UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: O peso-pesado dos mitos

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O peso-pesado dos mitos

Quando um mito cai por terra, é sinal de que estamos ficando um pouco menos bestas ou menos arrogantes ou menos previsíveis.

Faz tempos, por exemplo, que escutamos que se deve beber de seis a oito copos de água por dia para prevenir diversas doenças que estariam ligadas à desidratação. Bem, isso até aparecer essa tal médica Margaret McCartney dizendo que "não há uma prova clara dos benefícios de se beber grandes quantidades de água" (http://oglobo.globo.com/vivermelhor/mat/2011/07/12/beber-de-seis-oito-copos-agua-por-dia-absurdo-ridiculo-diz-medica-924887220.asp#ixzz1S2HoLDh6).

As ponderações que Sra. McCartney fez ao British Medical Journal desta semana vão, aliás, na mesma direção da posição sustentada pela dieta e filosofia Macrobiótica há algumas décadas: o excesso de água pode, inclusive, sobrecarregar fígado e rins. Enfim, qualquer que seja a razão, , no final das contas, para a recusa em acreditar que a ingestão de grandes quantidades de água só pode ser benéfica à saúde, ambas as posições em muito desagradam as grandes corporações internacionais, responsáveis pela comercialização de águas engarrafadas para consumo humano.

Portanto, descontruir mitos não é nada fácil: é tarefa para peso-pesados, isto é, para gente disposta a pegar "no pesado" para contestar uma verdade tida como absoluta. Felizmente, existem pessoas como a britânica Margaret McCartney e também a americana de origem paquistanesa, Kulsoom Abdullah, a qual fez dessa tarefa uma autêntica prática esportiva.

Para quem ainda não leu a respeito, Kulsoom nos fez também a caridade de requerer junto a Federação Internacional de Levantamento de Peso a mudança das regras dessa prática esportiva por ser islâmica e por reivindicar o porte do hijab durante suas apresentações (http://www1.folha.uol.com.br/esporte/943053-muculmana-americana-consegue-mudar-regra-do-levantamento-de-peso.shtml). Com isso, a decisão da federação fará da esportista "a primeira atleta a competir no levantamento de peso com as pernas, braços e cabeça cobertos", segundo matéria da Folha Online.

Mas... para quem acha que obrigar, por motivos religiosos, uma mulher a portar vestimentas longas é o suprassumo da subordinação feminina e um retrocesso nos avanços sociais conquistados pelas mulheres ocidentais até hoje, eis que a realidade nos convida a um exame mais profundo das nossas próprias crenças. Além de ser uma mulher realmente muito bonita no auge dos seus 35 anos (até aí, nada demais), Kulsoom contraria todos os estereótipos da mulher-objeto, submissa, indefesa e oprimida: ela é também PhD em computação pela Georgia Tech, faixa-preta em taekwondo e, apesar de ter apenas 45 kg de peso e praticar levantamento de peso há apenas 4 anos, ela consegue levantar mais de 110 kg. Tudo isso junto faz dela um bomba de nitrogênio ambulante, dessas capaz de implodir qualquer crença arraigada.

Claro, a Federação Internacional de Levantamento de Peso tem também lá o seu mérito ao inovar em relação a decisões como as da FIFA e do Comitê Olímpico, que viram no porte do hijab uma ameaça à segurança das atletas - decisões estas que terminaram resultando na eliminação da seleção feminina de futebol iraniana das Olimpíadas de 2012. A ideia aqui, contrariamente às decisões anteriores, é fazer do levantamento de peso "um esporte olímpico aberto para todos os atletas sem discriminação de cor, raça, religião, sexo, idade ou nacionalidade de acordo com os valores olímpicos", conclama o presidente da Federação Internacional do esporte, Tamas Ajan.

Como dizia Marina Lima, "e preconceito: quebrou não tem mais jeito".

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