UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Ciranda no fundo do mar

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ciranda no fundo do mar

Esta é para quem acordou nesta 2a feira com cara de cachorrinho que caiu do caminhão de mudanças. Não digo que você vai terminar o dia necessariamente com mais fé na humanidade, mas pelo menos pode ter sua admiração despertada por uma determinada ciranda de eventos felizes que narrarei a seguir.

Segundo consta nesta notícia publicada pela Folha online (replicando boa-nova distribuída pelo mundo afora pela BBC News), a Honestidade, o Acaso e a Bem-aventurança andaram dando as mãos e dançando em torno do surfista australiano Adrian Jenkins (http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1009511-surfista-reencontra-camera-e-descobre-imagens-do-fundo-do-mar.shtml). Jenkins surfava na praia de Kirra Point, em Queensland (Austrália), quando perdeu uma câmera de filmar que estava acoplada na sua prancha. Já estava choroso, dando a câmera por perdida, quando uma série de circunstâncias surpreendentes começaram a tomar corpo neste palco de surpresas que é a vida.

A primeira a entrar em cena foi a Honestidade. Guiados por ela, dois surfistas encontraram a câmera 10 km adiante do local onde ela havia sido perdida. Em seguida, eles decidiram postar uma mensagem em um fórum de surfistas na Internet, juntamente com a foto do proprietário da câmera perdida: "Uma GoPro foi encontrada na água em Burleigh. Alguém reconhece o dono? Parece que a prancha dele é uma mini-mal, mas não tenho certeza".

Como o dono parece não ter tido conhecimento do anúncio, foi a vez do Acaso dar seu salto acrobático no palco da Vida. É que, ao sair para nadar em Burleigh numa manhã dessas aí, Jenkins acabou sendo reconhecido por um dos surfistas em questão: "Eu não conseguia acreditar que ainda existe honestidade e que aquele cara tinha me reconhecido. Eu fiquei eufórico", comemorou o felizardo.

Por fim, eis que a Bem-aventurança resolve também dar o ar da graça. Jenkins chegou a oferecer aos dois surfistas uma recompensa em dinheiro pela recuperação da câmera, a qual foi recusada e trocada por um café. De quebra, descobriu que a câmera ainda funcionava: "A parte externa da câmera ficou um pouco danificada pela areia, mas ela continua à prova d'água e havia 40 minutos de imagens que foram feitas pela câmera rolando pelo fundo do mar."

Quanto a mim, que caí do caminhão de mudanças hoje de manhã, bem sei que a postagem de uma notícia desse naipe poderá surpreender algum leitor reticente e levá-lo a pensar que vendi minha ironia machadiana para abrir um centro de auto-ajuda. Socorro, longe de mim: sou péssima nessa tal de auto-ajuda! Mas cabe aqui uma explicação: a onda do surfista para mim é outra. Sua alegria com o retorno do objeto perdido me trouxe um novo alento, pois nessa ciranda incansável de eventos que é a vida, a maior parte das coisas perdidas - objetos, pessoas, projetos, sonhos - nunca é (e nem será) recuperada. Melhor ainda: ele recuperou a câmera com direito a um bônus, isto é: tudo aquilo que ela gravou sozinha depois de ter caído no mar.

Enfim, enquanto Honestidade, Acaso e Bem-aventurança derem-se as mãos no estranho fluir da vida, alguma esperança paira no ar. Para quem quiser conferir o resultado da ciranda de três, eis aqui um vídeo bem curtinho (só tem 1min31seg de duração), contendo algumas das imagens recuperadas do fatídico dia em que a câmera foi para o fundo do mar.

Boa ciranda!

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