UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: O olhar de Charlees

quinta-feira, 22 de março de 2012

O olhar de Charlees

Muito inspiradora a primeira aparição pública da rinoceronte Charlees, no zoológico de San Diego, registrada hoje pelo fotógrafo Ken Bohn, da Agência Reuteurs. A pequena rinoceronte de apenas 2 meses "é a 61ª rinoceronte com um chifre só a nascer no local, desde 1975", mas já ficou célebre pelo "olhar desconfiado" com que posou para as lentes dos fotógrafos (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1065102-rinoceronte-corre-com-olhar-desconfiado-em-zoo-de-san-diego.shtml).

Olhar para as novidades do mundo com ar de desconfiança não é privilégio de rinocerontes debutantes de um chifre só - e nem de rinocerontes de dois chifres, diga-se de passagem. Aliás, mesmo havendo uma certa correlação estatística entre chifres e desconfiança, os primeiros não servirão de mote para as reflexões de hoje.

O foco da conversa é o expessivo olhar de desconfiança de Charlees, a rinoceronte recém-apresentada ao mundo. Certamente lançaria um olhar parecido com o dela, caso me deparasse com uma "barata ciborgue" ou um "caracol elétrico", ambos frutos de uma nova linha de pesquisa nos EUA. "Empenhada na criação de híbridos de animais e máquinas de tamanho mínimo e energicamente autossustentáveis, que substituiriam pequenos robôs", a nova área de experimentação científica aceitou o desafio de "aproveitar sensores naturais e gerar energia em insetos"(http://oglobo.globo.com/ciencia/eua-testam-barata-ciborgue-4381962#ixzz1prBfLV6Z).

Atenção, damas e cavalheiros! Não desdenhem sem antes conhecer a motivação primordial dessa nova linha: "o objetivo seria usá-los na guerra biológica". E ela conta com o apoio de agência governamentais dos EUA, tais como a
Agência de Pesquisa de Projetos Avançados de Defesa (DARPA).

Interpelados pelo interesse governamental, a linha de pesquisa já conta com a adesão de uma "massa crítica" substantiva no meio acadêmico. Dentre eles, estão o pesquisador "
Evgeny Katz, professor de química da Universidade Clarkson, em Nova York", responsável pelo desenvolvimento de um arrojado modelito de "caracol elétrico". Katz "e seus colegas publicaram este mês, na revista da Sociedade Americana de Química, um artigo sobre o animal adaptado".

Apesar de terem sido devidamente avalizados pela revisão de pares e publicado em periódico de referência para a área, "a equipe não tem apoio financeiro da Darpa, mas acredita que seu trabalho possa ser aproveitado pela agência". Questão de tempo, provavelmente.
E não pensem que a Universidade de Clarkson é a única a flertar com a agenda de pesquisa da DARPA. "Em janeiro, Daniel Scherson, da Universidade Case Western Reserve, divulgou, na mesma revista, que sua equipe usou um método similar para obter eletricidade de uma barata — e depois, num passo mais ambicioso, reproduziu o experimento em um cogumelo".

Se, com apenas 2 meses de idade, Charlees - nossa rinoceronte de um chifre só - não hesitou em expressar suas reservas diante do mundo novo que se descortinava diante dos seus olhos, o que dizer de nós, que teremos que matar baratas ciborgues ou descascar pepinos elétricos em um futuro não muito distante?

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