UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Tango para o Bolsonaro

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Tango para o Bolsonaro

Se tem um espaço neste mundo capaz de gerar muita polêmica com poucas palavras, este espaço se chama publicidade. O anúncio da participação do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) em anúncio de lingerie da Duloren gerou uma certa repercussão na imprensa hoje. Contudo, há divergências quanto ao teor do anúncio, conforme revela matéria do O Globo Online (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/07/28/bolsonaro-diz-que-aceita-fazer-propaganda-de-lingerie-para-reforcar-imagem-contra-kit-gay-924999076.asp) .

Mais especificamente, a divergência surgiu entre o próprio Bolsonaro e o presidente da Duloren, o Sr. Roni Argalji. A matéria do O Globo descreve a estratégia publicitária pretendida por Bolsonaro da seguinte forma: "Segundo relato de Bolsonaro, ele posaria ao lado da modelo - que estaria de calcinha e sutiã, claro. Na propaganda, teria a frase 'esse kit eu aprovo'." Mas o presidente Argalji parece discorda dessa versão: "A palavra kit não existe neste anúncio. Não existe. Eu não quero remeter a isso (à polêmica do material do governo contra a homofobia). O Bolsonaro posará ao lado de uma mulher apontando o dedo para ele (Bolsonaro) e dizendo que não concorda com ele. São duas pessoas de opiniões contrárias que estarão juntas. Selecionaremos a melhor foto que represente essa situação".

Qualquer que seja a estratégia verdadeira - com referência explícita ou implícita ao tão vituperado "kit gay" (se bem que eu ainda prefira "kit antihomofobia") - uma coisa é certa: a tentativa de Bolsonaro capitalizar o máximo de atenção para o seu próprio sucesso como opositor da luta contra a homofobia. A própria matéria bate o martelo quanto ao intento primeiro do garoto propaganda: "Agora, o interesse do deputado com a propaganda é colar essa imagem de parlamentar que ajudou a acabar com a circulação do material".

Quanto à estratégia da marca Duloren, não vejo nada de necessariamente ruim em querer criar controvérsias. Mas é bom ela saber que estará pisando em ovos ao brincar com o público gay. Qualquer grande anunciante sabe o poder de consumo, politização e mobilização para o protesto deste segmento específico. Aliás, para quem não conhece esse poder, sugiro uma visita ao Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária para uma rápida consulta aos processos envolvendo denúncias de discriminação contra homossexuais, dentro da rubrica "discriminação". Mas a história é essa mesma: não existe controvérsia sem risco!

Enfim, qualquer que seja a estratégia e qualquer seja a modelo escolhida para o dito anúncio, cá estamos nós falando dele antes mesmo do danado existir. Isso significa dar muito crédito para político de comportamento indecoroso como o Bolsonaro? Não necessariamente. Podemos preparar uma contrapartida inteligente para quando o anúncio vier à tona. Mãos à obra, então.

Por fim, fica aqui a minha "homenagem musical" ao distinto deputado. E um bom "libertango" para todas as pessoas com um mínimo de senso crítico e inteligência desse país.

Nenhum comentário:

Postar um comentário