UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Longe é um lugar que existe sim!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Longe é um lugar que existe sim!

Uma interpretação rasteira de "Parabolicamará" nos faria crer que o encurtamento das distâncias com as novas tecnologias de comunicação é uma benécia ao alcance de todos.

Mas não se pode levar a letra ao pé da letra - por mais genial que ela seja. A prova disso está na pesquisa "Educação em Territórios de Alta Vulnerabilidade Social na Metrópole", desenvolvida na Zona Oeste de São Paulo e divulgada hoje pela imprensa paulista: quando a questão é rendimento escolar de crianças, a localização escolar conta - e muito!

Bem, que crianças que moram pobres nas perferias urbanas tenham menor desempenho do que os alunos ricos de escolas mais centrais em função da distâncias que têm de percorrer até escola, isso é fato mais que sabido. A novidade desta pesquisa publicada no Estado de São Paulo e replicada no Jornal Hoje em Dia é que a localização da escola afeta também o rendimento para alunos com mesmo perfil sociocultural, seja ele baixo ou alto (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/brasil/localizac-o-da-escola-influencia-desempenho-do-aluno-1.308743).

"Em unidades localizadas em áreas altamente vulneráveis, cerca de 50% dos alunos com baixos recursos culturais familiares (bens culturais disponíveis em casa, como TV, DVD, internet e livros, aferidos pelo questionário socioeconômico da Prova Brasil, e escolaridade da mãe ou mulher responsável pelo estudante) têm desempenho abaixo do básico e apenas 10% deles apresentam desempenho adequado", relata a matéria.

Mas quando analisou-se o rendimento de alunos com perfil semelhante em escolas localizadas em áreas menos vulneráveis, verificou-se que não só havia menos alunos com rendimento abaixo do básico (38%), como também aqueles com rendimento adequado e avançado eram claramente superiores (24%). Da mesma forma, alunos com recursos culturais familiares mais altos passam a apresentar rendimentos mais baixos quando inseridos em escolas cujo entorno é mais vulnerável.

Esses dados refutam uma crença descrita por outro estudo divulgado pela Folha Online há mais tempo: a suposta inaptidão do aluno de periferia ao aprendizado escolar, uma crença dominante junto aos professores de escolas públicas (http://www1.folha.uol.com.br/saber/925019-preconceito-prejudica-desempenho-de-alunos-na-sala-de-aula.shtml). A pesquisadora Maria Helena Souza Patto explica que "com essa visão negativa dos alunos e de suas famílias, educadores estão prontos a se relacionarem com essas crianças de modo a confirmar essas expectativas de que serão incapazes de aprender, por meio de vários comportamentos explícitos (agressões verbais e até físicas, como humilhações em sala de aula, arrancar e rasgar folhas de caderno que contêm erros etc.) ou mais sutis, como a frequência com que as atendem em suas dúvidas etc". Reproduz-se aqui a velha tautologia do biscoito Tostines: ele vende mais porque é mais fresquinho ou é mais fresquinho porque vendia mais? Da mesma forma, são os alunos de periferia que são menos preparados ou os professores que deixam de prepará-los porque eles são mesmo de periferia?

A despeito da velocidade do fluxo das informações e da existência de escolas para divulgá-las, a transmissão do saber esbarra em barreiras de ordem sociocultural: ora é a localização da escola, ora é a descrença dos próprios professores na reversão de um quadro de baixo padrão cultural. Essas informações que viajam rápido e gastam o mesmo tempo que a Rosa "pra aprumar o balaio
quando sentia que o balaio ia escorregar" esbarram na lentidão das crenças arraigadas.

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