Euforia total com as estatísticas da Câmara dos Deputados em Brasília: imprensa grita aos quatro ventos que Romário e Tiririca não faltaram a nenhuma das 55 sessões deliberativas realizadas na casa durante o primeiro semestre deste ano (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/07/14/romario-tiririca-nao-tem-faltas-em-sessoes-deliberativas-da-camara-dos-deputados-924905401.asp).
Antes que alguém se ajoelhe diante dos astros e pense que Romário se redimiu do flagra nas areias da Barra em pleno dia de sessão - dia este em que ele computou de presença, diga-se de passagem (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/02/o-homem-elastico.html) - e que Tiririca agora virou um homem sério de vez, vale aqui registrar alguns dados disponíveis no site da Câmara (http://www2.camara.gov.br/).
Em primeiro lugar, duas sessões deliberativas podem ocorrer no mesmo dia. Por exemplo, no dia 22 de fevereiro, ocorrerão duas sessões deliberativas: uma ordinária às 14h e outra extraordinária às 20h01.
Em segundo lugar, existem dias sem nenhuma sessão deliberativa, como no caso do dia 14 de março. Mas a casa funciona normalmente, inclusive com sessões de debate.
Em terceiro, após uma rápida revisão do número de dias úteis existentes entre 02 de fevereiro e 07 de julho (período em que as 55 sessões deliberativas foram computadas), verifiquei que existiram, ao todo, 105 dias úteis (não contei nem a 4a feira de cinzas, nem a 6a feira após o feriado de Finados). Isso, claro, para o mais comum dos mortais, já que acho difícil de acreditar que a Câmara tenha funcionado todos esses dias: não existe agenda disponível, por exemplo, nos dias 10 e 11 de março - 5a e 6a feiras depois do Carnaval, respectivamente.
Em quarto lugar, se nos fiarmos à descrição da metodologia de aferição das presenças trazida na própria matéria do O Globo Online, veremos que existe muita margem para dúvidas: "A pesquisa foi baseada na página oficial de cada deputado na Câmara. O registro dos dados privilegiou as ocorrências de presença nas sessões plenárias deliberativas. Nessas sessões, a presença pode ser registrada à distância (terminais eletrônicos são distribuídos pelas dependências da Casa, por exemplo próximas às comissões temáticas)".
Ou seja, ainda que a página oficial do candidato fosse fonte fidedigna - e temos algumas razões para duvidar que o seja, sabendo que Romário soube muito bem burlar o sistema de ponto para comparecer ao seu imperdível contato com o eleitorado do vôlei de praia lá na Barra da Tijuca -o registro de presença à distância favorece, a um só tempo, a evasão, a dispersão e o piquenique fora de hora.
Em quinto e último lugar, a presença nas sessões deliberativas não garante que Romário e Tiririca tenham participado efetivamente das discussões, nem que a deliberação tenha sido de qualidade, quando esta existiu.
Pronto! Joguei água na fervura. Assim sendo, não acho nenhuma vantagem ambos estarem presente em todas as 55 sessões deliberativas: eles não fazem mais do que a obrigação! Afinal, foi para isso mesmo que eles foram eleitos, ora bolas.
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
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