UA-89169382-1 Crônicas de Juvenal: Testamento

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Testamento

No penúltimo dia do ano, tem que haver espaço para algum lirismo! Então deixemos as coisas sérias e circunspectas para outro dia. O momento pede interiorização, recolhimento, um olhar retrospectivo que capte o que há por dentro para dar sentido ao que está do lado de fora.

E como estamos falando de introspecção-retrospecção, faço minhas as palavras de Manuel Bandeira:

Testamento

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

"Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.

Aos que me seguiram (ou não) ao longo do ano, ficam aqui: meu abraço, minha gratidão, minha reverência diante do ano que se aproxima.

Feliz Ano Novo!

2 comentários:

  1. Que lindo Jujuba! Vida longa ao blog, à você e a nós todos!
    Beijão.

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  2. Vida longa ao blog, aos amigos, à poesia!

    Beijos para você e o Thomas.

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