UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Justiça no Olimpo

sexta-feira, 2 de março de 2012

Justiça no Olimpo

Com tanta gente perdendo a cabeça à toa nesse mundo, por que a Medusa não pode ter a dela de volta?

Uma matéria publicada hoje no O Globo online me fez pensar nas mazelas sofridas pela Medusa, aquela figura mitológica de olhar petrificante e cabelos de serpente: "uma segunda Medusa pintada pelo mestre italiano Caravaggio (1571-1610) acaba de ser descoberta numa coleção particular na Itália" (http://oglobo.globo.com/cultura/descoberta-uma-irma-da-celebre-medusa-de-caravaggio-4105894).

Entre outras coisas, a notícia expõe como os avanços tecnológicos levaram à revisão de alguns dogmas sobre a autenticidade desta curiosa obra de Caravaggio. Ao que parece, a descoberta inverteu totalmente a "ordem dos fatores" até então tida como certa pelos historiadores e críticos de arte: "Especialistas analisaram radiografias da peça — considerada, até agora, uma cópia da obra original, datada de 1598-1599 — e concluíram que se trata de uma outra obra, inclusive pintada antes, entre 1597 e 1598".

Ou seja, aquela que era considerada inicialmente apenas uma cópia provou ser, na verdade, uma versão tão original quanto a sua irmã, e até mesmo anterior a esta. Exatamente como a de Caravaggio, a Medusa dos gregos também tinha irmãs. Só que, "ao contrário de suas irmãs Górgonas, Esteno e Euríale, Medusa era mortal e acabou sendo decapitada por Perseu". E justamente por não ter a imortalidade das irmãs, seu fim foi um tanto quanto trágico: "o filho de Zeus teria usado posteriormente sua cabeça como arma, até dá-la de presente para a deusa Atena, que a colocou em seu escudo".

Por uma questão de isonomia, sou a favor de ir logo garantindo a Medusa o mesmo direito à imortalidade que suas irmãs. Meu sonho de justiça para a Medusa prevê a restituição da sua cabeça sem delongas, com juros e correção monetária. Junto com ela, a Medusa receberia de Perseu e Atena todos os honorários devidos pelos seus prestimosos serviços como segurança particular - incluindo-se aí todos os encargos trabalhistas por milênios de trabalho gratuito.

A justiça já foi feita neste plano quando a tecnologia provou que a suposta "cópia" da Medusa de Caravaggio era, na verdade, um original. Agora, é hora de fazer justiça também lá pelos lados do Olimpo. Justiça seja feita: restituamos ao mito sua dignidade e, se possível, também sua cabeça.

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