privilegiar as mulheres em função da sua maior propensão ao vício com o cigarro (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/06/no-tunel-do-tempo-da-publicidade-7.html).
Bem, por mais excusos que fossem os motivos que levassem a indústria do tabaco a privilegiar o público consumidor feminino, ao menos em um aspecto aquelas publicidades eram mais respeitossas do que outras veículadas na mesma época: nas primeiras, a mulher era considerada um pólo decisório importante no processo de consumo, ao passo que, nas últimas, ela encarnava o próprio objeto de desejo, numa complexa rede de significados que a relacionavam com um produto específico.
As publicidades que mostrarei mais abaixo foram veículadas no início dos anos 1980 e dão uma dimensão do ponto ao qual a associação entre a mulher e o objeto de consumo pode chegar. Na verdade, essas publicidades constroem, expressam e reforçam um determinado imaginário masculino. O expectador ideal dessas publicidades, claro, são homens, ou melhor: elas se dirigem a uma parcela de homens com um perfil bastante definido. Vejamos como é esse imaginário por meio de alguns exemplos.
Exemplo 1: o homem potente (Revista Isto É, 23-10-85, p. 45)

Reparem em duas sutilezas que fazem o elo com a potência sexual masculina: estar em cima de uma moto de 450cc a 140km/h; estar embaixo dos 1300 watts de potência do "hot machine". Alguma dúvida sobre a associação entre as duas experiências (estar ora embaixo, ora em cima) com a potência sexual do homem? Então dêem uma olhada na ilustração do secador: o cabo dobrável do secador remete a uma ereção. É muita sutileza para uma publicidade só, credo em cruz!
Exemplo 2: o homem poligâmico (Revista Isto É, 22-08-84, p. 12)

Compromissos? Só com ele mesmo, ressalta a publicidade. Basta olhar para a foto para concluir: "uma experiência é sempre uma experiência a mais". E s'imbora que a fila tá andando!
Exemplo no. 3: o homem de perspectiva (Revista Veja, 06-01-82, p. 5)

A foto desta publicidade do jeans de lycra Beltramo não deixa a menor dúvida! Contra um bumbum desprevenido, nada como um expectador atento, cuidadoso e bem intencionado: "é bom prevenir os traseiros que usam jeans" contra "o falso índigo" que "desbota nas lavagens", alerta o reclame. Ai, ai... É tanto altruísmo que chega a me encher os olhos de lágrimas!... Passemos então à próxima publicidade.
Exemplo no. 4: o homem apaixonado por futebol (Revista Veja, 04-03-81, p.5)

Essa pérola publicitária do Banco Bradesco é, sem dúvida, um hino de amor ao futebol. Aliás, esse banco só escala craque que "está treinado, atende rápido e domina a área". Alguma dúvida? Olhe bem para a moça da foto e veja se ela não te inspira confiança. A assinatura da marca diz tudo: "garantia de bons serviços". Com uma atendente dessas, derrubou na área do cliente Bradesco, é pênalti!
Passemos agora ao último exemplo da série.
Exemplo 5: o bom condutor (Revista Isto é, 21-10-81, p. 54)

Portanto, machos do mundo inteiro, aprendam com a publicidade do cinturaço Pirelli, aquele que "é forte, mas ao mesmo tempo macio, segura bem nas curvas e ajuda a economizar combustível"! Tá aí a Kate Lyra que não me deixa mentir: "que categoria"!
MUITO BOM !
ResponderExcluir