UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Guarda-chuvas de aço

segunda-feira, 5 de março de 2012

Guarda-chuvas de aço

Já falei isso aqui antes e repito: adoro manuais! Mas a maior delícia proporcionada por eles é a sua própria descontrução. Matéria publicada hoje na Folha online ensina o que fazer "se um objeto espacial cair no seu quintal" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1056660-saiba-o-que-fazer-se-um-objeto-espacial-cair-no-seu-quintal.shtml). A matéria afirma que indagação semelhante já havia sido feita recentemente pelos moradores de Anapurus, interior do Maranhão, quando uma esfera de 30kg caiu a poucos de metros de uma residência.

Como todo bom manual, o guia de sobrevivência da Folha traz o conselho do especialista. Nesse caso, é Petrônio Noronha de Souza, chefe do Laboratório de Integrações e Testes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) quem dá o recado: "O mais correto a fazer é chamar as autoridades e isolar a área. É importante evitar que as pessoas fiquem tocando o material antes que ele seja analisado para ver se há risco, por exemplo, de ser algo tóxico ou radioativo".

Bem, de gente tóxica e radioativa, esse mundo anda cheinho. A diferença é que não podemos arremessar ninguém cima - para a órbita de outro planeta de preferência - e depois chamar as autoridades para ter certeza de que elas estão fora de alcance.

Enfim, continuando... De qualquer forma, a esfera metálica já chegou causando impasse: a Aeronáutica colheu o material, uma equipe do Centro de Lançamento de Alcântara fez as análises preliminares do material, mas segundo o pesquisador do Inpe, a confusão sobre o que fazer com o objeto assola também outros países. Más notícias: "em nenhum lugar do mundo há uma equipe de emergência só para lixo espacial", lamenta. Nós também. Não gostaria de ver uma esfera metálica instalada no meu sofá, por exemplo. Mas quem lamentou de verdade foram os moradores de Anapurus. Reza a matéria que eles beiraram o pânico após a queda do objeto não-identificado: "Assustada, a população chegou a falar em invasão alienígena e até em possíveis indícios do fim do mundo".

Também, pudera: "A chance de alguém ser atingido é de 1 em 3.200. O risco de que um objeto caia em uma pessoa específica, como você, é de 1 em trilhões. É mais fácil ser atingido por um raio". Trilhões de chances de cair em outro lugar - como nos 70% da superfície do nosso planeta coberto por água - e ela tinha que cair justo ali, a alguns metros de um casa.

Mas para todo surto de alarmismo extremo, há sempre uma boa dose de vacina estatística: "Acredita-se que a única pessoa atingida por lixo espacial tenha sido a americana Lottie Williams, em 1997. Ela não se feriu". Se as chances de ser atingida era de uma em trilhões, a chance de ser atingida e sair ilesa é de uma em quadrilhões. Palmas para ela! Aposto que nunca mais saiu de casa sem levar consigo um guarda-chuva de aço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário