UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: O brilho do diamante louco

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O brilho do diamante louco

Estaria inaugurando hoje a série "Notícias fúteis, títulos ambíguos", se o tema já não fosse recorrente aqui nesse blog. Bem, já que, na prática, o tema é mesmo recorrente por aqui, pelo menos fica o consolo de que nomeá-lo hoje vá conferir ao meu desabafo um ar mais solene, mais oficial. Vamos a ele, então.

Para ser sincera, nem me ofende tanto que as matérias cotidianas falem de coisas inúteis. Afinal, o conceito de "utilidade" é elástico o bastante para comportar uma boa dose de relativismo cultural: o que é útil para mim pode ser não para você, e vice-versa. Na verdade, o que altera realmente a minha pressão arterial é que, além de falar sobre coisas irrisórias ou pouco significativas, algumas notícias tem o mal-hábito de criar, no título, falsas expectativas sobre os fatos que serão narradas no corpo do texto.

Notícia da Folha Online anuncia: "Estudante encontra anel de brilhante em estádio de futebol" (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/945486-estudante-encontra-anel-de-diamante-em-estadio-de-beisebol.shtml). Não, não, meus caros leitores: o evento não ocorreu durante um jogo. O fato é outro: "Uma estudante universitária dos Estados Unidos ganhou um anel de diamante durante um peculiar concurso em que as participantes precisam usar uma colher plástica para cavar o terreno de um estádio de beisebol e encontrar a joia".

Ler um título desses é como pedir uma informação sobre como chegar até uma rua bem próxima e te mandarem para outro bairro. Mas dirão os entendidos: "isso só prova que o título é um excelente gancho: você até parou para uma matéria que nem te interessaria". Sim, é verdade. Felicidade para o editor daquele caderno, tristeza para uma leitora mal-humorada como eu.

Sim, também acho que é verdade que as melhores surpresas da vida acontecem justamente naquelas situações em que partimos com um rumo definido, mas acabamos sendo levados para outros lugares melhores - lugares estes que nunca sequer imaginamos. Até aqui, concordo plenamente. Mas o chato é quando o título te leva para um lugar ainda pior do que aquele no qual você nem sequer ousou pensar.

A bem da verdade, feliz mesmo é a moça da notícia: "A vencedora declarou a uma emissora de rádio local que é fã de beisebol e sabia que o anel não estaria enterrado em uma zona muito frequentada do campo, por isso decidiu cavar na área entre a primeira e segunda base". O segredo do seu sucesso foi ter cavado lá onde ela achou que ninguém iria. O segredo da notícia (e do seu título "misleading") foi ter me levado até onde eu não iria.

Moral da história: tá na hora de ir dormir. Daqui até a minha cama, não leio mais nada, que é para não me distraiar do meu destino certo e seguro.

E para vocês que ficam, uma canção devotada aos diamantes enterrados nos lugares mais insensatos.

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