UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Machos e gays no mundo animal

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Machos e gays no mundo animal

Não é nada raro ver os jornais diários destacarem sessões inteiras para a apreciação pública de hábitos e comportamentos privados dos animais.

No caso dos animais domésticos, existem sessões dedicadas ao compartilhamento de fotos que mostram os "peludos" em poses curiosas ou simplesmente cotidianas. E no caso de animais selvagens (in natura ou criados em cativeiro), o ensaio fotográfico costuma então ganhar ares de enquete científica ou de documentário no melhor estilo da National Geographic.

A novidade - penso eu - é que nunca a (homos e trans)sexualidade dos animais foi alvo de tantos comentários pitorescos nos jornais em um só dia.

No Hoje em Dia online, notícia anuncia logo no título: "Falcão macho se traveste de fêmea para maior chance de acasalar" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/falc-o-macho-se-traveste-de-femea-para-maior-chance-de-acasalar-1.366975). Já notícia publicada na Folha online avisa que "Zoológico no Canadá vai separar casal de pinguins com comportamento gay" (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1003946-zoologico-no-canada-vai-separar-pinguins-com-comportamento-gay.shtml).

A primeira notícia, publicada no Hoje em Dia, replica observações retiradas de estudo publicado hoje na revista Biology Letters, pertencente a Sociedade Real Britânica. De acordo com este estudo, uma espécie de falcão pertencente a região de Marais de Brouage, na França, adota a estrategicamente plumagem e comportamento de fêmea para fugir da disputa de território e - claro - ter acesso privilegiado às fêmeas.

Segundo os próprios termos da matéria (que emprega alternadamente o termo "falcão" e "águia-sapeira" como se fossem a mesma coisa), "ao parecer fêmeas e agir de forma menos agressiva, correm menos riscos de ser atacados por competidores, o que lhes dá uma chance maior de abordar as fêmeas para acasalar".

E por quê os machos mais machos permitiriam esta manobra, indaga a matéria? "Uma resposta possível seria a de que machos típicos podem achar vantajoso ter um vizinho tranquilo, pois assim teria menos trabalho para defender seu território. Além disso, machos típicos também teriam chances de copular com as fêmeas destes machos mais submissos".

O outro fato pitorescamente narrado é a separação anunciada do casal de pinguins "gays" (termos da matéria da Folha online) para fins de reprodução. Moradores de um zoológico da cidade de Toronto, no Canadá, os pinguins africanos Pedro e Buddy são um prato cheio para a comoção pública de milhares de ativistas LGBTS daquele país e de outros que lhe sejam solidários: "Os tratadores alegam que constataram um relacionamento gay na dupla e farão a separação para auxiliar na preservação da espécie ameaçada de extinção".

Vista de ângulos distintos, a "homossexualidade" e a "transexualidade" (seja ela fingida ou desempenhada) acaba sugerindo duas visões distintas dos papéis sexuais dos animais descritos nessas matérias: um viés puramente estratégico (falcões que agem como fêmeas para fugir dos concorrentes e ter acesso privilegiado às mesmas) e um viés afetivo (pinguins que se relacionam com outros do mesmo sexo por "opção").

No fim das contas, a descrição dos falcões machos "travestidos" de hoje se aproxima muito da realidade de certos eunucos da Antiguidade: castrados para tomar conta de esposas e concubinas dos reis, eles acabavam, no fim das contas, agradando a Gregos e Troianos (no sentido propriamente sexual). Só que no caso dos falcões, eles se travestem para agradar exclusivamente Gregos (ou Troianos, como queiram). Já com relação ao casal Pedro & Buddie, temo não haver outra alternativa: eles agora terão de agradar Gregos e Troianos, se quiserem realmente evitar a extinção da espécie.

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