UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: No túnel do tempo da publicidade 10

segunda-feira, 11 de julho de 2011

No túnel do tempo da publicidade 10

"Antes longe era distante
Perto só quando dava
Quando muito ali defronte
E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes
dendê em casa camará

Ê volta do mundo, camará
Ê, ê, mundo dá volta, camará"

Quem não se lembra desses versos da canção "Parabolicamará", do Gilberto Gil? Eles nos contam das mudanças trazidas no dia-a-dia das pessoas mais simples com o advento de novas tecnologias nas comunicações. E, principalmente, de como a nossa percepção do tempo ficou alterada com essas mesmas tecnologias.

O comentário de hoje trata de antigas "novas" tecnologias de comunicação. Ou melhor, de publicidades que traziam as últimas novidades nos suportes técnicos no início das décadas de 1980, 1990 e 2000, respectivamente. O que elas têm em comum? Elas que encurtaram as distâncias entre eu, você e o mundo pelo menos um pouquinho. Na pior das hipóteses, elas tornaram esse contato no mínimo mais confortável.

A primeira "nova" tecnologia anunciada é uma propaganda de telefone com teclas (Revista Manchete, 13-12-80, p. 81). Antes que um leitor desavisado com menos de 20 anos me pergunte, eu já vou logo respondendo: até o início dos anos 1980, os telefones possuíam um disco; e para compor o número desejado, era necessário girá-lo. Cada vez que vc ligava para um lugar e estava ocupado, era preciso esperar e girar o disco até compor a série de 7 dígitos toda de novo (sim, naquela época também os números de telefone possuíam apenas 7 dígitos).

Pois esta publicidade do telefone com teclas da Gradiente informa justamente sobre a praticidade da tecla de memória no seu novo aparelho telefônico: "quando o número estiver ocupado, basta apertar esta tecla e ele realiza a ligação sozinho. Já pensou como isso vai facilitar a sua vida?" Para você, que acha simplesmente impossível imaginar um celular sem registro de chamadas não atendidas, imagine então como era na época do telefone de disco. Atendeu, bem. Não atendeu? Então liga de novo até alguém do outro lado te atender.

A próxima publicidade é uma novidade sui-generis da Sanyo (Revista Veja, 02-01-91, p. 35-36): a câmera de filmar Zeema. Esta, além de possuir "inteligência computadorizada que controla com mais rapidez e precisão que as convencionais na focagem e na intensidade de luz", ela é a "primeira câmera que trabalha como o olho humano: na horizontal". E como elas eram até então, vc aí - com menos de 20 anos - deve estar se perguntando... Bem, no meu entender, elas nunca foram verticais de fato. Mas essa aí tem pelo menos o mérito de ser mais achatada do que as outras.

Desnecessário dizer que nem tudo o que é novidade um dia, vai necessariamente permanecer no mercado para sempre. Desde os anos 1990, as câmeras domésticas foram sendo tão reduzidas e cada vez mais portáteis, que acabaram perdendo sua exclusividade existencial, passando a compartilhar espaços cada vez mais exíguos como o do celular e o da câmera fotográfica.

A última publicidade (Revista Isto é, 24-10-2001, p. 53) é dos Correios e comemora a chegada do Sedex 10: só ele entrega sua encomenda no destino até às 10h da manhã do dia seguinte. Com uma ousadia suplementar: o serviço promete retornar o dobro do valor pago pela postagem, caso o pacote não chegue no seu destino até o prazo anunciado. "Agora você já sabe: se tem que chegar cedo, só de Sedex 10!".

Agora dê uma olhada no texto de cada uma dessas publicidades. Viu também como ele foi sendo enxugado ao longo do tempo? Além de ter ficado bem mais curto e objetivo, ele passou a se sobrepor à imagem, graças aos novos recursos da edição de imagens digitalizadas via computador, passando a ocupar a totalidade da página. Texto mais curto, distâncias e tempo gasto com leitura idem!

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