UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Peso pena

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Peso pena

Cada qual cuida de seus bebês como pode. Enquanto na China, pesquisadores se travestem de pandas gigantes para interagir com bebê panda, no Brasil, o avanço das cesáreas põe em risco a saúde de bebês e futuros adultos.

Não pude deixar de rir do esforço de mímese dos nossos quase antípodas chineses. Notícia publicada na Folha online mostra fotos de dois pesquisadores fantasiados "de pandas gigantes para interagir com um filhote dentro de uma área protegida, na China" (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1014357-pesquisadores-se-vestem-de-pandas-para-interagir-com-filhotes.shtml). O objetivo do "baile de máscaras" foi levar um bebê panda até o Centro de Pesquisa e Conservação Hetaoping. Com um detalhe curioso: "as fantasias são usadas para garantir que o ambiente dos pandas é desprovido de influência humana", ensina a notícia.

Já do lado de cá do globo terrestre, matéria publicada hoje na Folha online mostra que "na contramão da melhoria dos indicadores de saúde de recém-nascidos, o índice de bebês com baixo peso ao nascer vem aumentando no Brasil nos últimos anos" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1014267-cresce-numero-de-bebes-nascidos-com-baixo-peso-no-pais.shtml).

Desta vez, o problema da baixa de peso nos recém-nascidos não tem absolutamente nada a ver com nem com a pobreza, sem com a subnutrição. Ao contrário: de acordo com dados preliminares do Ministério da Saúde, o aumento vem sendo puxado justamente pelos estados mais ricos do país, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em 2010, por exemplo, "o índice de bebês nascidos com menos de 2,5 kg foi de 8,4%". Ele superou, portanto, o índice de 7,9% verificado há dez anos atrás, o que já estava bastante acima do índice de 5% considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E nos estados acima mencionados (SP, MG, RS) - pasmem! - o índice chega a 9,5%.

Mas não precisa ir muito longe para entender a suposta esquizofrenia que ronda as estatísticas de saúde da primeira infância no Brasil: "Nesses locais, há uma porcentagem maior de cesáreas --o que, dizem os médicos, é a principal explicação para o fenômeno". E com a expansão do número de partos com cesárea programada, a tendência é que os bebês nasçam antes do tempo certo e, consequentemente, com o peso abaixo do patamar considerado ideal.

Com o aumento "progressivo e preocupante" das cesáreas, alerta o Ministério da Saúde, o quadro da saúde nacional tende a ficar cada vez mais sombrio. A curto prazo, a inserção dos bebês nas UTIs neonatais tem alto custo para o sistema público de saúde e aumenta o risco de infecções. A médio e longo prazo, as crianças que vieram ao mundo com peso abaixo do normal têm maior propensão a desenvolver doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, além de outras doenças crônicas que podem reduzir sensivelmente sua expectativa de vida.

A solução, como se sabe muito bem, é tão óbvia, quanto difícil de ser conciliada com a conturbada agendas dos obstetras: incentivo ao parto normal para que ele volte a ser o que o próprio nome diz - normal - e não praticamente uma exceção.

O curioso é que se as cesáreas continuarem crescendo no Brasil, o jeito vai ser adotar a estratégia dos pesquisadores chineses, só que às avessas: mães disfarçadas de enfermeiras gigantes tentarão adentrar as UTIs neonatais para interagir com os seus filhos, já que o ambiente é artificialmente desprovido de influência humana.

2 comentários:

  1. Aproveita e segue o meu depois! www/feidantas.blogspot.com

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  2. Ei, Fernando!

    Obrigada pela visita. Não se faça de rogado: volte sempre! : )

    Abraços.

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