UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Um ET de pele nova!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Um ET de pele nova!

Talvez "sentir na pele" seja a expressão que, na língua portuguesa, melhor traduza a subjetividade da dor e do prazer. Hannah Arendt já dizia que a dor é o sentimento mais privado que existe: ninguém pode senti-lo por você. Quando muito, consegue-se, pela via do discurso, encontrar a escuta empática com alguém de alguém solidário.

Pois cientistas alemães conseguiram recriar, em laboratório, espécie de "pele sensível" para robôs, conforme relata matéria do O Globo Online (http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2011/07/04/cientistas-criam-pele-com-sensibilidade-artificial-para-robos-924824533.asp). A chamada "pele artificial" robótica é composta "por pequenas e rígidas placas hexagonais de circuitos", que possuem cada uma "quatro sensores infravermelhos que detectam tudo o que se aproxima menos de um centímetro, efetivamente estimulando os dispositivos como num leve toque". Bom, parabéns para os cientistas! Eles conseguiram recriar em laboratório uma capacidade que nós humanos, estamos perdendo com o passar do tempo: sentir e acusar presença alheia, seja ela boa ou má.

Num país em que as pessoas acham normal que os shoppings e rodoviárias cobrem pela ida ao banheiro para garantir a limpeza e a frequentabilidade dos espaços, nada mais estranho e contra-tendência do que reivindicar mais contato e mais "contaminação" com o meio circundante. Se bem que a máxima de que só quem "pode" (em termos estritamente financeiros) consegue, de fato, viver ilhado em pequenos nichos de segurança fabricada é parcialmente verdadeira. De fato, o que muitas pessoas querem, ao tornar mais restrito o acesso a si mesmas, é tentar impedir que a ameaça chegue até elas. Só que morar em condomínios hiper-seguros ou se cercar apenas de situações "conhecidas" e "familiares", furtando-se estrategicamente ao contato com o desconhecido, por exemplo, só garante mesmo é a ilusão de segurança.

A ironia disso tudo é que ao reduzir o contato com o mundo exterior, nem sempre o que se ganha é proteção. Por outro lado, perde-se muito em termos de capacidade de se identificar o inimigo. E o que é pior: por não saber identificar o perigo, perde-se a capacidade de discernimento entre amigo e inimigo, entre veneno e elixir. É exatamente por isso que a "proteção" não pode ser tida como garantida em espaços hiper-vigiados: porque o perigo principal, aquele que você corteja de perto, não é o que está sendo separado de você pela cerca elétrica, mas justamente aquele que você convida para entrar e tomar um suco.

De posse dessas reflexões, e contrariando todos os prognósticos de razoabilidade, vou fazer uma ode à pele artificial! Quem sabe assim aprendemos, com elas, as máquinas, a tomar tenência na vida e a identificar mais prontamente as ameaças que encontramos pelo mundo afora? Ou, com um pouco mais de sorte, comprar um pacote sensores infra-vermelhos capazes de identificar quem é gente fina, elegante e sincera.

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