Meus últimos votos antes da virada:
A autora criou esse blog para divagar sobre o que lê diariamente nos jornais, com foco principalmente (mas não exclusivamente) na cobertura diária de ciência. Suas principais armas são a ironia de inspiração machadiana e um computador bacaninha (ela tirou o escorpião do bolso e comprou um de verdade). Ao citar alguma passagem, por favor, dê créditos para a autora: até para as grandes bobagens o direito autoral é inalienável.
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Testamento
No penúltimo dia do ano, tem que haver espaço para algum lirismo! Então deixemos as coisas sérias e circunspectas para outro dia. O momento pede interiorização, recolhimento, um olhar retrospectivo que capte o que há por dentro para dar sentido ao que está do lado de fora.
E como estamos falando de introspecção-retrospecção, faço minhas as palavras de Manuel Bandeira:
Testamento
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
"Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.
Aos que me seguiram (ou não) ao longo do ano, ficam aqui: meu abraço, minha gratidão, minha reverência diante do ano que se aproxima.
Feliz Ano Novo!
E como estamos falando de introspecção-retrospecção, faço minhas as palavras de Manuel Bandeira:
Testamento
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
"Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.
Aos que me seguiram (ou não) ao longo do ano, ficam aqui: meu abraço, minha gratidão, minha reverência diante do ano que se aproxima.
Feliz Ano Novo!
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Velhas contendas
Você já se perguntou por que torce a cara em sinal de desgosto ou por que infla o peito para demonstrar orgulho? Sim? Não?
Pois saiba que pesquisadores da Universidade de Oregon (EUA) e de British Columbia (Canadá) chegaram a uma "conclusão" interessante sobre a expressão facial das emoções: "a expressão facial de emoções, além de ser uma forma de comunicação não verbal, tem razão biológica e evolutiva, preparando o organismo para possíveis armadilhas do ambiente" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1027387-cara-de-medo-ou-de-vergonha-tem-razao-biologica-diz-estudo.shtml).
A matéria publicada hoje na Folha Equilíbrio sinaliza mais uma tomada de posição em um debate que é antigo: o limite entre a ordem das determinações biológicas (muitas vezes erroneamente tidas como inatas, universais e imutáveis) e a das determinações culturais (adquiridas via socialização, cambiantes, relativas, culturalmente circunscritas). E a posição tomada é a seguinte: determinadas expressões faciais não são exclusivamente determinadas pela dimensão cultural porque têm função biológica bastante clara.
O ato de arregalar os olhos de medo ou susto é um exemplo de reação fisiologicamente motivada: "Arregalar os olhos aumenta o campo visual e a velocidade do movimento do globo ocular, permitindo identificar melhor objetos que estejam em volta". Estas faculdades seriam valiosas para "situações ameaçadoras, como o ataque de um predador, essa capacidade pode ser determinante para a sobrevivência", explica a matéria.
De maneira análoga, "quando uma pessoa não gosta de algo, aquela cara de nojo com o nariz 'torcido' e os dentes cerrados é uma forma de inibir o paladar e o olfato, afastando o risco de contato com venenos ou contaminantes", prossegue a notícia.
O mesmo valeria para outras expressões emocionais como o ato de inflar o peito em sinal de orgulho: "inflar o peito de orgulho aumentaria a produção de testosterona e a capacidade pulmonar, deixando qualquer pessoa mais preparada para interagir socialmente".
Claro, os achados de pesquisa que foram publicados originalmente na Revista Current in Psychological Science e replicados na matéria da Folha Equilíbrio são muito menos conclusivos do que deixa entrever as primeiras linhas desta última. Somente no penúltimo parágrafo é que se revela uma ressalva importante, feita pelos próprios pesquisadores em questão: "No entanto, os autores admitem que são necessárias mais pesquisas para identificar a explicação biológica para fisionomias comuns, como raiva, tristeza e felicidade".
Em outros termos, o que autores fizeram foi encontrar uma motivação biológica na expressão de algumas emoções, o que não quer dizer que todas as emoções tenham uma motivação biológica. Além disso, a notícia da Folha poderia ter levantado uma série de questões de ordem experimental que não ficaram claras no texto (e que nem sabemos se foram abordadas na publicação original da Revista Current in Psychological Science).
Poderíamos argumentar, por exemplo, que as emoções não são expressas em estado puro, mas amalgamadas em formas expressivas complexas, nas quais predominam sentimentos muitas vezes paradoxais. Como explicar a motivação biológica quando coexistem sentimentos díspares, como prazer e ódio, medo e atração, etc, etc, etc? O que equivaleria a dizer que, do ponto de vista meramente fisiológico, a realidade expressiva da maioria das pessoas normais é uma "bagunça": motivações diversas e díspares coexistem e podem até mesmo entrar em conflito, o que pode, a meu ver, fragilizar um pouco a teoria da motivação fisiológica.
De qualquer forma, fica difícil imaginar um corpo "sábio" no sentido mais restrito da resposta adaptativa eficaz, isto é, capaz de tomar uma resolução clara em um sentido unívoco, na qual ele pudesse otimizar suas estratégias de sobrevivência... Não que o corpo não seja sábio. Mas, neste processo expressivo, outras motivações interagem com a função biológica. O que - reconheço - em nada contradiz a proposição inicial dos autores: a expressão das emoções continuam sendo (também) uma forma de comunicação não-verbal. E pronto. Fim da contenda?
Talvez. Mas, no final das contas, a impressão que fica é a seguinte: ler as matérias de divulgação científica nos jornais atualmente é um desafio parecido com o de ver uma peça de teatro pela buraco da fechadura. A visão parcial de algumas cenas limita- quando não impede - uma plena compreensão da narrativa completa. Ressalto que o efeito de simplificação de uma matéria que tenta (em princípio) vulgarizar um conhecimento científico altamente especializado para um público leigo não é em si um problema - os traillers de filme exibidos nos cinemas estão aí para provar que a amostra grátis é muitas vezes melhor do que o produto final. O problema é quando questões importantes e pertinentes deixam de ser levantadas em prol da mera "objetividade" na tradução deste conhecimento.
Resumindo: não faltam apenas mais informações que podem estar presentes na publicação original; faltam perguntas mais estimulantes.
Pois saiba que pesquisadores da Universidade de Oregon (EUA) e de British Columbia (Canadá) chegaram a uma "conclusão" interessante sobre a expressão facial das emoções: "a expressão facial de emoções, além de ser uma forma de comunicação não verbal, tem razão biológica e evolutiva, preparando o organismo para possíveis armadilhas do ambiente" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1027387-cara-de-medo-ou-de-vergonha-tem-razao-biologica-diz-estudo.shtml).
A matéria publicada hoje na Folha Equilíbrio sinaliza mais uma tomada de posição em um debate que é antigo: o limite entre a ordem das determinações biológicas (muitas vezes erroneamente tidas como inatas, universais e imutáveis) e a das determinações culturais (adquiridas via socialização, cambiantes, relativas, culturalmente circunscritas). E a posição tomada é a seguinte: determinadas expressões faciais não são exclusivamente determinadas pela dimensão cultural porque têm função biológica bastante clara.
O ato de arregalar os olhos de medo ou susto é um exemplo de reação fisiologicamente motivada: "Arregalar os olhos aumenta o campo visual e a velocidade do movimento do globo ocular, permitindo identificar melhor objetos que estejam em volta". Estas faculdades seriam valiosas para "situações ameaçadoras, como o ataque de um predador, essa capacidade pode ser determinante para a sobrevivência", explica a matéria.
De maneira análoga, "quando uma pessoa não gosta de algo, aquela cara de nojo com o nariz 'torcido' e os dentes cerrados é uma forma de inibir o paladar e o olfato, afastando o risco de contato com venenos ou contaminantes", prossegue a notícia.
O mesmo valeria para outras expressões emocionais como o ato de inflar o peito em sinal de orgulho: "inflar o peito de orgulho aumentaria a produção de testosterona e a capacidade pulmonar, deixando qualquer pessoa mais preparada para interagir socialmente".
Claro, os achados de pesquisa que foram publicados originalmente na Revista Current in Psychological Science e replicados na matéria da Folha Equilíbrio são muito menos conclusivos do que deixa entrever as primeiras linhas desta última. Somente no penúltimo parágrafo é que se revela uma ressalva importante, feita pelos próprios pesquisadores em questão: "No entanto, os autores admitem que são necessárias mais pesquisas para identificar a explicação biológica para fisionomias comuns, como raiva, tristeza e felicidade".
Em outros termos, o que autores fizeram foi encontrar uma motivação biológica na expressão de algumas emoções, o que não quer dizer que todas as emoções tenham uma motivação biológica. Além disso, a notícia da Folha poderia ter levantado uma série de questões de ordem experimental que não ficaram claras no texto (e que nem sabemos se foram abordadas na publicação original da Revista Current in Psychological Science).
Poderíamos argumentar, por exemplo, que as emoções não são expressas em estado puro, mas amalgamadas em formas expressivas complexas, nas quais predominam sentimentos muitas vezes paradoxais. Como explicar a motivação biológica quando coexistem sentimentos díspares, como prazer e ódio, medo e atração, etc, etc, etc? O que equivaleria a dizer que, do ponto de vista meramente fisiológico, a realidade expressiva da maioria das pessoas normais é uma "bagunça": motivações diversas e díspares coexistem e podem até mesmo entrar em conflito, o que pode, a meu ver, fragilizar um pouco a teoria da motivação fisiológica.
De qualquer forma, fica difícil imaginar um corpo "sábio" no sentido mais restrito da resposta adaptativa eficaz, isto é, capaz de tomar uma resolução clara em um sentido unívoco, na qual ele pudesse otimizar suas estratégias de sobrevivência... Não que o corpo não seja sábio. Mas, neste processo expressivo, outras motivações interagem com a função biológica. O que - reconheço - em nada contradiz a proposição inicial dos autores: a expressão das emoções continuam sendo (também) uma forma de comunicação não-verbal. E pronto. Fim da contenda?
Talvez. Mas, no final das contas, a impressão que fica é a seguinte: ler as matérias de divulgação científica nos jornais atualmente é um desafio parecido com o de ver uma peça de teatro pela buraco da fechadura. A visão parcial de algumas cenas limita- quando não impede - uma plena compreensão da narrativa completa. Ressalto que o efeito de simplificação de uma matéria que tenta (em princípio) vulgarizar um conhecimento científico altamente especializado para um público leigo não é em si um problema - os traillers de filme exibidos nos cinemas estão aí para provar que a amostra grátis é muitas vezes melhor do que o produto final. O problema é quando questões importantes e pertinentes deixam de ser levantadas em prol da mera "objetividade" na tradução deste conhecimento.
Resumindo: não faltam apenas mais informações que podem estar presentes na publicação original; faltam perguntas mais estimulantes.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
¡Adios, amigos!
Mais um ano chegando ao fim: hora de começar as despedidas.
Comecemos pela macaca chita - é, aquela mesma que aparecia nos filmes do Tarzan - que faleceu por falha renal aos 80 anos de idade (http://oglobo.globo.com/cultura/chita-dos-filmes-do-tarzan-morre-aos-80-anos-3523980).
Radicado no Santuário Suncoast de Primatas, em Palm Harbor (EUA), Chita terminou a vida convivendo com um grande mal-entendido: ele era um chimpanzé macho. A informação é confirmada por Debbie Cobb, diretora do Santuário onde Chita passou seus últimos dias: "Chita era extrovertido, adorava pintar com os dedos e ver pessoas rindo", informa a notícia publicada no jornal O Globo online.
Bye, bye, Chita! Seja feliz lá onde estiver.
Hora de nos despedir também do Sr. Frederico Costa Miguel, o delegado da Polícia Civil de São Paulo que prendeu o juiz Francisco Orlando de Souza por "dirigir sem habilitação, embriaguez ao volante, desacato, desobediência, ameaça, difamação e injúria" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1027172-delegado-que-prendeu-juiz-e-exonerado-do-cargo-em-sao-paulo.shtml).
Após uma discussão no trânsito, o distinto magistrado foi parar no 1º DP de São Bernardo do Campo (ABC Paulista), onde o Sr. Miguel atuava como delegado. O problema é que uma série de "fatos" infelizes se sucederam à prisão: 1) o juiz em questão acabou sendo promovido a desembargador 10 dias após o incidente; 2) "o presidente do TJ paulista, José Roberto Bedran, pediu para a Secretaria da Segurança Pública criar a função de 'delegado especial' para cuidar de casos envolvendo juízes", pedido este que não foi acatado; 3) o delegado terminaria seu estágio probatório de três anos em 30 de janeiro de 2012.
Para coroar este insólito caso de exoneração, "o desembargador afirmou ontem que não sabia da exoneração e que 'tudo não passou de um mal-entendido' ", relata a notícia publicada na Folha online.
Mal-entendidos a parte, Chita e o distinto desembargador gostam mesmo é de fazer as pessoas rirem. Riamos, pois! Mas não sem antes desejar sinceramente ao ex-delegado uma carreira promissora em algum ponto mais sério deste planeta.
Comecemos pela macaca chita - é, aquela mesma que aparecia nos filmes do Tarzan - que faleceu por falha renal aos 80 anos de idade (http://oglobo.globo.com/cultura/chita-dos-filmes-do-tarzan-morre-aos-80-anos-3523980).
Radicado no Santuário Suncoast de Primatas, em Palm Harbor (EUA), Chita terminou a vida convivendo com um grande mal-entendido: ele era um chimpanzé macho. A informação é confirmada por Debbie Cobb, diretora do Santuário onde Chita passou seus últimos dias: "Chita era extrovertido, adorava pintar com os dedos e ver pessoas rindo", informa a notícia publicada no jornal O Globo online.
Bye, bye, Chita! Seja feliz lá onde estiver.
Hora de nos despedir também do Sr. Frederico Costa Miguel, o delegado da Polícia Civil de São Paulo que prendeu o juiz Francisco Orlando de Souza por "dirigir sem habilitação, embriaguez ao volante, desacato, desobediência, ameaça, difamação e injúria" (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1027172-delegado-que-prendeu-juiz-e-exonerado-do-cargo-em-sao-paulo.shtml).
Após uma discussão no trânsito, o distinto magistrado foi parar no 1º DP de São Bernardo do Campo (ABC Paulista), onde o Sr. Miguel atuava como delegado. O problema é que uma série de "fatos" infelizes se sucederam à prisão: 1) o juiz em questão acabou sendo promovido a desembargador 10 dias após o incidente; 2) "o presidente do TJ paulista, José Roberto Bedran, pediu para a Secretaria da Segurança Pública criar a função de 'delegado especial' para cuidar de casos envolvendo juízes", pedido este que não foi acatado; 3) o delegado terminaria seu estágio probatório de três anos em 30 de janeiro de 2012.
Para coroar este insólito caso de exoneração, "o desembargador afirmou ontem que não sabia da exoneração e que 'tudo não passou de um mal-entendido' ", relata a notícia publicada na Folha online.
Mal-entendidos a parte, Chita e o distinto desembargador gostam mesmo é de fazer as pessoas rirem. Riamos, pois! Mas não sem antes desejar sinceramente ao ex-delegado uma carreira promissora em algum ponto mais sério deste planeta.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
O baile da galinha
O ano vai terminando e eu aqui pensando no grande baile!
Particularmente, no grande baile que esta galinha chinesa andou dando em oito tigres siberianos antes de perecer sob as garras do felinos. O evento em questão, devidamente registrado pelas lentes de algum fotógrafo da agência Reuters, aconteceu no Tiger Forest Park, na China, diante do olhar embasbacado de dezenas de turistas ali presentes (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1026629-antes-de-morrer-galinha-da-baile-em-oito-tigres-na-china.shtml).
Se bem que eu acho muito mais nobre morrer com heroísmo na boca dos tigres do que esfaqueado por causa de um par de sapatos em promoção, como nos mostra notícia publicada hoje pelo jornal Hoje em Dia online. "Um jovem de 18 anos morreu apunhalado pouco depois do meio-dia na loja de calçados Foot Locker, após um confronto entre dois grupos de adolescentes" em Londres, no último dia 26 de dezembro (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/policia-prende-suspeitos-de-ataques-com-facas-em-londres-1.386207).
O fato em questão ocorreu durante o famoso "Boxing Day", dia consecutivo ao Natal em que o comércio local promove liquidações de arrasar o quarteirão. Apesar de ser prática comercial consagrada em diversos países anglo-saxônicos, o saldo de um morto e 14 pessoas presas por porte de arma branca em dois incidentes em Londres é algo mais do que estarrecedor: é um sinal de que a vida de muita gente anda realmente sem sentido: afinal, como frisa o próprio jornal, tratava-se apenas de "uma luta para aproveitar as promoções".
Guardadas as devidas proporções, prefiro ver meu ano de 2011 chegando ao fim exatamente como a galinha do Tiger Forest Park: dando um baile em oito tigres antes de bater as botas. É que quando você acha que seu ano vai acabar linda e tranquilamente, com as coisas chegando mais ou menos no eixo, com novas perspectivas e projetos despontando no horizonte, surpresa: mais provações, mais tigres, mais pena voando na poeira levantada.
Aliás, se você, estimado leitor, anda achando sua vida muito sem surpresas, pense na sorte desta galinha: mesmo sabendo do fim provável - a morte - ela não deixou de lutar bravamente pela própria vida (http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/5917-antes-de-morrer-galinha-da-baile-em-oito-tigres-na-china#foto-110521). Sem dúvida, um exemplo a ser seguido de perto. Pois assim somos todos nós: antes de passar desta para melhor, podemos dar o baile em vários tigres. Ou então morrer por um par de sapatos que nem teremos a chance de usar. A escolha é de cada um.
E vamos que vamos porque o ano ainda não acabou!
Particularmente, no grande baile que esta galinha chinesa andou dando em oito tigres siberianos antes de perecer sob as garras do felinos. O evento em questão, devidamente registrado pelas lentes de algum fotógrafo da agência Reuters, aconteceu no Tiger Forest Park, na China, diante do olhar embasbacado de dezenas de turistas ali presentes (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1026629-antes-de-morrer-galinha-da-baile-em-oito-tigres-na-china.shtml).
Se bem que eu acho muito mais nobre morrer com heroísmo na boca dos tigres do que esfaqueado por causa de um par de sapatos em promoção, como nos mostra notícia publicada hoje pelo jornal Hoje em Dia online. "Um jovem de 18 anos morreu apunhalado pouco depois do meio-dia na loja de calçados Foot Locker, após um confronto entre dois grupos de adolescentes" em Londres, no último dia 26 de dezembro (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/policia-prende-suspeitos-de-ataques-com-facas-em-londres-1.386207).
O fato em questão ocorreu durante o famoso "Boxing Day", dia consecutivo ao Natal em que o comércio local promove liquidações de arrasar o quarteirão. Apesar de ser prática comercial consagrada em diversos países anglo-saxônicos, o saldo de um morto e 14 pessoas presas por porte de arma branca em dois incidentes em Londres é algo mais do que estarrecedor: é um sinal de que a vida de muita gente anda realmente sem sentido: afinal, como frisa o próprio jornal, tratava-se apenas de "uma luta para aproveitar as promoções".
Guardadas as devidas proporções, prefiro ver meu ano de 2011 chegando ao fim exatamente como a galinha do Tiger Forest Park: dando um baile em oito tigres antes de bater as botas. É que quando você acha que seu ano vai acabar linda e tranquilamente, com as coisas chegando mais ou menos no eixo, com novas perspectivas e projetos despontando no horizonte, surpresa: mais provações, mais tigres, mais pena voando na poeira levantada.
Aliás, se você, estimado leitor, anda achando sua vida muito sem surpresas, pense na sorte desta galinha: mesmo sabendo do fim provável - a morte - ela não deixou de lutar bravamente pela própria vida (http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/5917-antes-de-morrer-galinha-da-baile-em-oito-tigres-na-china#foto-110521). Sem dúvida, um exemplo a ser seguido de perto. Pois assim somos todos nós: antes de passar desta para melhor, podemos dar o baile em vários tigres. Ou então morrer por um par de sapatos que nem teremos a chance de usar. A escolha é de cada um.
E vamos que vamos porque o ano ainda não acabou!
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Corrida econômica
Pesquisas podem ter motivações as mais variadas, mas aquelas cujos resultados acabam se revelando contra-intuitivos são, definitivamente, as que mais me aprazem.
O Globo online de hoje trouxe uma boa nova para os corredores senis: "Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de New Hampshire e publicado no 'Journal of Strenght and Conditioning Research' mostrou que corredores mais velhos podem ser tão eficientes quanto os mais novos" (http://oglobo.globo.com/saude/corredores-mais-velhos-sao-tao-eficientes-quanto-os-jovens-3506687#ixzz1hfPew8eX).
A conclusão foi tirada após a medição da "economia de corrida" - "uma medida que mostra quanto de oxigênio uma pessoa consome para correr em um determinado ritmo" - de 51 corredores, com idades variando de 18 a 77 anos. Mas outros critérios se aplicavam igualmente à seleção da amostra: todos deveriam estar treinando regularmente e ter ficado, cada qual em sua respectiva faixa etária, entre os três primeiros colocados em percursos de 5km ou 10km.
Partindo-se do princípio de que "os atletas considerados 'econômicos' são capazes de continuar a correr a um certo passo por mais tempo que os demais", os dados coletados acabaram surpreendendo os próprios pesquisadores: "ao final do teste, esportistas idosos se mostraram tão econômicos fisiologicamente quanto os de 20 ou 30 anos". Isto significa que atletas com mais de 60 anos não consomem mais oxigênio que os mais jovens, o que contrariava as expectativas iniciais dos próprios pesquisadores.
Portanto, corram! O Ano Novo está chegando e, com ele, ótimos motivos para quem gosta de correr (o que definitivamente não é o meu caso) e pretende continuar correndo pelo resto da vida. E para quem gosta de viver no sufoco, uma ótima desculpa para justificar a correria nossa de cada dia.
O Globo online de hoje trouxe uma boa nova para os corredores senis: "Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de New Hampshire e publicado no 'Journal of Strenght and Conditioning Research' mostrou que corredores mais velhos podem ser tão eficientes quanto os mais novos" (http://oglobo.globo.com/saude/corredores-mais-velhos-sao-tao-eficientes-quanto-os-jovens-3506687#ixzz1hfPew8eX).
A conclusão foi tirada após a medição da "economia de corrida" - "uma medida que mostra quanto de oxigênio uma pessoa consome para correr em um determinado ritmo" - de 51 corredores, com idades variando de 18 a 77 anos. Mas outros critérios se aplicavam igualmente à seleção da amostra: todos deveriam estar treinando regularmente e ter ficado, cada qual em sua respectiva faixa etária, entre os três primeiros colocados em percursos de 5km ou 10km.
Partindo-se do princípio de que "os atletas considerados 'econômicos' são capazes de continuar a correr a um certo passo por mais tempo que os demais", os dados coletados acabaram surpreendendo os próprios pesquisadores: "ao final do teste, esportistas idosos se mostraram tão econômicos fisiologicamente quanto os de 20 ou 30 anos". Isto significa que atletas com mais de 60 anos não consomem mais oxigênio que os mais jovens, o que contrariava as expectativas iniciais dos próprios pesquisadores.
Portanto, corram! O Ano Novo está chegando e, com ele, ótimos motivos para quem gosta de correr (o que definitivamente não é o meu caso) e pretende continuar correndo pelo resto da vida. E para quem gosta de viver no sufoco, uma ótima desculpa para justificar a correria nossa de cada dia.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Natalinas
Esta blogueira deseja um Feliz Natal a quem por ventura passar por aqui. E avisa que saiu para encontrar amigos, rever a família e colocar a prosa em dia com um monte de gente que não vê há um bom tempo.
Desejo que cada um encontre debaixo de sua árvore os frutos dos esforços plantados ao longo do ano de 2011: em especial, o amor doado e a alegria compartilhada por cada um.
Feliz Natal!
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Solstício
Ei-nos, portanto, no dia em que o astro rei alcança sua plenitude aqui no Hemisfério Sul! O evento tem nome e se chama solstício de verão: hoje de manhã, às 05h30 mais precisamente, os raios solares incidiram perpendicularmente sobre o Trópico de Capricórnio.
Aqui na Roça Grande e adjacências, para variar, o solstício de verão foi comemorado debaixo de uma bela chuva. E que chuva: já até batemos o recorde histórico intergalático de chuva em todos os meses de dezembro aqui na Roça Grande, do Big Bang até hoje: "De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a medição pluviométrica do mês marcou 606,4 milímetros de precipitação, valor acima do recorde de 2008: 601,3 milímetros" (http://oglobo.globo.com/pais/mg-chuvas-deixam-21-cidades-em-situacao-de-emergencia-3487284#ixzz1hJrZFaKp).
Mas não tem problema: hoje o meu sol interior brilhou que só vendo. Em reverência a este astro que não se apaga, sou toda louvor e agradecimento. Boas notícias batem na porta. A Esperança pede para entrar. Mudanças à vista. Eba! É roda da vida que retoma seu ritmo.
E já que é a festa do sol abaixo da linha do Equador, dancemos então em torno de uma fogueira imaginária, de mãos dadas, batendo os pés no chão e chamando pela bem-aventurança. Ela com certeza virá para os dançarinos mais impetuosos.
Aqui na Roça Grande e adjacências, para variar, o solstício de verão foi comemorado debaixo de uma bela chuva. E que chuva: já até batemos o recorde histórico intergalático de chuva em todos os meses de dezembro aqui na Roça Grande, do Big Bang até hoje: "De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a medição pluviométrica do mês marcou 606,4 milímetros de precipitação, valor acima do recorde de 2008: 601,3 milímetros" (http://oglobo.globo.com/pais/mg-chuvas-deixam-21-cidades-em-situacao-de-emergencia-3487284#ixzz1hJrZFaKp).
Mas não tem problema: hoje o meu sol interior brilhou que só vendo. Em reverência a este astro que não se apaga, sou toda louvor e agradecimento. Boas notícias batem na porta. A Esperança pede para entrar. Mudanças à vista. Eba! É roda da vida que retoma seu ritmo.
E já que é a festa do sol abaixo da linha do Equador, dancemos então em torno de uma fogueira imaginária, de mãos dadas, batendo os pés no chão e chamando pela bem-aventurança. Ela com certeza virá para os dançarinos mais impetuosos.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Segredo comercial
Eu nem sou lá tão vidrada assim com tecnologia: aliás, nem gosto, nem desgosto. Mas tem sido inevitável comentar determinadas notícias celebracionistas que fazem alarde de novas tecnologias em desenvolvimento. Antes de ontem mesmo eu tinha comentado o prognóstico da IBM de desenvolver tecnologia capaz de os pensamentos dentro de um prazo de cinco anos (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/12/prognosticos-alexitimicos.html). Agora, é a vez da Apple e do Google desenvolverem "secretamente" computadores de bolso que serão usados como roupa de vestir.
Nada contra também. As duas empresas têm o direito de desenvolverem aquilo que bem entenderem. Mas anunciar nos jornais que os produtos estão sendo desenvolvidos "secretamente" é fazer troça da nossa inteligência. A matéria de Nick Bilton, traduzida do New York Times e publicada em segunda mão na Folha online de hoje, por exemplo, carrega nas tintas para ressaltar este aspecto: "Ao longo dos últimos 12 meses, a Apple e o Google começaram secretamente a trabalhar em projetos que resultarão em computadores de vestir. O objetivo principal das duas empresas é vender mais smartphones" (ww1.folha.uol.com.br/tec/1024198-apple-e-google-trabalham-em-aparelhos-para-usarmos-como-roupa.shtml).
Se, por um lado, fica clara a intenção de nos fazer crer que o desenvolvimento do produto acontece a sete chaves, o mesmo não pode ser dito do seu objetivo final: vender mais não é segredo para ninguém em plena era de capitalismo avançado. Mas como a necessidade de venda dispensa confirmação, tamanha sua obviedade, o jeito encontrado pelo autor da matéria foi não dar trégua na estratégia de manter o segredo comercial: "No Google X, o laboratório secreto do Google, pesquisadores estão trabalhando em periféricos que, ligados ao seu corpo ou à sua roupa, transmitiriam informações a um celular Android".
Como se não bastasse o "laboratório secreto", bem aos moldes dos filmes do 007, a matéria insinua que "o segredo" tenha sido obtido graças ao contato com fontes bem-informadas: "Pessoas que conhecem o trabalho dizem que o Google contratou engenheiros eletrônicos da Nokia Labs, da Apple e de cursos universitários de engenharia especializados em pequenos computadores de vestir". Mas quem são essas pessoas? Pouco importa. Quando se trata de tecnologias em vias de serem tornadas realidade, o segredo ainda é o grande charme do negócio.
E o segredo aqui é uma estratégia compartilhada, diga-se de passagem. Após uma breve descrição geral dos trabalhos realizados pela Apple - que "também realizou experiências com protótipos de produtos capazes de transmitir informações ao iPhone" - aprende-se um pouco mais sobre aquilo que ninguém pode dizer abertamente, porque é "segredo" comercial: "uma pessoa que conhece os planos da empresa me disse que 'um pequeno grupo de funcionários da Apple' vem conceituando e até desenvolvendo protótipos de aparelhos de vestir".
Aliás, segredo comercial ou delação premiada? Ora, o segredo só vale a pena porque foi contado pela tal pessoa bem-informada, que conhece todos os planos da empresa e não hesita em delatá-los para o jornal mais próximo. Uma piada só: a única coisa nessa matéria que permanece realmente em segredo são os nomes dos informantes - claro, senão o jogo perde a graça.
O resto da matéria publicada na Folha, amigos leitores, é pura prospecção de um futuro onde eu só vejo incerteza: "Ao longo dos dez próximos anos, diz, é possível que as pessoas passem a usar óculos com telas incorporadas e, eventualmente, lentes de contato com telas funcionais". O objetivo das telas "é misturar o mundo real e o virtual", alerta o pesquisador sênior especializado em computadores de vestir no Instituto do Futuro, em Palo Alto (USA), Sr. Michael Liebhold. Isto é, as realidade virtuais se sobreporiam a um ambiente real, numa espécie de "RPG" digital.
Tarde demais! Agora que já sabemos de tudo, o jeito vai ser aguardar ansiosamente na fila de espera com os nossos cartões de crédito em punho. Mas já não havia sido dito desde o princípio que o objetivo final do Google e da Apple era realmente vender? Então... Só que para saber disso, nem precisava de delação premiada.
Nada contra também. As duas empresas têm o direito de desenvolverem aquilo que bem entenderem. Mas anunciar nos jornais que os produtos estão sendo desenvolvidos "secretamente" é fazer troça da nossa inteligência. A matéria de Nick Bilton, traduzida do New York Times e publicada em segunda mão na Folha online de hoje, por exemplo, carrega nas tintas para ressaltar este aspecto: "Ao longo dos últimos 12 meses, a Apple e o Google começaram secretamente a trabalhar em projetos que resultarão em computadores de vestir. O objetivo principal das duas empresas é vender mais smartphones" (ww1.folha.uol.com.br/tec/1024198-apple-e-google-trabalham-em-aparelhos-para-usarmos-como-roupa.shtml).
Se, por um lado, fica clara a intenção de nos fazer crer que o desenvolvimento do produto acontece a sete chaves, o mesmo não pode ser dito do seu objetivo final: vender mais não é segredo para ninguém em plena era de capitalismo avançado. Mas como a necessidade de venda dispensa confirmação, tamanha sua obviedade, o jeito encontrado pelo autor da matéria foi não dar trégua na estratégia de manter o segredo comercial: "No Google X, o laboratório secreto do Google, pesquisadores estão trabalhando em periféricos que, ligados ao seu corpo ou à sua roupa, transmitiriam informações a um celular Android".
Como se não bastasse o "laboratório secreto", bem aos moldes dos filmes do 007, a matéria insinua que "o segredo" tenha sido obtido graças ao contato com fontes bem-informadas: "Pessoas que conhecem o trabalho dizem que o Google contratou engenheiros eletrônicos da Nokia Labs, da Apple e de cursos universitários de engenharia especializados em pequenos computadores de vestir". Mas quem são essas pessoas? Pouco importa. Quando se trata de tecnologias em vias de serem tornadas realidade, o segredo ainda é o grande charme do negócio.
E o segredo aqui é uma estratégia compartilhada, diga-se de passagem. Após uma breve descrição geral dos trabalhos realizados pela Apple - que "também realizou experiências com protótipos de produtos capazes de transmitir informações ao iPhone" - aprende-se um pouco mais sobre aquilo que ninguém pode dizer abertamente, porque é "segredo" comercial: "uma pessoa que conhece os planos da empresa me disse que 'um pequeno grupo de funcionários da Apple' vem conceituando e até desenvolvendo protótipos de aparelhos de vestir".
Aliás, segredo comercial ou delação premiada? Ora, o segredo só vale a pena porque foi contado pela tal pessoa bem-informada, que conhece todos os planos da empresa e não hesita em delatá-los para o jornal mais próximo. Uma piada só: a única coisa nessa matéria que permanece realmente em segredo são os nomes dos informantes - claro, senão o jogo perde a graça.
O resto da matéria publicada na Folha, amigos leitores, é pura prospecção de um futuro onde eu só vejo incerteza: "Ao longo dos dez próximos anos, diz, é possível que as pessoas passem a usar óculos com telas incorporadas e, eventualmente, lentes de contato com telas funcionais". O objetivo das telas "é misturar o mundo real e o virtual", alerta o pesquisador sênior especializado em computadores de vestir no Instituto do Futuro, em Palo Alto (USA), Sr. Michael Liebhold. Isto é, as realidade virtuais se sobreporiam a um ambiente real, numa espécie de "RPG" digital.
Tarde demais! Agora que já sabemos de tudo, o jeito vai ser aguardar ansiosamente na fila de espera com os nossos cartões de crédito em punho. Mas já não havia sido dito desde o princípio que o objetivo final do Google e da Apple era realmente vender? Então... Só que para saber disso, nem precisava de delação premiada.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Exopsicodelismo
A gente quer porque quer decifrar todos os sinais que o universo nos envia, mas não tem jeito: alguns deles desafiam qualquer entendimento. Hoje mesmo estava caminhando distraidamente depois da minha aula de yoga, quando um hippie me para na rua e canta a seguinte canção: "Ê, anos 80, charrete que perdeu o condutor". E depois pergunta: "É ou não é verdade?"
Mas por que EU deveria saber? Bem, se soubesse a letra da canção do Raul Seixas de cor, responderia com outro trecho: algo como"Hey, anos 80, melancolia e promessas de amor" ou "pobre país carregador dessa miséria dividida entre Ipanema e a empregada do patrão". Mas como não sabia, fiquei só me perguntando se eu tinha cara de anos 80. Devo ter.
Preocupante? Não sei. Talvez. No mínimo, ter cara de anos 80 denotaria um profundo desacerto com o tempo e os costumes vigentes em 2011. E a palavra elegante que descreve esta mania de andar em descompasso é "anacronismo", que nada mais é do que uma prima afetada do termo "desajuste". Ok, sou uma desajustada, confesso. Mas onde é que vou parar no ano que vem?
Já ia naufragando nesses pensamentos, quando me deparei com mais essa notícia publicada no jornal Hoje em Dia online comentando a descoberta de mais dois dos chamados "exoplanetas": "Astrônomos anunciaram nesta terça-feira (20) ter encontrado dois mundos do tamanho da Terra em órbita de uma estrela similar ao nosso Sol, em outro grande avanço na busca pelos chamados exoplanetas" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/astronomos-anunciam-descoberta-de-dois-mundos-do-tamanho-da-terra-1.383957).
Descobertas de explanetas andam pipocando aos montes no noticiário diário. Até então, estava intrigada com essa obsessão por encontrar planetas cujas condições são análogas à da Terra (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/12/alento.html). Mas hoje já começo a ver sentido em tudo. Aliás, se eu pudesse, tentaria a sorte grande em um exoplaneta distante. Iria tentar vender cd e dvd pirateado numa banquinha da esquina da padaria. Digo vender cd e dvd porque já fiz tanta coisa que não tem nada a ver com nada nesta minha vida terrena, que a atividade em questão não me parece em nada absurda. Ou tentaria dar a volta ao mundo a pé em um exoplaneta-anão. Vale tudo nesses exoplanetas: "O planeta maior, Kepler-20f, completa um ano em 19,5 dias e deve ter uma atmosfera espessa de vapor d'água, enquanto o menor, Kepler-20e, dá uma volta completa na estrela em apenas 6,1 dias". Enfim, daria para abraçar o mundo com as pernas!
Enfim, muitas são as opções de vida em situações análogas, mas distantes. Grande é a imaginação que cria um espaço de fuga imediato, uma espécie de buraco cavado no tempo, onde ter o look dos anos 80 é "in" e hippie nenhum coloca defeito.
Mas por que EU deveria saber? Bem, se soubesse a letra da canção do Raul Seixas de cor, responderia com outro trecho: algo como"Hey, anos 80, melancolia e promessas de amor" ou "pobre país carregador dessa miséria dividida entre Ipanema e a empregada do patrão". Mas como não sabia, fiquei só me perguntando se eu tinha cara de anos 80. Devo ter.
Preocupante? Não sei. Talvez. No mínimo, ter cara de anos 80 denotaria um profundo desacerto com o tempo e os costumes vigentes em 2011. E a palavra elegante que descreve esta mania de andar em descompasso é "anacronismo", que nada mais é do que uma prima afetada do termo "desajuste". Ok, sou uma desajustada, confesso. Mas onde é que vou parar no ano que vem?
Já ia naufragando nesses pensamentos, quando me deparei com mais essa notícia publicada no jornal Hoje em Dia online comentando a descoberta de mais dois dos chamados "exoplanetas": "Astrônomos anunciaram nesta terça-feira (20) ter encontrado dois mundos do tamanho da Terra em órbita de uma estrela similar ao nosso Sol, em outro grande avanço na busca pelos chamados exoplanetas" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/astronomos-anunciam-descoberta-de-dois-mundos-do-tamanho-da-terra-1.383957).
Descobertas de explanetas andam pipocando aos montes no noticiário diário. Até então, estava intrigada com essa obsessão por encontrar planetas cujas condições são análogas à da Terra (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/12/alento.html). Mas hoje já começo a ver sentido em tudo. Aliás, se eu pudesse, tentaria a sorte grande em um exoplaneta distante. Iria tentar vender cd e dvd pirateado numa banquinha da esquina da padaria. Digo vender cd e dvd porque já fiz tanta coisa que não tem nada a ver com nada nesta minha vida terrena, que a atividade em questão não me parece em nada absurda. Ou tentaria dar a volta ao mundo a pé em um exoplaneta-anão. Vale tudo nesses exoplanetas: "O planeta maior, Kepler-20f, completa um ano em 19,5 dias e deve ter uma atmosfera espessa de vapor d'água, enquanto o menor, Kepler-20e, dá uma volta completa na estrela em apenas 6,1 dias". Enfim, daria para abraçar o mundo com as pernas!
Enfim, muitas são as opções de vida em situações análogas, mas distantes. Grande é a imaginação que cria um espaço de fuga imediato, uma espécie de buraco cavado no tempo, onde ter o look dos anos 80 é "in" e hippie nenhum coloca defeito.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Eclipses alexitímicos
Final de ano, chuva, trânsito, pés alagados. Quem se achar em condições de tirar os olhos dos próprios sapatos encharcados e olhar para trás, terá a grata oportunidade de avaliar o ano que passou, com tudo de positivo e negativo que ele tenha proporcionado. E quem não se achar em condições para tanto, certamente incorrerá no risco de entrar em 2012 brincando de eclipse oculto na luz do verão: ou seja, parando "no meio/ sem saber os desejos/ aonde é que iam dar".
Ao que parece, a leitura dos desejos - e de onde é que eles vão dar - está virando uma questão crucial a ser resolvida (ou complicada) com as novas tecnologias eletrônicas. Pelo menos, é o que dá a entender a empresa IBM, ao publicar seu famoso relatório anual "5 in 5". "Nele, a empresa cita cinco tecnologias que ela acredita que existirão nos próximos cinco anos", explica notícia publicada hoje na Folha online (http://www1.folha.uol.com.br/tec/1023577-leitura-da-mente-pode-chegar-nos-proximos-cinco-anos-diz-ibm.shtml).
Dentre outras coisas, "a lista desse ano inclui a leitura da mente por aparelhos eletrônicos". De acordo com os prognósticos, a leitura da mente a ser proporcionada pelo futuro achado tecnológico está diretamente relacionada com a capacidade de leitura e interpretação de expressões faciais: "A empresa argumenta que estudos no campo da bioinformática indicam a criação de sensores avançados que leem as atividades do cérebro, reconhecem expressões faciais e níveis de concentração e empolgação", diz a Folha.
Mas, "diferentemente do que ocorre em filmes de ficção científica, porém, a leitura da mente sugerida pela IBM não permitirá que você olhe para alguém e enxergue o seu pensamento", conclui a notícia. Não se trata, portanto, de "leitura da mente" no sentido mais estrito, isto é, de captação das ondas eletromagnéticas que dão forma ao pensamento, mas muito mais da capacidade de aparelhos interpretarem sinais psicomotores emitidos externamente pelos seres humanos.
Nada mal para quem achava que as emoções não teriam mais lugar no futuro. Péssimas notícias para os alexitímicos: aqueles que não conseguem descrever apropriadamente, por meio da linguagem, seus próprios sentimentos e emoções, bem como as sensações físicas que os acompanham. Eles serão a unha encravada da IBM. Também o serão os sequelados na face em decorrrência de acidentes cardiovasculares, os caolhos, os queimados de pele repuxada e até os banguelos: todos eles colocarão o quadro interpretativo dessas futuras tecnologias eletrônicas em xeque-mate.
Alexitímicos ou não, o ato de expressar adequadamente desejos e sensações - sem ferir desnecessariamente a nós mesmos e aos demais - é um desafio que se coloca para qualquer um. Mas não deixo de pensar nos futuros problemas práticos a serem enfrentados pelas tecnologias de leitura de expressões faciais: talvez tenhamos apenas cinco anos para expressar nossos sentimentos livremente, sem medos de sermos mal-interpretados por uma máquinas. Ou cinco anos para adaptar todas as diferenças anatômicas das pessoas - desejadas ou não - a um único padrão de expressão.
Sabe-se lá... Melhor seria se tudo saísse como o "som de Tim Maia/ Sem grilos de mim".
Ao que parece, a leitura dos desejos - e de onde é que eles vão dar - está virando uma questão crucial a ser resolvida (ou complicada) com as novas tecnologias eletrônicas. Pelo menos, é o que dá a entender a empresa IBM, ao publicar seu famoso relatório anual "5 in 5". "Nele, a empresa cita cinco tecnologias que ela acredita que existirão nos próximos cinco anos", explica notícia publicada hoje na Folha online (http://www1.folha.uol.com.br/tec/1023577-leitura-da-mente-pode-chegar-nos-proximos-cinco-anos-diz-ibm.shtml).
Dentre outras coisas, "a lista desse ano inclui a leitura da mente por aparelhos eletrônicos". De acordo com os prognósticos, a leitura da mente a ser proporcionada pelo futuro achado tecnológico está diretamente relacionada com a capacidade de leitura e interpretação de expressões faciais: "A empresa argumenta que estudos no campo da bioinformática indicam a criação de sensores avançados que leem as atividades do cérebro, reconhecem expressões faciais e níveis de concentração e empolgação", diz a Folha.
Mas, "diferentemente do que ocorre em filmes de ficção científica, porém, a leitura da mente sugerida pela IBM não permitirá que você olhe para alguém e enxergue o seu pensamento", conclui a notícia. Não se trata, portanto, de "leitura da mente" no sentido mais estrito, isto é, de captação das ondas eletromagnéticas que dão forma ao pensamento, mas muito mais da capacidade de aparelhos interpretarem sinais psicomotores emitidos externamente pelos seres humanos.
Nada mal para quem achava que as emoções não teriam mais lugar no futuro. Péssimas notícias para os alexitímicos: aqueles que não conseguem descrever apropriadamente, por meio da linguagem, seus próprios sentimentos e emoções, bem como as sensações físicas que os acompanham. Eles serão a unha encravada da IBM. Também o serão os sequelados na face em decorrrência de acidentes cardiovasculares, os caolhos, os queimados de pele repuxada e até os banguelos: todos eles colocarão o quadro interpretativo dessas futuras tecnologias eletrônicas em xeque-mate.
Alexitímicos ou não, o ato de expressar adequadamente desejos e sensações - sem ferir desnecessariamente a nós mesmos e aos demais - é um desafio que se coloca para qualquer um. Mas não deixo de pensar nos futuros problemas práticos a serem enfrentados pelas tecnologias de leitura de expressões faciais: talvez tenhamos apenas cinco anos para expressar nossos sentimentos livremente, sem medos de sermos mal-interpretados por uma máquinas. Ou cinco anos para adaptar todas as diferenças anatômicas das pessoas - desejadas ou não - a um único padrão de expressão.
Sabe-se lá... Melhor seria se tudo saísse como o "som de Tim Maia/ Sem grilos de mim".
sábado, 17 de dezembro de 2011
Adeus à diva dos pés descalços
Lá se vai um dos grandes nomes da música cabo-verdiana e lusófona: "Cesária Évora morreu neste sábado, aos 70 anos, em Cabo Verde, seu país natal, vítima de insuficiência respiratória e pressão arterial elevada" (http://oglobo.globo.com/cultura/morre-cantora-caboverdiana-cesaria-evora-aos-70-anos-3469684).
Como alguns de vocês já devem ter reparado, sou uma blogueira de "dia útil" que, movida muito mais por excesso de auto-disciplina do que por respeito a convenções religiosas, tenta ao máximo zelar pelos fins de semana e feriados. Mas minha tristeza e comoção com esta perda são tão grandes que eu não conseguiria esperar até 2a feira para comentar a respeito. A grandeza da estrela clama por um canto de louvor imediato. Sem delongas: Cesária Évora é merecedora de toda reverência e a ela me curvo em sinal de grande estima e consideração.
A voz da diva me acompanhou em momentos importantes da minha vida. A canção que inseri logo abaixo, por exemplo, marcou particularmente a minha primavera de 2004. Naquele ano, experimentei o inverno mais frio de toda a minha vida (o recorde mínimo foi algo em torno de 47oC negativos, levando-se em consideração o famoso "fator vento"). E foi ouvindo esta canção de Cesária que vi chegar o mês de abril - e, com ele, os primeiros sinais de degelo no lago do parque ao lado da minha casa.
Cesária Évora, para mim, é esperança de dias melhores e mais cálidos: um renascer constante, contrariando todas as adversidades circundantes. Um brinde à diva de pés descalços!
Como alguns de vocês já devem ter reparado, sou uma blogueira de "dia útil" que, movida muito mais por excesso de auto-disciplina do que por respeito a convenções religiosas, tenta ao máximo zelar pelos fins de semana e feriados. Mas minha tristeza e comoção com esta perda são tão grandes que eu não conseguiria esperar até 2a feira para comentar a respeito. A grandeza da estrela clama por um canto de louvor imediato. Sem delongas: Cesária Évora é merecedora de toda reverência e a ela me curvo em sinal de grande estima e consideração.
A voz da diva me acompanhou em momentos importantes da minha vida. A canção que inseri logo abaixo, por exemplo, marcou particularmente a minha primavera de 2004. Naquele ano, experimentei o inverno mais frio de toda a minha vida (o recorde mínimo foi algo em torno de 47oC negativos, levando-se em consideração o famoso "fator vento"). E foi ouvindo esta canção de Cesária que vi chegar o mês de abril - e, com ele, os primeiros sinais de degelo no lago do parque ao lado da minha casa.
Cesária Évora, para mim, é esperança de dias melhores e mais cálidos: um renascer constante, contrariando todas as adversidades circundantes. Um brinde à diva de pés descalços!
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Três recordes
Não é só a Roça Grande que entrou em estado de emergência: eu também entrei. É que o cansaço resolveu passar por mim hoje, dar bom dia, puxar o banquinho, tomar um café e levar uma prosa que já durou um dia inteiro e agora vai entrando pela noite adentro. Pausa para dois biscoitinhos. E o cansaço segue proseando, sem dar mostras dele mesmo - isto é, de cansaço - ou sequer de querer ir embora. Portanto, serei breve!
Hoje, euzinha aqui, devidamente aninhada no aconchego do meu lar, ainda não consegui entender porque cargas d'água o Jornal Hoje em Dia, em uma só edição, resolveu dedicar tantas matérias ao tema "recorde". Talvez seja questão de uma complexa e sofistacada estratégia de intertextualidade para amarrar as notícias... ou talvez seja simplesmente uma escassez vertiginosa de assunto interessante... mas o fato é que pelo menos três notícias hoje fizeram menção explícita ao termo "recorde", seja no título, seja no corpo da matéria, seja em ambos.
A primeira notícia, bem sintonizada com o assunto da vez aqui na capital mineira - isto é, as chuvas torrenciais que caem desde 4a feira desta semana - relatam um recorde no aumento do número de mortos em catástrofes naturais no país todo: "Passou de 1.500 o número de mortos e desaparecidos em enchentes e deslizamentos de terras no país neste ano, um recorde histórico, segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/2.349/numero-de-mortos-em-desastres-naturais-bate-recorde-1.382683).
Mas nem só de recordes nacionais vive o periódico. Sob a chamada provocativa - "Entrou para o Guiness" - a segundo notícia do dia sobre este tema relata que "Fidel sofreu pelo menos 638 tentativas de assassinato" ao longo de sua vida (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/fidel-castro-e-pessoa-que-mais-sofreu-tentativas-de-assassinato-1.382528). O que faz do líder cubano "a pessoa que mais vezes foi alvo de tentativas de assassinato, segundo registrou o Livro dos Recordes, o Guinness". Motivo de orgulho? Ou de medo? Bem, certamente de preocupação.
A última notícia faz também menção explícita ao livro Guinness quando relata que a "menor mulher do mundo é indiana e mede 62,8 cm" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/a-menor-mulher-do-mundo-e-indiana-e-mede-62-8-cm-1.382539). A indiana Jyoti Amge tem dezoito anos e "sofre de acondroplasia, a forma mais comum de nanismo que mantém seu corpo no tamanho de um bebê de quatro meses", relata que seu sonho é "fazer carreira no cinema de Bollywood".
Nada mal para ela. A jovem indiana é o único dentre os três casos a deter um recorde do qual ela pode tirar algum benefício para além da própria vida. Já Fidel mereceria, sem dúvida, um prêmio adicional de longevidade e resistência: frustrar seus algozes 638 vezes não é para fracos. Com um currículo desses, poderia fazer carreira de dublê em Bollywood. Já com relação aos mortos e desparecidos em enchentes em nosso país, só lamento: não há benefício algum nesse recorde histórico, nem tampouco algo que traga a vida dessas pessoas de volta. É que Fidel, só tem um no mundo. E mesmo se cada tentativa frustrada de assassinato valesse por uma nova vida, ainda faltariam muitas outras para compensar a nossa falta de preparo para enfrentar catástrofes naturais.
Bom, hora de enxotar o cansaço daqui de casa e mandá-lo passear em outra freguesia. Boa noite, bom fim de semana. Com ou sem chuva.
Hoje, euzinha aqui, devidamente aninhada no aconchego do meu lar, ainda não consegui entender porque cargas d'água o Jornal Hoje em Dia, em uma só edição, resolveu dedicar tantas matérias ao tema "recorde". Talvez seja questão de uma complexa e sofistacada estratégia de intertextualidade para amarrar as notícias... ou talvez seja simplesmente uma escassez vertiginosa de assunto interessante... mas o fato é que pelo menos três notícias hoje fizeram menção explícita ao termo "recorde", seja no título, seja no corpo da matéria, seja em ambos.
A primeira notícia, bem sintonizada com o assunto da vez aqui na capital mineira - isto é, as chuvas torrenciais que caem desde 4a feira desta semana - relatam um recorde no aumento do número de mortos em catástrofes naturais no país todo: "Passou de 1.500 o número de mortos e desaparecidos em enchentes e deslizamentos de terras no país neste ano, um recorde histórico, segundo o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/2.349/numero-de-mortos-em-desastres-naturais-bate-recorde-1.382683).
Mas nem só de recordes nacionais vive o periódico. Sob a chamada provocativa - "Entrou para o Guiness" - a segundo notícia do dia sobre este tema relata que "Fidel sofreu pelo menos 638 tentativas de assassinato" ao longo de sua vida (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/fidel-castro-e-pessoa-que-mais-sofreu-tentativas-de-assassinato-1.382528). O que faz do líder cubano "a pessoa que mais vezes foi alvo de tentativas de assassinato, segundo registrou o Livro dos Recordes, o Guinness". Motivo de orgulho? Ou de medo? Bem, certamente de preocupação.
A última notícia faz também menção explícita ao livro Guinness quando relata que a "menor mulher do mundo é indiana e mede 62,8 cm" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/a-menor-mulher-do-mundo-e-indiana-e-mede-62-8-cm-1.382539). A indiana Jyoti Amge tem dezoito anos e "sofre de acondroplasia, a forma mais comum de nanismo que mantém seu corpo no tamanho de um bebê de quatro meses", relata que seu sonho é "fazer carreira no cinema de Bollywood".
Nada mal para ela. A jovem indiana é o único dentre os três casos a deter um recorde do qual ela pode tirar algum benefício para além da própria vida. Já Fidel mereceria, sem dúvida, um prêmio adicional de longevidade e resistência: frustrar seus algozes 638 vezes não é para fracos. Com um currículo desses, poderia fazer carreira de dublê em Bollywood. Já com relação aos mortos e desparecidos em enchentes em nosso país, só lamento: não há benefício algum nesse recorde histórico, nem tampouco algo que traga a vida dessas pessoas de volta. É que Fidel, só tem um no mundo. E mesmo se cada tentativa frustrada de assassinato valesse por uma nova vida, ainda faltariam muitas outras para compensar a nossa falta de preparo para enfrentar catástrofes naturais.
Bom, hora de enxotar o cansaço daqui de casa e mandá-lo passear em outra freguesia. Boa noite, bom fim de semana. Com ou sem chuva.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
No sofá
Chuva: mesmo que eu quisesse, não conseguiria pensar em outro tema para o comentário de hoje. É que não se falou de outra coisa aqui na Roça Grande, onde o volume de precipitações das últimas 24h foi o sétimo mais elevado desde que os índices pluviométricos começaram a ser medidos em 1910.
"Entre a noite de quarta-feira (14) e o fim da tarde desta quinta, a Defesa Civil Municipal registrou 153 milímetros de chuva em BH, o que representa quase a metade da média histórica prevista para dezembro, de 320 milímetros", vaticina um jornal local (http://www.hojeemdia.com.br/minas/bh-pode-decretar-emergencia-apos-7-maior-temporal-dos-ultimos-100-anos-1.382257).
Alagamentos em vários pontos da cidade, transbordamento do córrego do Onça (que deveria se chamar "Córrego da Enguia", já que ele vive escorregando para fora do leito), interdição de vias, árvores caindo, encostas deslizando, crateras se abrindo em plena rua, barracos desmoronando. Mas, afinal: o que dizer da chuva, quando tudo o que se lê a respeito é só luto e tragédia?
A solução, penso eu, é tentar manter os pensamentos secos. E como fazê-lo? Ora, desviando a atenção do grande caos instalado na cidade para alguma trivialidade que nos faça pensar na chuva (e em seus desdobramentos) sob outro viés.
Bem, já ia desistindo de pensar em algo de edificante, quando dei de cara com esta notícia da Folha online: "Mulher encontra filhote de foca descansando no sofá", dizia o título (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1021735-mulher-encontra-filhote-de-foca-descansando-no-sofa.shtml).
Não, o fato não ocorreu aqui na Roça Grande. E, caso acontecesse, não seria necessariamente com uma foca, claro (quando muito, com uma lontra). Enfim, o animal em questão foi encontrado por uma neo-zelandeza chamada Annette Swoffer (a cidade de origem não foi mencionada na notícia). Nada mal para um bebê: "o animal conseguiu atravessar uma rua movimentada, entrar no apartamento de Annette e percorrer uma escada antes de cruzar a cozinha da residência e se refastelar no sofá".
No meu caso, não queria nem lontra, nem foca, nem sapo, nem barata tonta. Se pudesse escolher, daria preferência para o Antonio Banderas. E se a questão é manter os pensamentos secos, nada melhor do que exercitar a imaginação povoando seu sofá com as personalidades de sua predileção. Só não vale colocar muitas celebridades juntas, do contrário seu sofá vai deixar de ser seu para se tornar o sofá da Hebe (Camargo).
Voluntários a postos: alguém aí se habilita a dizer quem gostaria de encontrar refestelado em seu sofá, depois de um dia de tanto encharcamento e trânsito infernal? Trilha sonora a postos: Frank Zappa nos diz (do Além) que é hora de colocar a imaginação a seco e para funcionar. Mãos à obra, então!
"Entre a noite de quarta-feira (14) e o fim da tarde desta quinta, a Defesa Civil Municipal registrou 153 milímetros de chuva em BH, o que representa quase a metade da média histórica prevista para dezembro, de 320 milímetros", vaticina um jornal local (http://www.hojeemdia.com.br/minas/bh-pode-decretar-emergencia-apos-7-maior-temporal-dos-ultimos-100-anos-1.382257).
Alagamentos em vários pontos da cidade, transbordamento do córrego do Onça (que deveria se chamar "Córrego da Enguia", já que ele vive escorregando para fora do leito), interdição de vias, árvores caindo, encostas deslizando, crateras se abrindo em plena rua, barracos desmoronando. Mas, afinal: o que dizer da chuva, quando tudo o que se lê a respeito é só luto e tragédia?
A solução, penso eu, é tentar manter os pensamentos secos. E como fazê-lo? Ora, desviando a atenção do grande caos instalado na cidade para alguma trivialidade que nos faça pensar na chuva (e em seus desdobramentos) sob outro viés.
Bem, já ia desistindo de pensar em algo de edificante, quando dei de cara com esta notícia da Folha online: "Mulher encontra filhote de foca descansando no sofá", dizia o título (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1021735-mulher-encontra-filhote-de-foca-descansando-no-sofa.shtml).
Não, o fato não ocorreu aqui na Roça Grande. E, caso acontecesse, não seria necessariamente com uma foca, claro (quando muito, com uma lontra). Enfim, o animal em questão foi encontrado por uma neo-zelandeza chamada Annette Swoffer (a cidade de origem não foi mencionada na notícia). Nada mal para um bebê: "o animal conseguiu atravessar uma rua movimentada, entrar no apartamento de Annette e percorrer uma escada antes de cruzar a cozinha da residência e se refastelar no sofá".
No meu caso, não queria nem lontra, nem foca, nem sapo, nem barata tonta. Se pudesse escolher, daria preferência para o Antonio Banderas. E se a questão é manter os pensamentos secos, nada melhor do que exercitar a imaginação povoando seu sofá com as personalidades de sua predileção. Só não vale colocar muitas celebridades juntas, do contrário seu sofá vai deixar de ser seu para se tornar o sofá da Hebe (Camargo).
Voluntários a postos: alguém aí se habilita a dizer quem gostaria de encontrar refestelado em seu sofá, depois de um dia de tanto encharcamento e trânsito infernal? Trilha sonora a postos: Frank Zappa nos diz (do Além) que é hora de colocar a imaginação a seco e para funcionar. Mãos à obra, então!
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Lei da atração ou poder divino?
Terminar o dia sabendo que teremos que engolir o Sr. Jader Barbalho, que já tinha sido considerado inelegível pela Lei da Ficha Limpa, é de lascar o cano (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1021235-supremo-libera-posse-de-jader-barbalho-no-senado.shtml). Um absurdo eleitoral desta monta só me faz pensar nas más companhias que o Senado nos reserva para o ano de 2012.
É fato que a notícia me deixou assim - mais reclamona do que o usual - porque estamos chegando ao final de mais um ano. E porque talvez seja hora de olhar ao redor e repensarmos as nossas companhias: todo tipo de companhia. Afinal, o que você quer atrair para junto de si no ano que vem? Que tipo de gente quer do seu lado? Espera estar rodeado de familiares, amigos e amores sinceros?
Bem, confesso que não conheço a receita. Mas podemos perguntar para o georgiano Etibar Elchiyev. Ele acaba de entrar para o Guinness Book como o "homem mais magnético do mundo" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/homem-im-bate-recorde-ao-atrair-50-colheres-de-metal-1.381756).
Para alcançar o posto, o sr. Elchiyev atraiu 50 colheres (de tamanhos variados!) de metal para junto do seu corpo. Mas o homem, que não deu colher de chá, demonstrou possuir outras habilidades mais ousadas: por exemplo, ele "atraiu uma capota de carro e a manteve colada ao seu corpo".
Não sei se Elchiyev atrai para si exatamente o que deseja mas, na pior das hipóteses, vai servir de verdadeiro exemplo de vida para ao menos duas crianças nesse mundo: o menino porta-trecos lá de Mossoró e seu homólogo croata, Ivan Stoiljkovic. Enquanto o primeiro ganhou notoriedade colando garfos, colheres, tesouras, celulares e panela no corpo, este último ganhou fama por ser capaz de aderir até 25kg de obejtos metálicos junto ao corpo (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/07/menino-porta-trecos.html).
Enfim, enfim... Fico por aqui, pensando nas coisas e eventos que espero atrair no próximo ano. Ao Sr. Elchiyev, seguem meus votos de sucesso na carreira de ímã. Ao Supremo Tribunal Federal, na pessoa do seu Presidente Cezar Peluso, meu "muito obrigado" por ter desempatado o julgamento com o seu "voto de qualidade". Aliás, muito obrigada, não: que Deus lhe pague. E ao Sr. Jader Barbalho: que Deus lhe pague também. Com muitos juros e correção monetária.
É fato que a notícia me deixou assim - mais reclamona do que o usual - porque estamos chegando ao final de mais um ano. E porque talvez seja hora de olhar ao redor e repensarmos as nossas companhias: todo tipo de companhia. Afinal, o que você quer atrair para junto de si no ano que vem? Que tipo de gente quer do seu lado? Espera estar rodeado de familiares, amigos e amores sinceros?
Bem, confesso que não conheço a receita. Mas podemos perguntar para o georgiano Etibar Elchiyev. Ele acaba de entrar para o Guinness Book como o "homem mais magnético do mundo" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/homem-im-bate-recorde-ao-atrair-50-colheres-de-metal-1.381756).
Para alcançar o posto, o sr. Elchiyev atraiu 50 colheres (de tamanhos variados!) de metal para junto do seu corpo. Mas o homem, que não deu colher de chá, demonstrou possuir outras habilidades mais ousadas: por exemplo, ele "atraiu uma capota de carro e a manteve colada ao seu corpo".
Não sei se Elchiyev atrai para si exatamente o que deseja mas, na pior das hipóteses, vai servir de verdadeiro exemplo de vida para ao menos duas crianças nesse mundo: o menino porta-trecos lá de Mossoró e seu homólogo croata, Ivan Stoiljkovic. Enquanto o primeiro ganhou notoriedade colando garfos, colheres, tesouras, celulares e panela no corpo, este último ganhou fama por ser capaz de aderir até 25kg de obejtos metálicos junto ao corpo (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/07/menino-porta-trecos.html).
Enfim, enfim... Fico por aqui, pensando nas coisas e eventos que espero atrair no próximo ano. Ao Sr. Elchiyev, seguem meus votos de sucesso na carreira de ímã. Ao Supremo Tribunal Federal, na pessoa do seu Presidente Cezar Peluso, meu "muito obrigado" por ter desempatado o julgamento com o seu "voto de qualidade". Aliás, muito obrigada, não: que Deus lhe pague. E ao Sr. Jader Barbalho: que Deus lhe pague também. Com muitos juros e correção monetária.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Palmitato de paliperidona
Psiquiatras e esquizofrênicos comemoram juntos a chegada de uma nova droga no mercado brasileiro: uma injeção de palmitato de paliperidona que ajuda a previnir os sintomas da esquizofrenia.
Segundo notícia publicada hoje na Folha online, a principal vantagem da injeção é que ela só "precisa ser tomada apenas uma vez por mês", o que "pode ajudar a contornar um dos principais problemas do tratamento da esquizofrenia: o abandono da medicação"(http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1020026-injecao-que-pode-tratar-esquizofrenia-chega-ao-brasil-neste-mes.shtml).
A injeção é também comemorada pela redução dos diversos efeitos colaterais provocados pelos comprimidos de uso diário que estão disponíveis atualmente no mercado de antipsicóticos no Brasil. Os efeitos colaterais são diversos: além de ganho de peso, dores de cabeça e insônia, "os remédios, sobretudo os mais antigos, podem desencadear desde aumento de peso até rigidez muscular e um quadro de tremores parecido com o do mal de Parkinson".
No entanto, ouso a afirmar que a chegada da injeção de palmitato de paliperidona fará mais do que se espera dela: a injeção poderá trazer grande alívio para a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. É que a entidade teve de explicar, perante o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Rio de Janeiro, o uso questionável de algemas durante ação que culminou na prisão do líder comunitário William da Rocinha (http://oglobo.globo.com/pais/algema-em-william-da-rocinha-foi-justificada-diz-policia-3441986#ixzz1gTBIKlxo).
A controvérsia ocorre entre entidades de direitos humanos e órgãos de segurança pública: "A Polícia Civil do Rio diz que a utilização das algemas, nesse caso, estaria de acordo com a súmula vinculante 11, por causa da relação de William com o traficante Nem. Entidades de direitos humanos, porém, destacam que a súmula fala claramente em tentativa de fuga, resistência ou perigo à integridade física, o que não teria ocorrido no momento em que William foi preso".
Para quem nem não se lembra mais, esta é a mesma súmula que livrou os pulsos de empresários como Daniel Dantas e Salvatore Cacciola das argolinhas prateadas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Satiagraha#A_S.C3.BAmula_Vinculante_n._11). No entanto (e infelizmente), o nome do líder já diz tudo sobre sua sina. Sabemos que a procedência de William, a Rocinha, o predispõe a um tratamento todo "especial" - ao menos ao olhos das forças policiais locais.
Mas com a nova injeção de palmitato de paliperidona na área, não há mais o que temer. Os esquizofrênicos agradecem, pois sintomas como dores de cabeça, insônia, rigidez muscular e tremores serão varridas do mapa. Já a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro terá que procurar outro transtorno mental para mascarar suas contradições.
Segundo notícia publicada hoje na Folha online, a principal vantagem da injeção é que ela só "precisa ser tomada apenas uma vez por mês", o que "pode ajudar a contornar um dos principais problemas do tratamento da esquizofrenia: o abandono da medicação"(http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1020026-injecao-que-pode-tratar-esquizofrenia-chega-ao-brasil-neste-mes.shtml).
A injeção é também comemorada pela redução dos diversos efeitos colaterais provocados pelos comprimidos de uso diário que estão disponíveis atualmente no mercado de antipsicóticos no Brasil. Os efeitos colaterais são diversos: além de ganho de peso, dores de cabeça e insônia, "os remédios, sobretudo os mais antigos, podem desencadear desde aumento de peso até rigidez muscular e um quadro de tremores parecido com o do mal de Parkinson".
No entanto, ouso a afirmar que a chegada da injeção de palmitato de paliperidona fará mais do que se espera dela: a injeção poderá trazer grande alívio para a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. É que a entidade teve de explicar, perante o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Rio de Janeiro, o uso questionável de algemas durante ação que culminou na prisão do líder comunitário William da Rocinha (http://oglobo.globo.com/pais/algema-em-william-da-rocinha-foi-justificada-diz-policia-3441986#ixzz1gTBIKlxo).
A controvérsia ocorre entre entidades de direitos humanos e órgãos de segurança pública: "A Polícia Civil do Rio diz que a utilização das algemas, nesse caso, estaria de acordo com a súmula vinculante 11, por causa da relação de William com o traficante Nem. Entidades de direitos humanos, porém, destacam que a súmula fala claramente em tentativa de fuga, resistência ou perigo à integridade física, o que não teria ocorrido no momento em que William foi preso".
Para quem nem não se lembra mais, esta é a mesma súmula que livrou os pulsos de empresários como Daniel Dantas e Salvatore Cacciola das argolinhas prateadas (http://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Satiagraha#A_S.C3.BAmula_Vinculante_n._11). No entanto (e infelizmente), o nome do líder já diz tudo sobre sua sina. Sabemos que a procedência de William, a Rocinha, o predispõe a um tratamento todo "especial" - ao menos ao olhos das forças policiais locais.
Mas com a nova injeção de palmitato de paliperidona na área, não há mais o que temer. Os esquizofrênicos agradecem, pois sintomas como dores de cabeça, insônia, rigidez muscular e tremores serão varridas do mapa. Já a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro terá que procurar outro transtorno mental para mascarar suas contradições.
Libellés :
Daniel Dantas,
Palmitato de paliperidona,
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro,
Salvatore Cacciola,
William da Rocinha
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Conto de final de ano
Nada mais do que um conto. E ele começa assim:
"Tinha um vale bonito entre montanhas. Era o início de uma tarde de sol e estava tudo verde, mas desse verde fresco que só aparece depois de um período muito prolongado de chuvas. O vale era lindo: era rodeado por montanhas que foram ficando arredondadas ao longo de milhões e milhões de anos. No fundo dele corria um córrego de águas límpidas, nem muito largo, nem muito fundo - e aqui digo que "corria" mais por hábito do que por adequação. Na verdade, ele não corria, ele caminhava. E seguia assim, sem pressa nenhuma, andando devagar, formando pequenos remansos que morriam de preguiça de virar correnteza. A água era tão limpa que até dava para ver o fundo: seixos rolados aqui, areia branca ali na frente, uma vegetaçãozinha rente à borda.
Mais à frente, as copas das árvores de uma pequena mata ciliar se fechavam sobre o leito do córrego. Eu, que ia caminhando pela margem da direita, rente ao curso d'água, acabei entrando na mata, que era rasa. As árvores eram espaçadas o suficiente para deixar passar um pouco da luz do sol, o que tornava a caminhada entre elas tranquila e aprazível. Sempre seguindo pela direita, tomei o rumo da montanha mais alta de todas aquelas que circundavam o córrego naquele trecho. Depois de um tempo curto de caminhada, fui chegando rente ao pé da montanha. Ali, a mata se abria ainda mais e deixava ver lá embaixo, bem no pé da montanha, lá no fundo de uma baixada, a entrada de uma gruta.
Fui então descendo até a entrada da gruta. As paredes internas eram tão claras que pareciam de calcáreo puro. O terreno, bastante inclinado do lado de fora, não deixava a gente ter uma ideia da amplidão do salão inicial daquela gruta: ele era simplesmente imenso, excepcionalmente iluminado graças aos buracos no teto, que permitiam a passagem de luz natural em diversas partes. O chão do salão já estava completamente seco, sinal de que toda a aguaceira acumulada com as últimas chuvas já tinha se secado por ali.
Tinha um canto ali na gruta que era especial porque não tinha folha, nem terra, nem galho: parecia até que tinha sido varrido de tão limpo. O canto era abaulado e formava um pequeno trono, só que um pouco mais largo, com uma luz indireta vertida por uma claraboia natural. Dava para sentar umas três pessoas adultas tranquilamente, sem precisar apertar. Sentei e esperei.
Esperei mais um pouco até que os acontecimentos desse ano começaram a desfilar, um a um, na minha mente. O reveillon com dois amigos lá em casa, o jantar de gala feito por mim, a conversa animada, dois livros ganhados de presente. As chuvas dos dias seguintes, fisioterapia, decisões. Curso de meditação, viagem nas pedras, começo na biodança. Decisões profissonais envolvendo rupturas, um adeus, um carnaval atípico no túmulo do samba que é a Roça Grande, a espera de um novo amor. Não veio. Mas vieram viagens a Recife, ao Rio - a primeira para um casamento, a segunda profissional, mas com desdobramentos importantes para a vida do espírito: teve a visita ao antigo FLAI e o curso com o Kaká Werá! Depois vi o longo período de reclusão que se iniciava. Mudança de endereço para viver só, em paz entre quatro paredes. Provações, muitas provações: rupturas também. O mundo quase cessa lá fora: se não fosse a biodança, a yoga, a natação, as aulas de francês e inglês que ia dando, pouco sairia de casa. Inverno frio na alma reclusa. Veio julho e uma cartomante me disse um monte de coisas que duvidei logo de cara. Aí, ela nem cobrou a consulta: mandou voltar quando tudo acontecesse. Falou de uma escola onde ensinaria, de um faraó que se aproximaria. E um mês e meio depois veio o amor. Extasiada de felicidade, pulei de cabeça no abismo. Uma segunda viagem às pedras abriram novos caminhos no campo profissional. E um mês depois, o objeto do amor se foi. Onde é que eu estava mesmo? Ah, pulando de cabeça no abismo. Hora de visitar as sombras, minha cara. Então levei 17 dias desenhando uma águia, só para lembrar quem eu era. De águia passei para urso e comecei a hibernar. Mais uma viagem a trabalho até Vitória da Conquista. Vixe, não para de chover. O espírito cresce, se expande, a intuição fica cada vez mais aguçada. E veio chegando o último mês do ano. Mais resoluções.
Essa gruta é que nem o meu espírito: ampla, ventilada, espaçosa, misto de luz e sombra. No canto abaulado do espírito, sentado bem lá no fundo, tem um velho sábio, com ares de druida, que fala para mim: 'Minha filha, mil vidas eu vivi, mil vidas eu perdi. Já vi de tudo nesse mundo, mas poucas vezes vi tenacidade que nem a sua. Por isso, dou-lhe um conselho: volte para o alto do abismo onde tudo começou e pule de novo. Só a iminência da queda poderá lhe fazer voltar a acreditar no poder das suas asas. Então volte lá e pule de novo. E de cabeça'.
Nesse momento, jurei ter ouvido uma flauta".
Fim do conto.
"Tinha um vale bonito entre montanhas. Era o início de uma tarde de sol e estava tudo verde, mas desse verde fresco que só aparece depois de um período muito prolongado de chuvas. O vale era lindo: era rodeado por montanhas que foram ficando arredondadas ao longo de milhões e milhões de anos. No fundo dele corria um córrego de águas límpidas, nem muito largo, nem muito fundo - e aqui digo que "corria" mais por hábito do que por adequação. Na verdade, ele não corria, ele caminhava. E seguia assim, sem pressa nenhuma, andando devagar, formando pequenos remansos que morriam de preguiça de virar correnteza. A água era tão limpa que até dava para ver o fundo: seixos rolados aqui, areia branca ali na frente, uma vegetaçãozinha rente à borda.
Mais à frente, as copas das árvores de uma pequena mata ciliar se fechavam sobre o leito do córrego. Eu, que ia caminhando pela margem da direita, rente ao curso d'água, acabei entrando na mata, que era rasa. As árvores eram espaçadas o suficiente para deixar passar um pouco da luz do sol, o que tornava a caminhada entre elas tranquila e aprazível. Sempre seguindo pela direita, tomei o rumo da montanha mais alta de todas aquelas que circundavam o córrego naquele trecho. Depois de um tempo curto de caminhada, fui chegando rente ao pé da montanha. Ali, a mata se abria ainda mais e deixava ver lá embaixo, bem no pé da montanha, lá no fundo de uma baixada, a entrada de uma gruta.
Fui então descendo até a entrada da gruta. As paredes internas eram tão claras que pareciam de calcáreo puro. O terreno, bastante inclinado do lado de fora, não deixava a gente ter uma ideia da amplidão do salão inicial daquela gruta: ele era simplesmente imenso, excepcionalmente iluminado graças aos buracos no teto, que permitiam a passagem de luz natural em diversas partes. O chão do salão já estava completamente seco, sinal de que toda a aguaceira acumulada com as últimas chuvas já tinha se secado por ali.
Tinha um canto ali na gruta que era especial porque não tinha folha, nem terra, nem galho: parecia até que tinha sido varrido de tão limpo. O canto era abaulado e formava um pequeno trono, só que um pouco mais largo, com uma luz indireta vertida por uma claraboia natural. Dava para sentar umas três pessoas adultas tranquilamente, sem precisar apertar. Sentei e esperei.
Esperei mais um pouco até que os acontecimentos desse ano começaram a desfilar, um a um, na minha mente. O reveillon com dois amigos lá em casa, o jantar de gala feito por mim, a conversa animada, dois livros ganhados de presente. As chuvas dos dias seguintes, fisioterapia, decisões. Curso de meditação, viagem nas pedras, começo na biodança. Decisões profissonais envolvendo rupturas, um adeus, um carnaval atípico no túmulo do samba que é a Roça Grande, a espera de um novo amor. Não veio. Mas vieram viagens a Recife, ao Rio - a primeira para um casamento, a segunda profissional, mas com desdobramentos importantes para a vida do espírito: teve a visita ao antigo FLAI e o curso com o Kaká Werá! Depois vi o longo período de reclusão que se iniciava. Mudança de endereço para viver só, em paz entre quatro paredes. Provações, muitas provações: rupturas também. O mundo quase cessa lá fora: se não fosse a biodança, a yoga, a natação, as aulas de francês e inglês que ia dando, pouco sairia de casa. Inverno frio na alma reclusa. Veio julho e uma cartomante me disse um monte de coisas que duvidei logo de cara. Aí, ela nem cobrou a consulta: mandou voltar quando tudo acontecesse. Falou de uma escola onde ensinaria, de um faraó que se aproximaria. E um mês e meio depois veio o amor. Extasiada de felicidade, pulei de cabeça no abismo. Uma segunda viagem às pedras abriram novos caminhos no campo profissional. E um mês depois, o objeto do amor se foi. Onde é que eu estava mesmo? Ah, pulando de cabeça no abismo. Hora de visitar as sombras, minha cara. Então levei 17 dias desenhando uma águia, só para lembrar quem eu era. De águia passei para urso e comecei a hibernar. Mais uma viagem a trabalho até Vitória da Conquista. Vixe, não para de chover. O espírito cresce, se expande, a intuição fica cada vez mais aguçada. E veio chegando o último mês do ano. Mais resoluções.
Essa gruta é que nem o meu espírito: ampla, ventilada, espaçosa, misto de luz e sombra. No canto abaulado do espírito, sentado bem lá no fundo, tem um velho sábio, com ares de druida, que fala para mim: 'Minha filha, mil vidas eu vivi, mil vidas eu perdi. Já vi de tudo nesse mundo, mas poucas vezes vi tenacidade que nem a sua. Por isso, dou-lhe um conselho: volte para o alto do abismo onde tudo começou e pule de novo. Só a iminência da queda poderá lhe fazer voltar a acreditar no poder das suas asas. Então volte lá e pule de novo. E de cabeça'.
Nesse momento, jurei ter ouvido uma flauta".
Fim do conto.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Alcatraz
Sim, eles existem: ratos libertários!
Pesquisa publicada na Revista Science esta semana e replicada hoje na Folha Online, descreve experimento inusitado com ratos no Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago: "ratos que aprenderam a libertar seus companheiros da prisão" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1019022-ratos-libertam-companheiros-em-uma-demonstracao-de-empatia.shtml).
O experimento consistia no seguinte: 30 ratos foram distribuídos, aos pares, em um mesmo recinto para conviverem durante duas semanas. Em seguida, um deles era fechado em uma cela, enquanto o outro era deixado livre para interagir com ela. "Após cerca de uma semana, quase todos os bichos aprendiam que dava para abrir a portinhola e permitir que o parceiro escapasse".
Os resultados foram festejados como uma prova de que a empatia é algo passível de ser aprendido. Alguns fatores dificultantes foram introduzidos para tornar a prova mais desafiadora: "ao que tudo indica, eles não fuçavam na gaiola por pura curiosidade, já que jaulas vazias ou com brinquedos dentro não despertavam o mesmo interesse nos bichos".
Mas o maior desafio ainda estava por vir: o teste de resistência com a barra de chocolate! "O mais surpreendente veio quando a comparação entre uma gaiola com o companheiro e outra com uma barra de chocolate. Nesse segundo caso, os roedores não só abriam ambas as gaiolas com igual rapidez como também comiam só parte da guloseima, deixando o resto para o ratinho recém-libertado". Claro, como nem tudo é perfeito, a matéria dá poucos detalhes metodológicos do experimento. Outros dados importantes poderiam ter sido fornecidos para esclarecer as circunstâncias em que os ratos foram de fato testados em seu espírito de lealdade. Detalhes importantes como, por exemplo, o fato de os cientistas terem usado ou não alguma barra de chocolate suiço da marca Lindt para testar os ratinhos. Porque o chocolate for de 5a categoria, aí fica mais fácil entender tanto desprendimento...
Enfim... Neste mundão sem porteiras, onde se vê de tudo um pouco - inclusive seres humanos que não deixariam nem meia paçoca de lado para sair em auxílio de alguém - a escuta é o grande pressuposto para que a lição de empatia seja eficazmente processada: "Os pesquisadores também verificaram que o rato prisioneiro 'pedia socorro', usando chamados ultrassônicos de alerta que são típicos da comunicação da espécie".
Vou ficando por aqui, bastante sensibilizada com a lição aprendida pelos nossos amiguinhos de pelo e rabo longo. Contudo, não queria terminar este comentário, sem antes apontar uma contradição metodológica que passou despercebida pela matéria da Folha online e que, portanto, não se soube ao certo até que ponto ela pôde ser resolvida pela pesquisa. A contradição é seguinte: ora, se os resultados do experimento foram realmente tão positivos e se a lição de empatia tivesse sido realmente aprendida, estariam todos estes ratinhos até hoje, presos, no mesmo laboratório?
Fica a dúvida. Mas fica também a admiração. Boa noite e bom fim de semana para quem me lê.
Pesquisa publicada na Revista Science esta semana e replicada hoje na Folha Online, descreve experimento inusitado com ratos no Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago: "ratos que aprenderam a libertar seus companheiros da prisão" (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1019022-ratos-libertam-companheiros-em-uma-demonstracao-de-empatia.shtml).
O experimento consistia no seguinte: 30 ratos foram distribuídos, aos pares, em um mesmo recinto para conviverem durante duas semanas. Em seguida, um deles era fechado em uma cela, enquanto o outro era deixado livre para interagir com ela. "Após cerca de uma semana, quase todos os bichos aprendiam que dava para abrir a portinhola e permitir que o parceiro escapasse".
Os resultados foram festejados como uma prova de que a empatia é algo passível de ser aprendido. Alguns fatores dificultantes foram introduzidos para tornar a prova mais desafiadora: "ao que tudo indica, eles não fuçavam na gaiola por pura curiosidade, já que jaulas vazias ou com brinquedos dentro não despertavam o mesmo interesse nos bichos".
Mas o maior desafio ainda estava por vir: o teste de resistência com a barra de chocolate! "O mais surpreendente veio quando a comparação entre uma gaiola com o companheiro e outra com uma barra de chocolate. Nesse segundo caso, os roedores não só abriam ambas as gaiolas com igual rapidez como também comiam só parte da guloseima, deixando o resto para o ratinho recém-libertado". Claro, como nem tudo é perfeito, a matéria dá poucos detalhes metodológicos do experimento. Outros dados importantes poderiam ter sido fornecidos para esclarecer as circunstâncias em que os ratos foram de fato testados em seu espírito de lealdade. Detalhes importantes como, por exemplo, o fato de os cientistas terem usado ou não alguma barra de chocolate suiço da marca Lindt para testar os ratinhos. Porque o chocolate for de 5a categoria, aí fica mais fácil entender tanto desprendimento...
Enfim... Neste mundão sem porteiras, onde se vê de tudo um pouco - inclusive seres humanos que não deixariam nem meia paçoca de lado para sair em auxílio de alguém - a escuta é o grande pressuposto para que a lição de empatia seja eficazmente processada: "Os pesquisadores também verificaram que o rato prisioneiro 'pedia socorro', usando chamados ultrassônicos de alerta que são típicos da comunicação da espécie".
Vou ficando por aqui, bastante sensibilizada com a lição aprendida pelos nossos amiguinhos de pelo e rabo longo. Contudo, não queria terminar este comentário, sem antes apontar uma contradição metodológica que passou despercebida pela matéria da Folha online e que, portanto, não se soube ao certo até que ponto ela pôde ser resolvida pela pesquisa. A contradição é seguinte: ora, se os resultados do experimento foram realmente tão positivos e se a lição de empatia tivesse sido realmente aprendida, estariam todos estes ratinhos até hoje, presos, no mesmo laboratório?
Fica a dúvida. Mas fica também a admiração. Boa noite e bom fim de semana para quem me lê.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
O pente
Caro leitor: alguma vez na vida você já foi questionado sobre sua aparência ou indumentária em algum espaço de frequentação pública? Ou será que você se compraz na ideia de que sempre se vestiu ou se comportou "adequadamente", seguindo estritamente as regras do jogo?
Bem, aqueles que já escutaram a famosa pergunta "qual o pente que te penteia?", com certeza, já sabem aonde essa conversa vai dar: naquilo que eu e mais alguns consideram como sendo casos flagrantes de discriminação fenotípica - mas que muitos outros ainda consideram simplesmente uma questão de "adequação funcional".
O assunto virou a bola da vez depois que um escândalo de dimensões meramente facebookeanas ultrapassou os limites desta rede social para ser acolhido, sob a forma de denúncia, nas páginas da grande imprensa. A notícia publicada hoje no Folha online narra o caso da assistente de marketing Ester Elisa da Silva Cesário, 19 anos, e encarna bem um drama bastante comum aos afro-brasileiros.
Segundo matéria da Folha Cotidiano, Ester teria sido questionada pela diretora do colégio Internacional Anhembi Morumbi, localizado no bairro Brooklin (São Paulo), sobre a aparência do seu cabelo. É pelo intermédio do depoimento de Ester que o leitor toma conhecimento da solicitação do empregador: "Como você pode representar nosso colégio com esse cabelo crespo?", teria indigado a diretora do estabelecimento (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1018334-ator-diz-estar-enojado-com-chefe-que-mandou-negra-alisar-o-cabelo.shtml).
Além de dar crédito para a suposta vítima, a matéria faz aquilo que todo jornal deveria fazer: ouvir os dois lados da contenda. É aí, justamente, que reside a parte mais preocupante da história: o argumentário da defesa é tão raso e incongruente, que ele não deixa ao leitor outra alternativa senão concordar em gênero, número e grau com a atitude da vítima de prestar queixa à polícia.
Em primeiro lugar, a direção do colégio se defende da acusação, alegando ausência de intenção de constranger: "O colégio Internacional Anhembi Morumbi afirma, em nota, que a direção da escola e o restante da equipe de funcionários com a qual Ester trabalha nunca teve a intenção de causar qualquer constrangimento". O argumento não pode ser digerido facilmente. Ninguém ousaria discordar, por exemplo, do fato de que piadas racistas sejam contadas com a intenção de divertir um certo número de pessoas - às custas, claro, da integridade de outros. Mas o divertimento de uns não os isenta de seu quinhão de responsabilidade pelos ataques à honra e à integridade de outros. Mas o caso em questão é ainda mais grave do que o do engraçadinho que defende o direito de rir às custas dos outros: alegar que o cabelo "black power" é inadequado à instituição em questão poderia ter sido dito com outra intenção senão a de constranger a moça a efetivamente mudar o corte e sua aparência. Ou seja: foi uma atitude tomada tende em vista uma mudança no comportamento da destinatária. Por isto, a ausência de intenção é, a meu ver, o argumento que já nasceu morto.
Em segundo lugar - e isto é ainda mais preocupante - como os termos "inclusão" e "diversidade" fazem agora parte do vocabulário da moda, a tendência é que as duas noções sejam tratadas como mera formalidade curricular (inclui-se certos temas na grade curricular e está tudo bem) ou representacional ("aceitar" formalmente funcionários ou alunos desta ou daquela procedência não isenta ninguém, em tese, da possibilidade de tratar discriminatoriamente um grupo em relação a outro). A matéria prossegue neste sentido: "De acordo com a nota, o colégio possui um modelo de aprendizagem inclusivo, que abriga professores, estudantes e funcionários de várias origens e tradições religiosas".
Ora, abrigá-los é apenas um primeiro passo. O segundo - definitivamente mais importante - é abrigar pessoas "de origens e tradições religiosas diversas" respeitando suas diferenças, isto é, valorizado-as justamente pela especificidade que elas trazem consigo. E nenhum momento a escola disse que ouve respeito à especificidade estética da jovem Ester. O mesmo argumento vale para certas "inovações" na grade curricular: "O colégio também afirma que entende que o respeito às diferenças é um assunto sério e, por isso, colocou formalmente esse tema em seu estatuto e na grade curricular".
O terceiro argumento, a meu ver totalmente desconectado da realidade à qual ele tenta responder, insiste na tese de que "o uso de uniformes por alunos e funcionários é exigido para que o foco da atenção saia da aparência". Ora, e o que isto tem a ver com a imposição (mais ou menos implícita) de um modelo estético que se apoia, por exemplo, na prática de alisamento dos cabelos? Cabelo não é uniforme. E não pode ser, que fique bem entendido.
Concluindo: ao que parece, Ester foi parar no Brooklin errado.
Bem, aqueles que já escutaram a famosa pergunta "qual o pente que te penteia?", com certeza, já sabem aonde essa conversa vai dar: naquilo que eu e mais alguns consideram como sendo casos flagrantes de discriminação fenotípica - mas que muitos outros ainda consideram simplesmente uma questão de "adequação funcional".
O assunto virou a bola da vez depois que um escândalo de dimensões meramente facebookeanas ultrapassou os limites desta rede social para ser acolhido, sob a forma de denúncia, nas páginas da grande imprensa. A notícia publicada hoje no Folha online narra o caso da assistente de marketing Ester Elisa da Silva Cesário, 19 anos, e encarna bem um drama bastante comum aos afro-brasileiros.
Segundo matéria da Folha Cotidiano, Ester teria sido questionada pela diretora do colégio Internacional Anhembi Morumbi, localizado no bairro Brooklin (São Paulo), sobre a aparência do seu cabelo. É pelo intermédio do depoimento de Ester que o leitor toma conhecimento da solicitação do empregador: "Como você pode representar nosso colégio com esse cabelo crespo?", teria indigado a diretora do estabelecimento (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1018334-ator-diz-estar-enojado-com-chefe-que-mandou-negra-alisar-o-cabelo.shtml).
Além de dar crédito para a suposta vítima, a matéria faz aquilo que todo jornal deveria fazer: ouvir os dois lados da contenda. É aí, justamente, que reside a parte mais preocupante da história: o argumentário da defesa é tão raso e incongruente, que ele não deixa ao leitor outra alternativa senão concordar em gênero, número e grau com a atitude da vítima de prestar queixa à polícia.
Em primeiro lugar, a direção do colégio se defende da acusação, alegando ausência de intenção de constranger: "O colégio Internacional Anhembi Morumbi afirma, em nota, que a direção da escola e o restante da equipe de funcionários com a qual Ester trabalha nunca teve a intenção de causar qualquer constrangimento". O argumento não pode ser digerido facilmente. Ninguém ousaria discordar, por exemplo, do fato de que piadas racistas sejam contadas com a intenção de divertir um certo número de pessoas - às custas, claro, da integridade de outros. Mas o divertimento de uns não os isenta de seu quinhão de responsabilidade pelos ataques à honra e à integridade de outros. Mas o caso em questão é ainda mais grave do que o do engraçadinho que defende o direito de rir às custas dos outros: alegar que o cabelo "black power" é inadequado à instituição em questão poderia ter sido dito com outra intenção senão a de constranger a moça a efetivamente mudar o corte e sua aparência. Ou seja: foi uma atitude tomada tende em vista uma mudança no comportamento da destinatária. Por isto, a ausência de intenção é, a meu ver, o argumento que já nasceu morto.
Em segundo lugar - e isto é ainda mais preocupante - como os termos "inclusão" e "diversidade" fazem agora parte do vocabulário da moda, a tendência é que as duas noções sejam tratadas como mera formalidade curricular (inclui-se certos temas na grade curricular e está tudo bem) ou representacional ("aceitar" formalmente funcionários ou alunos desta ou daquela procedência não isenta ninguém, em tese, da possibilidade de tratar discriminatoriamente um grupo em relação a outro). A matéria prossegue neste sentido: "De acordo com a nota, o colégio possui um modelo de aprendizagem inclusivo, que abriga professores, estudantes e funcionários de várias origens e tradições religiosas".
Ora, abrigá-los é apenas um primeiro passo. O segundo - definitivamente mais importante - é abrigar pessoas "de origens e tradições religiosas diversas" respeitando suas diferenças, isto é, valorizado-as justamente pela especificidade que elas trazem consigo. E nenhum momento a escola disse que ouve respeito à especificidade estética da jovem Ester. O mesmo argumento vale para certas "inovações" na grade curricular: "O colégio também afirma que entende que o respeito às diferenças é um assunto sério e, por isso, colocou formalmente esse tema em seu estatuto e na grade curricular".
O terceiro argumento, a meu ver totalmente desconectado da realidade à qual ele tenta responder, insiste na tese de que "o uso de uniformes por alunos e funcionários é exigido para que o foco da atenção saia da aparência". Ora, e o que isto tem a ver com a imposição (mais ou menos implícita) de um modelo estético que se apoia, por exemplo, na prática de alisamento dos cabelos? Cabelo não é uniforme. E não pode ser, que fique bem entendido.
Concluindo: ao que parece, Ester foi parar no Brooklin errado.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Sobre a chuva e outros encharcamentos
Corre-corre de fim de ano, trânsito ensandecido, chuva, véspera de Natal. Sacuda bem estes ingredientes e jogue a mistura na cabeça desta blogueira exausta que vos escreve: eis-me, ao final do dia, catando assunto, filosofia vã, enfim: procurando o rumo de mim mesma, sem saber nem por onde começar.
Talvez nem devesse começar, para ser sincera. É que o tempo de se lançar em novas aventuras simplesmente acabou. É hora de passar a régua e fechar a conta do botequim: ir embora para a minha casa, esperar a chuva passar, dormir as horas de sono que me são escassas.
Quisera ter forças para fazer um balanço do ano passou. Felizmente não tenho, por isso vou poupá-los de longas listas de coisas realizadas, balizadas, analisadas e jogadas fora. Não, não, não!!! Quanto a isto, podem ficar tranquilos. Não vou fazer nenhuma retrospectiva hoje, nem aqui e muito menos agora. Quero paz e sossego para esta pobre alma encharcada que tomou tanta chuva durante o dia que até se esqueceu de que já viu o sol um dia na vida.
Agora que as nuvens fecham o cerco no horizonte corro rápido para fechar a janela. Para terminar este dia com a alma em paz, nada de comentários, nada de ironia, nada de notícias, nada sobre publicidade. Deixo apenas uma bela canção sobre a chuva - a mesma que me molhou, a mesma que me lava a alma. O corpo pede repouso, a alma pede arrego. Portanto, boa noite para quem fica. Volto amanhã. Um pouco mais seca, talvez.
Talvez nem devesse começar, para ser sincera. É que o tempo de se lançar em novas aventuras simplesmente acabou. É hora de passar a régua e fechar a conta do botequim: ir embora para a minha casa, esperar a chuva passar, dormir as horas de sono que me são escassas.
Quisera ter forças para fazer um balanço do ano passou. Felizmente não tenho, por isso vou poupá-los de longas listas de coisas realizadas, balizadas, analisadas e jogadas fora. Não, não, não!!! Quanto a isto, podem ficar tranquilos. Não vou fazer nenhuma retrospectiva hoje, nem aqui e muito menos agora. Quero paz e sossego para esta pobre alma encharcada que tomou tanta chuva durante o dia que até se esqueceu de que já viu o sol um dia na vida.
Agora que as nuvens fecham o cerco no horizonte corro rápido para fechar a janela. Para terminar este dia com a alma em paz, nada de comentários, nada de ironia, nada de notícias, nada sobre publicidade. Deixo apenas uma bela canção sobre a chuva - a mesma que me molhou, a mesma que me lava a alma. O corpo pede repouso, a alma pede arrego. Portanto, boa noite para quem fica. Volto amanhã. Um pouco mais seca, talvez.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Receitas milagrosas
Você com certeza já deve ter procurado, em algum momento da sua vida, uma receita milagrosa para escapar de um problema aparentemente sem solução. Poucos, inclusive, ousariam balançar o dedo indicador em sinal negativo, afirmando expressamente que jamais estiveram a espera de um milagre. Mesmo porque todo mundo já foi criança um dia, ocasião em que as soluções milagrosas (também conhecidos como "passes de mágica") fazem parte da gramática fantasiosa de qualquer criança sadia.
Pois bem! Nada disso se transformaria em tema de controvérsia, se não soubéssemos que as soluções milagrosas há tempos se tornaram um nicho de mercado dos mais promissores. E nesse nicho, vale sistematicamente de tudo: vidente que traz amor perdido em três dias (morto ou vivo, pouco importa), reza que engorda conta bancária (a conta de quem é que são elas) e simpatia para sonhar com o número premiado da Mega Sena (que você esquece de anotar no dia seguinte).
Mas há também quem queira manter um corpo artificialmente bonito, enquanto a preocupação com a saúde vai passando a quilômetros de distância. Neste aspecto, até que esta matéria publicada no caderno "Folha Equilíbrio" da Folha online de hoje começou demonstrando alguma lucidez: ela revela como um "miojo milagroso", que contém apenas 10 calorias por porção, está virando a receita da moda (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1016942-miojo-milagroso-com-apenas-dez-calorias-vira-dieta-da-moda.shtml).
Feito de um tubérculo japonês chamado "konjac", o tal miojo tem tudo para extrapolar o limite da razoabilidade. Pelo menos é o que parece sugerir a matéria, ao narrar como o macarrão virou celebridade depois que a apresentadora da rede GNT, Nigella Lawson, considerada "a sex symbol do orgulho gordo", gritou aos quatro ventos o santo que operou o milagre do seu emagrecimento. "O fenômeno do miojo da Nigella repete o padrão de celebridades: surgem magras, indicam o produto responsável, aí consumidoras enlouquecidas movem montanhas atrás do emagrecedor da vez", previne logo nas primeiras linhas.
O mito do "miojo milagroso" é desfeito até certo ponto. A matéria continua falando as propriedades do produto - que "contém 97% de água e 3% de fibras -na forma de uma substância viscosa chamada glucomanan", substância com grande capacidade de expansão em contato com água e que confere uma excepcional sensação de saciedade para quem o ingere. Ela inclusive cita o parecer do nutrólogo, Eric Slywitch, que "lembra, no entanto, que o miojo milagroso tem poucos nutrientes".
O problema da matéria é que ela termina sugerindo justamente o avesso do que propunha desconstruir logo de partida. O restante do texto acaba suprindo muito bem o leitor ávido pelo "receituário do milagre: ele oferece um guia das diversas apelações do produto no mercado nacional e internacional e até onde consegui-lo em São Paulo. Só nos finalmentes da matéria é que fica a sugestão de um produto alternativo, uma espécie de primo gordinho do "miojo milagroso", denominado "shirataki de tofu", que possui 10 calorias a mais do que o primeiro. Ou seja, a matéria acaba trocando-se 6 por meia dúzia. O que dá absolutamente no mesmo: comidinhas pouco engordativas, milagrosas, para quem quer fazer o mínimo de esforço para gastar o excedente ingerido.
Só que nem toda receita milagrosa termina bem. A prova disso é o estado de saúde do gorila Idi Amin, "aquele gorila de 38 anos que não sabia o que era um acasalamento há pelo menos 27" (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/09/love-is-air-2.html). Eleito celebridade do ano aqui na Roça Grande, Idi provocou inveja em um horda de machos (uns mais humanos, outros menos) ao ganhar, no mês de setembro deste ano, nada mais, nada menos do que DUAS gorilas-namoradas.
Os prognósticos atuais revelam, contudo, que Idi Amin não anda assim tão bem das pernas desde então. E nem dos braços. "Médicos veterinários da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte estão tratando com antibióticos e anti-inflamatórios o gorila Idi Amin. O animal apresenta um quadro crônico de artrose no tornozelo esquerdo e uma infecção grave no antebraço esquerdo" (http://www.hojeemdia.com.br/minas/com-infecc-o-grave-e-artrose-gorila-idi-amin-fica-sem-namorar-1.378649). Agora, submetido a tratamento intensivo, Idi não tem outra escolha senão a "de hinterromper, temporariamente, o 'namoro' com suas parceiras".
Coitadinho do Idi Amin! Logo ele, que acreditou no milagre da multiplicação das namoradas. Só esqueceram de explicar para ele que quando a farra é muita, o santo desconfia.
Pois bem! Nada disso se transformaria em tema de controvérsia, se não soubéssemos que as soluções milagrosas há tempos se tornaram um nicho de mercado dos mais promissores. E nesse nicho, vale sistematicamente de tudo: vidente que traz amor perdido em três dias (morto ou vivo, pouco importa), reza que engorda conta bancária (a conta de quem é que são elas) e simpatia para sonhar com o número premiado da Mega Sena (que você esquece de anotar no dia seguinte).
Mas há também quem queira manter um corpo artificialmente bonito, enquanto a preocupação com a saúde vai passando a quilômetros de distância. Neste aspecto, até que esta matéria publicada no caderno "Folha Equilíbrio" da Folha online de hoje começou demonstrando alguma lucidez: ela revela como um "miojo milagroso", que contém apenas 10 calorias por porção, está virando a receita da moda (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1016942-miojo-milagroso-com-apenas-dez-calorias-vira-dieta-da-moda.shtml).
Feito de um tubérculo japonês chamado "konjac", o tal miojo tem tudo para extrapolar o limite da razoabilidade. Pelo menos é o que parece sugerir a matéria, ao narrar como o macarrão virou celebridade depois que a apresentadora da rede GNT, Nigella Lawson, considerada "a sex symbol do orgulho gordo", gritou aos quatro ventos o santo que operou o milagre do seu emagrecimento. "O fenômeno do miojo da Nigella repete o padrão de celebridades: surgem magras, indicam o produto responsável, aí consumidoras enlouquecidas movem montanhas atrás do emagrecedor da vez", previne logo nas primeiras linhas.
O mito do "miojo milagroso" é desfeito até certo ponto. A matéria continua falando as propriedades do produto - que "contém 97% de água e 3% de fibras -na forma de uma substância viscosa chamada glucomanan", substância com grande capacidade de expansão em contato com água e que confere uma excepcional sensação de saciedade para quem o ingere. Ela inclusive cita o parecer do nutrólogo, Eric Slywitch, que "lembra, no entanto, que o miojo milagroso tem poucos nutrientes".
O problema da matéria é que ela termina sugerindo justamente o avesso do que propunha desconstruir logo de partida. O restante do texto acaba suprindo muito bem o leitor ávido pelo "receituário do milagre: ele oferece um guia das diversas apelações do produto no mercado nacional e internacional e até onde consegui-lo em São Paulo. Só nos finalmentes da matéria é que fica a sugestão de um produto alternativo, uma espécie de primo gordinho do "miojo milagroso", denominado "shirataki de tofu", que possui 10 calorias a mais do que o primeiro. Ou seja, a matéria acaba trocando-se 6 por meia dúzia. O que dá absolutamente no mesmo: comidinhas pouco engordativas, milagrosas, para quem quer fazer o mínimo de esforço para gastar o excedente ingerido.
Só que nem toda receita milagrosa termina bem. A prova disso é o estado de saúde do gorila Idi Amin, "aquele gorila de 38 anos que não sabia o que era um acasalamento há pelo menos 27" (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/09/love-is-air-2.html). Eleito celebridade do ano aqui na Roça Grande, Idi provocou inveja em um horda de machos (uns mais humanos, outros menos) ao ganhar, no mês de setembro deste ano, nada mais, nada menos do que DUAS gorilas-namoradas.
Os prognósticos atuais revelam, contudo, que Idi Amin não anda assim tão bem das pernas desde então. E nem dos braços. "Médicos veterinários da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte estão tratando com antibióticos e anti-inflamatórios o gorila Idi Amin. O animal apresenta um quadro crônico de artrose no tornozelo esquerdo e uma infecção grave no antebraço esquerdo" (http://www.hojeemdia.com.br/minas/com-infecc-o-grave-e-artrose-gorila-idi-amin-fica-sem-namorar-1.378649). Agora, submetido a tratamento intensivo, Idi não tem outra escolha senão a "de hinterromper, temporariamente, o 'namoro' com suas parceiras".
Coitadinho do Idi Amin! Logo ele, que acreditou no milagre da multiplicação das namoradas. Só esqueceram de explicar para ele que quando a farra é muita, o santo desconfia.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Alento
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) preparou uma boa-nova capaz de curar qualquer ressaca dos jogos finais do Brasileirão. Novos cálculos com base no preço da cesta básica vigente indicam que nosso mirrado salário mínimo deveria ser mais de quatro vezes superior ao valor atual.
Os termos são da notícia publicada hoje no Jornal Hoje em Dia online: "O salário mínimo necessário para o trabalhador suprir despesas básicas como alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, como determina a Constituição Federal, deveria ser de R$ 2.349,26" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/salario-minimo-deveria-ser-de-r-2-349-26-diz-dieese-1.378305).
Se o balde de água fria caísse só uma vez, ainda ia. Mas os cálculos do Dieese ainda nos reservam outras banhos de surpresas: ao que parece, a distância entre o salário mínimo real e o salário mínimo ideal vem crescendo com o tempo. "O valor do salário calculado pelo Dieese corresponde a 4,31 vezes o mínimo em vigor, de R$ 545,00, montante superior ao de outubro, quando o calculado pelo Dieese fora de R$ 2.329,94. Em novembro de 2010, o mínimo necessário era de R$ 2.222,99 ou 4,35 vezes o mínimo vigente de R$ 510,00". Ou seja, em outros termos, o trabalhador está tendo que trabalhar mais horas para comprar o estritamente necessário.
Para não afogar a nossa já tão sofrida 2a feira na total desesperança, o melhor será recorrer a Agência Espacial Norte Americana (NASA) para esquentar nossos pandeiros e iluminar os terreiros - que nós queremos sambar, ô ô ô. É que, de acordo com anúncio da Nasa, o Observatório Espacial Kepler acaba de descobrir um planeta em situação análoga à do planeta Terra, isto é, posicionado naquilo que os cientistas chamam de 'zona habitável' - uma "região da órbita da estrela onde um planeta não está nem longe demais nem perto demais de forma que sua temperatura permita a existência de água líquida na sua superfície, condição considerada essencial para o desenvolvimento da vida" (http://oglobo.globo.com/ciencia/confirmado-planeta-extrassolar-mais-parecido-com-terra-3386059#ixzz1fiIo9Vhc).
Estima-se que o planeta recém-descoberto, batizado de Kepler-22b, possua um raio 2,4 vezes maior do que o da Terra e que esteja localizado a 600 anos-luz da Terra. "Apesar de ser um pouco maior que nosso planeta, sua órbita de 290 dias em torno da sua estrela é muito parecida com a do nosso mundo. Além disso, a estrela do sistema onde ele está é da mesma classe que o Sol, conhecida como tipo G, embora um pouco menor e mais fria".
Se as coisas continuarem do que jeito que estão aqui na Terra, todo mundo terá a ganhar com a aproximação diplomática entre os dois planetas. Primeiramente, acredito que se os princípios de homologia entre os dois planetas forem estritamente respeitados, o salário mínimo em Kepler-22b será proporcional à dimensão do planeta, cujo raio é quase duas vezes e meia superior ao nosso, mas com uma vantagem adicional: um ano de 290 dias! Com uma remuneração superior e menos horas de trabalho, a previsão é que o salário mínimo kepleriano supra todas as necessidades básicas do trabalhador brasileiro antes do final de 2012, ano em que o nosso mundo deverá acabar.
Em segundo lugar, para quem já está ficando para lá de acostumado a trabalhar mais pela mesma porção de comida, nosso trabalhador não se importaria nem um pouco de se espremer um tantinho mais no transporte intergalático para chegar até Kepler-22b. É que este fenômeno já conhecemos bem: longos traslados até o trabalho, remuneração insuficiente, comida racionada no final do mês. Sem dúvida, está provado cientificamente que viver numa "zona" habitável como o Brasil não é tarefa para fracos.
Os termos são da notícia publicada hoje no Jornal Hoje em Dia online: "O salário mínimo necessário para o trabalhador suprir despesas básicas como alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, como determina a Constituição Federal, deveria ser de R$ 2.349,26" (http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/salario-minimo-deveria-ser-de-r-2-349-26-diz-dieese-1.378305).
Se o balde de água fria caísse só uma vez, ainda ia. Mas os cálculos do Dieese ainda nos reservam outras banhos de surpresas: ao que parece, a distância entre o salário mínimo real e o salário mínimo ideal vem crescendo com o tempo. "O valor do salário calculado pelo Dieese corresponde a 4,31 vezes o mínimo em vigor, de R$ 545,00, montante superior ao de outubro, quando o calculado pelo Dieese fora de R$ 2.329,94. Em novembro de 2010, o mínimo necessário era de R$ 2.222,99 ou 4,35 vezes o mínimo vigente de R$ 510,00". Ou seja, em outros termos, o trabalhador está tendo que trabalhar mais horas para comprar o estritamente necessário.
Para não afogar a nossa já tão sofrida 2a feira na total desesperança, o melhor será recorrer a Agência Espacial Norte Americana (NASA) para esquentar nossos pandeiros e iluminar os terreiros - que nós queremos sambar, ô ô ô. É que, de acordo com anúncio da Nasa, o Observatório Espacial Kepler acaba de descobrir um planeta em situação análoga à do planeta Terra, isto é, posicionado naquilo que os cientistas chamam de 'zona habitável' - uma "região da órbita da estrela onde um planeta não está nem longe demais nem perto demais de forma que sua temperatura permita a existência de água líquida na sua superfície, condição considerada essencial para o desenvolvimento da vida" (http://oglobo.globo.com/ciencia/confirmado-planeta-extrassolar-mais-parecido-com-terra-3386059#ixzz1fiIo9Vhc).
Estima-se que o planeta recém-descoberto, batizado de Kepler-22b, possua um raio 2,4 vezes maior do que o da Terra e que esteja localizado a 600 anos-luz da Terra. "Apesar de ser um pouco maior que nosso planeta, sua órbita de 290 dias em torno da sua estrela é muito parecida com a do nosso mundo. Além disso, a estrela do sistema onde ele está é da mesma classe que o Sol, conhecida como tipo G, embora um pouco menor e mais fria".
Se as coisas continuarem do que jeito que estão aqui na Terra, todo mundo terá a ganhar com a aproximação diplomática entre os dois planetas. Primeiramente, acredito que se os princípios de homologia entre os dois planetas forem estritamente respeitados, o salário mínimo em Kepler-22b será proporcional à dimensão do planeta, cujo raio é quase duas vezes e meia superior ao nosso, mas com uma vantagem adicional: um ano de 290 dias! Com uma remuneração superior e menos horas de trabalho, a previsão é que o salário mínimo kepleriano supra todas as necessidades básicas do trabalhador brasileiro antes do final de 2012, ano em que o nosso mundo deverá acabar.
Em segundo lugar, para quem já está ficando para lá de acostumado a trabalhar mais pela mesma porção de comida, nosso trabalhador não se importaria nem um pouco de se espremer um tantinho mais no transporte intergalático para chegar até Kepler-22b. É que este fenômeno já conhecemos bem: longos traslados até o trabalho, remuneração insuficiente, comida racionada no final do mês. Sem dúvida, está provado cientificamente que viver numa "zona" habitável como o Brasil não é tarefa para fracos.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Paranoia aquática
Uma ironiazinha fina para fechar a semana, que ninguém é de ferro - e eu, muito menos!
Depois de dar mostras de sofrer de paranoia voadora (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/11/paranoia-voadora.html), agora é a vez da versão aquática tomar conta do pedaço. Os EUA decidiram agora estender o muro que separa o México daquele país em cerca de 100 metros mar adentro (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1015535-muro-que-separa-eua-do-mexico-sera-estendido-para-dentro-do-mar.shtml).
O objetivo? Intitulado "Surf Fence Project", o muro "pretende dificultar a entrada de imigrantes sem documentos nos EUA vindos do México". Como? "Os EUA pretendem substituir uma cerca já existente que chega até a costa, mas que, segundo as autoridades, pode ser ultrapassada nos períodos de maré baixa". Com que requintes? "Quando for concluída, em março do próximo ano, a cerca terá 2,5 metros de altura a mais que sua antecessora. Além disso, ela será reforçada com um material que dificultará a escalada dos imigrantes não documentados".
Próximo passado? Instituição de visto para minhocas e imposição de barreiras legais contra o tráfico de pólen entre as plantas dos dois países.
Bom fim de semana a todos! E que se alguém aí gosta de ficar em cima do muro (eu, por exemplo, detesto!), que ao menos escolha um mais idílico do que este.
Depois de dar mostras de sofrer de paranoia voadora (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/11/paranoia-voadora.html), agora é a vez da versão aquática tomar conta do pedaço. Os EUA decidiram agora estender o muro que separa o México daquele país em cerca de 100 metros mar adentro (http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1015535-muro-que-separa-eua-do-mexico-sera-estendido-para-dentro-do-mar.shtml).
O objetivo? Intitulado "Surf Fence Project", o muro "pretende dificultar a entrada de imigrantes sem documentos nos EUA vindos do México". Como? "Os EUA pretendem substituir uma cerca já existente que chega até a costa, mas que, segundo as autoridades, pode ser ultrapassada nos períodos de maré baixa". Com que requintes? "Quando for concluída, em março do próximo ano, a cerca terá 2,5 metros de altura a mais que sua antecessora. Além disso, ela será reforçada com um material que dificultará a escalada dos imigrantes não documentados".
Próximo passado? Instituição de visto para minhocas e imposição de barreiras legais contra o tráfico de pólen entre as plantas dos dois países.
Bom fim de semana a todos! E que se alguém aí gosta de ficar em cima do muro (eu, por exemplo, detesto!), que ao menos escolha um mais idílico do que este.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Exceções e regras religiosas
Pois bem: já vou logo avisando que o comentário de hoje será breve e rasteiro, pelo avançado da hora.
Não pude deixar de franzir a testa diante desta notícia publicada na Folha online abordando a decisão judicial que a garantiu a uma estudante da Universidade Sagrado Coração, uma universidade católica de Bauru (interior de São Paulo), "o direito de não ir às aulas às sextas à noite e aos sábados de manhã" por ser adventista do sétimo dia (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1014846-justica-da-a-estudante-adventista-direito-de-faltar-a-aulas.shtml). Não que eu seja contra ou a favor desta religião em particular, mas muito mais pelo fato do tipo de tratamento que está sendo conferido a ela ser denegado a outras, mesmo quando as demandas de exceção religiosa ou cultural são muito similares.
Já havia comentado em outra ocasião a situação de algumas detentas islâmicas que haviam sido proibidas de orar com o véu islâmico na cabeça supostamente por questões de segurança (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/08/multiculturalismo-tropical.html). A solução dada pela direção do presídio me pareceu um tanto esdrúxula, caso a questão da segurança tenha sido realmente prioritária: no final das contas, as detentas ganharam o direito a dois lençois; um para a cama e o outro para se cobrirem em suas orações. Como se o lençol não fosse maior (e portanto, muito mais capaz de encobrir qualquer arma branca ou de fogo) do que qualquer véu islâmico.
O mais interessante, a meu ver, é que a notícia da Folha assume um posicionamento claramente favorável à decisão de excepcionalidade religiosa em diversas passagens do texto, nem se dando ao trabalho ao menos de consultar uma das partes envolvidas no caso, isto é, a própria Universidade do Sagrado Coração. Basicamente, o texto narra todo o caminho legal que a aluna teve de percorrer para conseguir a isenção das aulas, desde o encaminhamento do primeiro pedido de dispensa das aulas por questões de liberdade religiosa - que foi, aliás, negado pela instituição de ensino - até a concessão da liminar pelo juiz da 3ª Vara Federal de Bauru, Marcelo Zandavali.
A notícia, contudo, deixa claro o posicionamento do advogado da aluna - ele também adventista e especializado em casos desta natureza - segundo o qual "a Justiça vem atendendo, nos últimos anos, aos pedidos de alunos adventistas e judeus, que também guardam os sábados".
Isto posto, quero levantar uma série de perguntas que em nenhum momento questionam a legitimidade das reivindicações dos alunos de confessão judaica ou adventista. São elas: alguém já ouviu falar de algum aluno candomblecista que tenha obtido na justiça direito similar quando este teve de se ausentar 21 dias para cumprir o prazo de reclusão que antecede a cerimônia de saída de santo? Ou será que nenhum aluno candomblecista já ousou requerer tal direito? Ou será que não existe aluno de religião de matriz africana nas universidades? Ou será que, se estes existem, eles não se assumem publicamente e não reivindicam seus direitos? Ou, finalmente, será que para muitos juízes os seguidores das religiões de matrizes africanas não estão aptos a requererem o direito de exceção religiosa?
Sem mais para o momento, despeço-me sem nenhuma esperança de encontrar respostas para estas questões antes de ir dormir. Uma ótima noite para todos.
Não pude deixar de franzir a testa diante desta notícia publicada na Folha online abordando a decisão judicial que a garantiu a uma estudante da Universidade Sagrado Coração, uma universidade católica de Bauru (interior de São Paulo), "o direito de não ir às aulas às sextas à noite e aos sábados de manhã" por ser adventista do sétimo dia (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1014846-justica-da-a-estudante-adventista-direito-de-faltar-a-aulas.shtml). Não que eu seja contra ou a favor desta religião em particular, mas muito mais pelo fato do tipo de tratamento que está sendo conferido a ela ser denegado a outras, mesmo quando as demandas de exceção religiosa ou cultural são muito similares.
Já havia comentado em outra ocasião a situação de algumas detentas islâmicas que haviam sido proibidas de orar com o véu islâmico na cabeça supostamente por questões de segurança (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/08/multiculturalismo-tropical.html). A solução dada pela direção do presídio me pareceu um tanto esdrúxula, caso a questão da segurança tenha sido realmente prioritária: no final das contas, as detentas ganharam o direito a dois lençois; um para a cama e o outro para se cobrirem em suas orações. Como se o lençol não fosse maior (e portanto, muito mais capaz de encobrir qualquer arma branca ou de fogo) do que qualquer véu islâmico.
O mais interessante, a meu ver, é que a notícia da Folha assume um posicionamento claramente favorável à decisão de excepcionalidade religiosa em diversas passagens do texto, nem se dando ao trabalho ao menos de consultar uma das partes envolvidas no caso, isto é, a própria Universidade do Sagrado Coração. Basicamente, o texto narra todo o caminho legal que a aluna teve de percorrer para conseguir a isenção das aulas, desde o encaminhamento do primeiro pedido de dispensa das aulas por questões de liberdade religiosa - que foi, aliás, negado pela instituição de ensino - até a concessão da liminar pelo juiz da 3ª Vara Federal de Bauru, Marcelo Zandavali.
A notícia, contudo, deixa claro o posicionamento do advogado da aluna - ele também adventista e especializado em casos desta natureza - segundo o qual "a Justiça vem atendendo, nos últimos anos, aos pedidos de alunos adventistas e judeus, que também guardam os sábados".
Isto posto, quero levantar uma série de perguntas que em nenhum momento questionam a legitimidade das reivindicações dos alunos de confessão judaica ou adventista. São elas: alguém já ouviu falar de algum aluno candomblecista que tenha obtido na justiça direito similar quando este teve de se ausentar 21 dias para cumprir o prazo de reclusão que antecede a cerimônia de saída de santo? Ou será que nenhum aluno candomblecista já ousou requerer tal direito? Ou será que não existe aluno de religião de matriz africana nas universidades? Ou será que, se estes existem, eles não se assumem publicamente e não reivindicam seus direitos? Ou, finalmente, será que para muitos juízes os seguidores das religiões de matrizes africanas não estão aptos a requererem o direito de exceção religiosa?
Sem mais para o momento, despeço-me sem nenhuma esperança de encontrar respostas para estas questões antes de ir dormir. Uma ótima noite para todos.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Peso pena
Cada qual cuida de seus bebês como pode. Enquanto na China, pesquisadores se travestem de pandas gigantes para interagir com bebê panda, no Brasil, o avanço das cesáreas põe em risco a saúde de bebês e futuros adultos.
Não pude deixar de rir do esforço de mímese dos nossos quase antípodas chineses. Notícia publicada na Folha online mostra fotos de dois pesquisadores fantasiados "de pandas gigantes para interagir com um filhote dentro de uma área protegida, na China" (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1014357-pesquisadores-se-vestem-de-pandas-para-interagir-com-filhotes.shtml). O objetivo do "baile de máscaras" foi levar um bebê panda até o Centro de Pesquisa e Conservação Hetaoping. Com um detalhe curioso: "as fantasias são usadas para garantir que o ambiente dos pandas é desprovido de influência humana", ensina a notícia.
Já do lado de cá do globo terrestre, matéria publicada hoje na Folha online mostra que "na contramão da melhoria dos indicadores de saúde de recém-nascidos, o índice de bebês com baixo peso ao nascer vem aumentando no Brasil nos últimos anos" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1014267-cresce-numero-de-bebes-nascidos-com-baixo-peso-no-pais.shtml).
Desta vez, o problema da baixa de peso nos recém-nascidos não tem absolutamente nada a ver com nem com a pobreza, sem com a subnutrição. Ao contrário: de acordo com dados preliminares do Ministério da Saúde, o aumento vem sendo puxado justamente pelos estados mais ricos do país, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em 2010, por exemplo, "o índice de bebês nascidos com menos de 2,5 kg foi de 8,4%". Ele superou, portanto, o índice de 7,9% verificado há dez anos atrás, o que já estava bastante acima do índice de 5% considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E nos estados acima mencionados (SP, MG, RS) - pasmem! - o índice chega a 9,5%.
Mas não precisa ir muito longe para entender a suposta esquizofrenia que ronda as estatísticas de saúde da primeira infância no Brasil: "Nesses locais, há uma porcentagem maior de cesáreas --o que, dizem os médicos, é a principal explicação para o fenômeno". E com a expansão do número de partos com cesárea programada, a tendência é que os bebês nasçam antes do tempo certo e, consequentemente, com o peso abaixo do patamar considerado ideal.
Com o aumento "progressivo e preocupante" das cesáreas, alerta o Ministério da Saúde, o quadro da saúde nacional tende a ficar cada vez mais sombrio. A curto prazo, a inserção dos bebês nas UTIs neonatais tem alto custo para o sistema público de saúde e aumenta o risco de infecções. A médio e longo prazo, as crianças que vieram ao mundo com peso abaixo do normal têm maior propensão a desenvolver doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, além de outras doenças crônicas que podem reduzir sensivelmente sua expectativa de vida.
A solução, como se sabe muito bem, é tão óbvia, quanto difícil de ser conciliada com a conturbada agendas dos obstetras: incentivo ao parto normal para que ele volte a ser o que o próprio nome diz - normal - e não praticamente uma exceção.
O curioso é que se as cesáreas continuarem crescendo no Brasil, o jeito vai ser adotar a estratégia dos pesquisadores chineses, só que às avessas: mães disfarçadas de enfermeiras gigantes tentarão adentrar as UTIs neonatais para interagir com os seus filhos, já que o ambiente é artificialmente desprovido de influência humana.
Não pude deixar de rir do esforço de mímese dos nossos quase antípodas chineses. Notícia publicada na Folha online mostra fotos de dois pesquisadores fantasiados "de pandas gigantes para interagir com um filhote dentro de uma área protegida, na China" (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1014357-pesquisadores-se-vestem-de-pandas-para-interagir-com-filhotes.shtml). O objetivo do "baile de máscaras" foi levar um bebê panda até o Centro de Pesquisa e Conservação Hetaoping. Com um detalhe curioso: "as fantasias são usadas para garantir que o ambiente dos pandas é desprovido de influência humana", ensina a notícia.
Já do lado de cá do globo terrestre, matéria publicada hoje na Folha online mostra que "na contramão da melhoria dos indicadores de saúde de recém-nascidos, o índice de bebês com baixo peso ao nascer vem aumentando no Brasil nos últimos anos" (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1014267-cresce-numero-de-bebes-nascidos-com-baixo-peso-no-pais.shtml).
Desta vez, o problema da baixa de peso nos recém-nascidos não tem absolutamente nada a ver com nem com a pobreza, sem com a subnutrição. Ao contrário: de acordo com dados preliminares do Ministério da Saúde, o aumento vem sendo puxado justamente pelos estados mais ricos do país, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Em 2010, por exemplo, "o índice de bebês nascidos com menos de 2,5 kg foi de 8,4%". Ele superou, portanto, o índice de 7,9% verificado há dez anos atrás, o que já estava bastante acima do índice de 5% considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E nos estados acima mencionados (SP, MG, RS) - pasmem! - o índice chega a 9,5%.
Mas não precisa ir muito longe para entender a suposta esquizofrenia que ronda as estatísticas de saúde da primeira infância no Brasil: "Nesses locais, há uma porcentagem maior de cesáreas --o que, dizem os médicos, é a principal explicação para o fenômeno". E com a expansão do número de partos com cesárea programada, a tendência é que os bebês nasçam antes do tempo certo e, consequentemente, com o peso abaixo do patamar considerado ideal.
Com o aumento "progressivo e preocupante" das cesáreas, alerta o Ministério da Saúde, o quadro da saúde nacional tende a ficar cada vez mais sombrio. A curto prazo, a inserção dos bebês nas UTIs neonatais tem alto custo para o sistema público de saúde e aumenta o risco de infecções. A médio e longo prazo, as crianças que vieram ao mundo com peso abaixo do normal têm maior propensão a desenvolver doenças como obesidade, diabetes, hipertensão, além de outras doenças crônicas que podem reduzir sensivelmente sua expectativa de vida.
A solução, como se sabe muito bem, é tão óbvia, quanto difícil de ser conciliada com a conturbada agendas dos obstetras: incentivo ao parto normal para que ele volte a ser o que o próprio nome diz - normal - e não praticamente uma exceção.
O curioso é que se as cesáreas continuarem crescendo no Brasil, o jeito vai ser adotar a estratégia dos pesquisadores chineses, só que às avessas: mães disfarçadas de enfermeiras gigantes tentarão adentrar as UTIs neonatais para interagir com os seus filhos, já que o ambiente é artificialmente desprovido de influência humana.
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Esquecimentos
Você aí, que anda esquecendo para trás objetos e eventos importantes - tais como pagar contas, comprar comida e me presentear no meu aniversário - tem agora todos os motivos do mundo para ir correndo até o site da Folha online e ler esta interessante reportagem sobre memória (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1013322-falha-de-memoria-acontece-em-qualquer-idade-faca-o-teste.shtml).
A matéria é um verdadeiro lenitivo para os esquecidos de plantão. Ela revela, logo de partida, que falhas na memória acontecem em qualquer idade e "por motivos comuns: nervosismo, estresse, insônia, cansaço, excesso de informações". Indo de encontro à crença de que a perda de memória é algo vinculado exclusivamente ao envelhecimento, opta-se por uma explicação em que fatores meramente circunstanciais ganham relevância no processo de esquecimento.
De acordo com esta última perspectiva, a falta de sono é um fator-chave: "dormir pouco resulta em perda de atenção no dia seguinte, além de atrapalhar no armazenamento de informações anteriores", explica o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior.
Além das horas mal-dormidas, o consumo de bebidas alcóolicas é outro fator importante que pode ocasionar desde perdas pontuais de memória (a tão conhecida "amnésia alcóolica"), até processos mais cumulativos que aumentam ao longo dos anos e que podem "prejudicar as funções cerebrais de forma irreversível" (a chamada "demência alcóolica").
Por fim, há ainda aquele tipo de esquecimento salutar que possibilita que coisas mais relevantes sejam seletivamente recordadas. É o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp, quem explica: "Para recordar seletivamente o que interessa você tem que inibir, bloquear ou esquecer certas coisas. É inútil lembrar-se de tudo". Isso, claro, sem contar com casos mais extremos que implicam no esquecimento de fatos pertubadores ou traumáticos: "Faz parte do equilíbrio da mente deixar alguns fatos no âmbito do inconsciente", revela Damasceno.
E que estamos falando em memória (e na falta dela), amanhã é um dia crucial para que carreiras de políticos desonestos não caiam no total esquecimento. E pode ser que você precise esquecer muita coisa suja para seguir adiante, caso o parecer do Ministro Luiz Fux, relator de uma das ações referentes à Ficha Limpa que serão julgadas amanhã pelo Supremo Tribunal Federal, seja acatado pelos demais ministros (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1014103-supremo-deve-voltar-a-julgar-amanha-lei-da-ficha-limpa.shtml).
De acordo com o parecer de Fux, "os políticos só podem se tornar inelegíveis se renunciarem após a abertura de processo disciplinares contra eles". Más notícias para quem tem memória: "na prática, se essa parte do voto prevalecer, a decisão livra pessoas como Joaquim Roriz e Jader Barbalho da inelegibilidade. Isso porque ambos renunciaram antes da abertura do processo".
Com tanta notícia boa sobre falhas na memória, você, meu caro leitor, já reuniu informação suficiente para justificar publicamente seus eventuais lapsos de memória da história política recente. Com a carta da Lei da Ficha Limpa fora do baralho nas próximas eleições em 2012, só nos restará escolher o motivo de tanto esquecimento: falta de sono, alcoolismo ou trauma pós-eleitoral.
A matéria é um verdadeiro lenitivo para os esquecidos de plantão. Ela revela, logo de partida, que falhas na memória acontecem em qualquer idade e "por motivos comuns: nervosismo, estresse, insônia, cansaço, excesso de informações". Indo de encontro à crença de que a perda de memória é algo vinculado exclusivamente ao envelhecimento, opta-se por uma explicação em que fatores meramente circunstanciais ganham relevância no processo de esquecimento.
De acordo com esta última perspectiva, a falta de sono é um fator-chave: "dormir pouco resulta em perda de atenção no dia seguinte, além de atrapalhar no armazenamento de informações anteriores", explica o neurologista Luciano Ribeiro Pinto Júnior.
Além das horas mal-dormidas, o consumo de bebidas alcóolicas é outro fator importante que pode ocasionar desde perdas pontuais de memória (a tão conhecida "amnésia alcóolica"), até processos mais cumulativos que aumentam ao longo dos anos e que podem "prejudicar as funções cerebrais de forma irreversível" (a chamada "demência alcóolica").
Por fim, há ainda aquele tipo de esquecimento salutar que possibilita que coisas mais relevantes sejam seletivamente recordadas. É o neurologista Benito Damasceno, da Unicamp, quem explica: "Para recordar seletivamente o que interessa você tem que inibir, bloquear ou esquecer certas coisas. É inútil lembrar-se de tudo". Isso, claro, sem contar com casos mais extremos que implicam no esquecimento de fatos pertubadores ou traumáticos: "Faz parte do equilíbrio da mente deixar alguns fatos no âmbito do inconsciente", revela Damasceno.
E que estamos falando em memória (e na falta dela), amanhã é um dia crucial para que carreiras de políticos desonestos não caiam no total esquecimento. E pode ser que você precise esquecer muita coisa suja para seguir adiante, caso o parecer do Ministro Luiz Fux, relator de uma das ações referentes à Ficha Limpa que serão julgadas amanhã pelo Supremo Tribunal Federal, seja acatado pelos demais ministros (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1014103-supremo-deve-voltar-a-julgar-amanha-lei-da-ficha-limpa.shtml).
De acordo com o parecer de Fux, "os políticos só podem se tornar inelegíveis se renunciarem após a abertura de processo disciplinares contra eles". Más notícias para quem tem memória: "na prática, se essa parte do voto prevalecer, a decisão livra pessoas como Joaquim Roriz e Jader Barbalho da inelegibilidade. Isso porque ambos renunciaram antes da abertura do processo".
Com tanta notícia boa sobre falhas na memória, você, meu caro leitor, já reuniu informação suficiente para justificar publicamente seus eventuais lapsos de memória da história política recente. Com a carta da Lei da Ficha Limpa fora do baralho nas próximas eleições em 2012, só nos restará escolher o motivo de tanto esquecimento: falta de sono, alcoolismo ou trauma pós-eleitoral.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Obviedades: uma grandeza escalar
Por mais que digam, que façam e que aconteçam, o "óbvio" para mim continua sendo um mistério. Já havia falado de obviedades ululantes aqui em outra ocasião (http://cronicasdejuvenal.blogspot.com/2011/07/meias-verdades-e-o-obvio-ululante.html) e seu eterno confronto com as meias-verdades. No entanto, não vou esconder que as primeiras continuam me interpelando mais do que estas últimas. É estranho ver, por exemplo, as coisas que considero como sendo de uma obviedade crassa precisarem ser repetidas reiteradamente, ao passo que outras, vistas como consensuais, acabam produzindo erros grosseiros (e muitas vezes irreparáveis) de julgamento.
Com base nessas variações - e tentando tornar as coisas um pouco menos complicadas no mundo em que vivemos - decidi propor uma grade para a avaliação das obviedades de acordo com uma escala crecente que vai de 1 a 3. As obviedades mais óbvias e incontroversas - isto é, aquelas que você só ignora porque quer - serão marcadas com grau 1. As medianas e que comportam alguma variação em termos de coesão de crenças e de adesão serão marcadas com grau 2. As obviedades absurdas ou nada óbvias, ou seja, aquelas que fundadas em um pré-conceito sobre uma dada situação e que podem induzi-lo a um grave erro de julgamento, serão qualificadas com o grau 3.
Um ótimo exemplo de obviedade de tipo 1 é a predominância dos nomes Maria e José no Brasil (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1013281-maria-e-jose-sao-os-nomes-mais-comuns-no-brasil-veja-lista.shtml). De acordo com um levantamento realizado pela empresa de análise de crédito ProScore, com base na análise de cerca de 165 milhões de CPFs, "o nome Maria é usado por mais de 13 milhões pessoas, enquanto José, o segundo colocado, tem mais de 8 milhões de registros".
Ou seja, nem os enlatados americanos, nem os ídolos do pop mundial conseguiram emplacar nomes internacionais que fossem capazes de reverter esta obviedade de tipo 1: Maria e José continuam sendo o casal da moda quase dois mil anos após o seu falecimento. Com isso, os humoristas nacionais pouco têm o que temer: Dona Maria e Seu Zé continuarão sendo os brasileiros clássicos, uma espécie de tipo ideal weberiano que ajuda bastante na hora de contar uma piada.
Já a matéria intitulada "As dicas de como agir e o que evitar nas festas de fim de ano", publicada no O Globo online de hoje, traz uma lista de obviedades de tipo 2 (http://oglobo.globo.com/emprego/as-dicas-sobre-como-agir-o-que-evitar-nas-festas-de-fim-de-ano-3293605#ixzz1f2F2oLmI). Na verdade, a matéria apresenta uma lista de conselhos para situações de festa que eu mesma ficaria constrangida de repetir em voz alta, tão grande a evidência do seu conteúdo. São algumas das dicas propostas: usar roupas discretas; não beber demais (mesmo estando acostumado); respeitar os horários indicados no convite e não levar penetras; não falar só de trabalho e não exagerar na dose de piadas (mesmo aquelas com os tipos ideais Dona Maria e Seu Zé).
Mas... muito mais contrangedor do que repetir o que se deveria fazer, via regra, o ano inteiro é ter que admitir que, por mais óbvia que a lista seja, sempre haverá alguém para extrapolar. Ou seja, por mais óbvias que as "dicas" do presente caso pareçam, elas ainda comportam algum grau de incerteza. E aqui o óbvio acaba se perdendo entre a transgressão mais ou menos intencional e a contingência de um erro imprevisto.
Fico aqui pensando - sinceramente - no valor de uma lista deste feitio para transgressores eventuais ou reincidentes. Ela certamente não acrescentaria nenhuma informação realmente nova ao seu arcabouço comportamental, nem sequer os impediria de cometer algumas das gafes que se busca evitar. É que os transgressores de obviedades tipo 2 têm o espírito aventureiro e só acreditam nelas quando a bobagem está feita. Fazer o quê? Bater a cabeça na parede? Ajoelhar sobre grãos de milho? Nada disso. O melhor caminho é evitar ser atropelado por uma obviedade de tipo 3, da qual falaremos a seguir.
As obviedades de tipo 3 são perigosas: elas partem da descrição de uma dada situação para produzir uma generalização falaciosa. Exemplo trágico é esta notícia publicada na Folha online, segundo a qual um motorista de ônibus acabou sendo linchado após bater em três carros e quatro motos na Zona Leste de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1013050-motorista-bate-onibus-e-linchado-e-morre-na-zona-leste-de-sp.shtml).
Os algozes do motorista infrator partiram de um esboço de situação que lhes pareceu dos mais óbvios: o acidente só poderia ter sido resultado de imperícia, imprudência ou má fé do motorista. Com base nesta conclusão, "várias pessoas que estavam em um baile funk invadiram o coletivo e agrediram o motorista", que acabou falecendo ao dar entrada no Pronto-socorro Sapopemba.
No entanto, "uma testemunha disse à Policia Civil que o motorista sofreu um mal súbito e bateu nos veículos que estavam estacionados nas ruas Torres Florêncio e Rielli". Tarde demais. É que as obviedades de tipo 3 são cruéis, pois funcionam ao avesso e acabam produzindo o mesmo efeito que se condenava em princípio: violência, incompreensão, intolerância. Cínicas, as obviedades desta classe são como julgamentos sumários com pena de morte. Pode-se morrer de morte matada ou morte morrida: pouco importa quando já se está morto.
Com base nessas variações - e tentando tornar as coisas um pouco menos complicadas no mundo em que vivemos - decidi propor uma grade para a avaliação das obviedades de acordo com uma escala crecente que vai de 1 a 3. As obviedades mais óbvias e incontroversas - isto é, aquelas que você só ignora porque quer - serão marcadas com grau 1. As medianas e que comportam alguma variação em termos de coesão de crenças e de adesão serão marcadas com grau 2. As obviedades absurdas ou nada óbvias, ou seja, aquelas que fundadas em um pré-conceito sobre uma dada situação e que podem induzi-lo a um grave erro de julgamento, serão qualificadas com o grau 3.
Um ótimo exemplo de obviedade de tipo 1 é a predominância dos nomes Maria e José no Brasil (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1013281-maria-e-jose-sao-os-nomes-mais-comuns-no-brasil-veja-lista.shtml). De acordo com um levantamento realizado pela empresa de análise de crédito ProScore, com base na análise de cerca de 165 milhões de CPFs, "o nome Maria é usado por mais de 13 milhões pessoas, enquanto José, o segundo colocado, tem mais de 8 milhões de registros".
Ou seja, nem os enlatados americanos, nem os ídolos do pop mundial conseguiram emplacar nomes internacionais que fossem capazes de reverter esta obviedade de tipo 1: Maria e José continuam sendo o casal da moda quase dois mil anos após o seu falecimento. Com isso, os humoristas nacionais pouco têm o que temer: Dona Maria e Seu Zé continuarão sendo os brasileiros clássicos, uma espécie de tipo ideal weberiano que ajuda bastante na hora de contar uma piada.
Já a matéria intitulada "As dicas de como agir e o que evitar nas festas de fim de ano", publicada no O Globo online de hoje, traz uma lista de obviedades de tipo 2 (http://oglobo.globo.com/emprego/as-dicas-sobre-como-agir-o-que-evitar-nas-festas-de-fim-de-ano-3293605#ixzz1f2F2oLmI). Na verdade, a matéria apresenta uma lista de conselhos para situações de festa que eu mesma ficaria constrangida de repetir em voz alta, tão grande a evidência do seu conteúdo. São algumas das dicas propostas: usar roupas discretas; não beber demais (mesmo estando acostumado); respeitar os horários indicados no convite e não levar penetras; não falar só de trabalho e não exagerar na dose de piadas (mesmo aquelas com os tipos ideais Dona Maria e Seu Zé).
Mas... muito mais contrangedor do que repetir o que se deveria fazer, via regra, o ano inteiro é ter que admitir que, por mais óbvia que a lista seja, sempre haverá alguém para extrapolar. Ou seja, por mais óbvias que as "dicas" do presente caso pareçam, elas ainda comportam algum grau de incerteza. E aqui o óbvio acaba se perdendo entre a transgressão mais ou menos intencional e a contingência de um erro imprevisto.
Fico aqui pensando - sinceramente - no valor de uma lista deste feitio para transgressores eventuais ou reincidentes. Ela certamente não acrescentaria nenhuma informação realmente nova ao seu arcabouço comportamental, nem sequer os impediria de cometer algumas das gafes que se busca evitar. É que os transgressores de obviedades tipo 2 têm o espírito aventureiro e só acreditam nelas quando a bobagem está feita. Fazer o quê? Bater a cabeça na parede? Ajoelhar sobre grãos de milho? Nada disso. O melhor caminho é evitar ser atropelado por uma obviedade de tipo 3, da qual falaremos a seguir.
As obviedades de tipo 3 são perigosas: elas partem da descrição de uma dada situação para produzir uma generalização falaciosa. Exemplo trágico é esta notícia publicada na Folha online, segundo a qual um motorista de ônibus acabou sendo linchado após bater em três carros e quatro motos na Zona Leste de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1013050-motorista-bate-onibus-e-linchado-e-morre-na-zona-leste-de-sp.shtml).
Os algozes do motorista infrator partiram de um esboço de situação que lhes pareceu dos mais óbvios: o acidente só poderia ter sido resultado de imperícia, imprudência ou má fé do motorista. Com base nesta conclusão, "várias pessoas que estavam em um baile funk invadiram o coletivo e agrediram o motorista", que acabou falecendo ao dar entrada no Pronto-socorro Sapopemba.
No entanto, "uma testemunha disse à Policia Civil que o motorista sofreu um mal súbito e bateu nos veículos que estavam estacionados nas ruas Torres Florêncio e Rielli". Tarde demais. É que as obviedades de tipo 3 são cruéis, pois funcionam ao avesso e acabam produzindo o mesmo efeito que se condenava em princípio: violência, incompreensão, intolerância. Cínicas, as obviedades desta classe são como julgamentos sumários com pena de morte. Pode-se morrer de morte matada ou morte morrida: pouco importa quando já se está morto.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Varal do juízo
Céus! Que semaninha essa que está acabando, viu?
A sensação que ficou foi a de ter passado pelo ciclo final da máquina de lavar roupa - o tal do spinning, isto é: aquele que gira em alta velocidade para escorrer o excesso de água - e saído toda amassada.
Ainda bem que me apareceu uma santa alma amiga que me esticou no varal do juízo - e com dois pregradores, um em cada ombro, que é para eu ficar firme lá na corda, secando e desamarrotando os pensamentos.
Pois amigos verdadeiros são assim: te tiram da rotação acelerada da máquina da vida e te põem para pensar. Para esta santa alma e para os demais que me lêem, fica aqui minha homenagem sonora, algum lirismo e a promessa de um fim de semana entre bons amigos.
A canção é abaixo é a minha preferida do senegalês Ismaël Lo: "Nabou" (e não "Tajabone" como diz o clip).
A sensação que ficou foi a de ter passado pelo ciclo final da máquina de lavar roupa - o tal do spinning, isto é: aquele que gira em alta velocidade para escorrer o excesso de água - e saído toda amassada.
Ainda bem que me apareceu uma santa alma amiga que me esticou no varal do juízo - e com dois pregradores, um em cada ombro, que é para eu ficar firme lá na corda, secando e desamarrotando os pensamentos.
Pois amigos verdadeiros são assim: te tiram da rotação acelerada da máquina da vida e te põem para pensar. Para esta santa alma e para os demais que me lêem, fica aqui minha homenagem sonora, algum lirismo e a promessa de um fim de semana entre bons amigos.
A canção é abaixo é a minha preferida do senegalês Ismaël Lo: "Nabou" (e não "Tajabone" como diz o clip).
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
No túnel do tempo da publicidade 16
Como diriam os Engenheiros do Hawai: "O Papa é pop. E o pop não poupa ninguém". Nem o próprio Papa, diga-se de passagem.
E para quem achava que ela tinha aposentado as luvas de boxe, ledo engano! Lá vem a Benetton de novo com mais uma campanha publicitária de arrepiar os cabelos das velhinhas católicas e dos barbudos sunitas seguidores do imã Ahmed Mohamed el Tayeb.
Quem conhece a Benetton há pelo menos 20 anos sabe que a preferência por controvérsias de grande envergadura é estratégia antiga: primeiro vem a veículação; depois a retirada de circulação com pedidos de desculpas; e no intervalo entre as duas, uma cascata volumosa de comentários na mídia impressa, eletrônica e digital em todos os continentes do planeta. Assim foi com esta última campanha: a Benetton veicula a campanha na manhã do dia 16; o Vaticano se pronuncia à tarde; a Benetton pede desculpas logo em seguida; o Vaticano promete ação judicial no dia seguinte, e por aí vai.
Bem, muito pouca gente sabe, mas as polêmicas da Benetton tiveram um papel bastante importante na regulamentação da publicidade. Uma alteração significativa no quadro jurídico antidiscriminatório no país aconteceu no intervalo entre duas grandes polêmicas suscitadas por peças publicitárias da Benetton. Ambas foram, por sinal, alvo de processos éticos instaurados pelo Conselho Nacional de Auto-regulamentação publicitária (CONAR).
A publicidade "Ama de Leite" (denominação amplamente utilizada na cobertura midiática da época) foi alvo do processo no. 076-90 no CONAR.
Ao que parece, a Benetton teve um papel preponderante na alteração trazida com a Lei 8081, que passou a coibir todo ato de "praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor, religião" no Brasil. Coincidentemente ou não, a lei foi aprovada pouco tempo da decisão final do processo no. 076-90, arquivado por unanimidade em 09 de agosto de 1990.
Antes desta lei, um dos argumentos de defesa avançados pela agência de publicidade responsável pela veiculação das campanhas da Benetton no Brasil, a J.W. Thompson, era o de que a publicidade tinha sido criada fora do país e que ela era responsável tão somente pela sua veiculação no país, não lhe cabendo, portanto, nenhuma sanção penal. A partir da promulgação da Lei 8081 em 21 de setembro de 1990, anunciante, agência e meios de comunicação passam a ser igualmente responsabilizados pela criação e veiculação de qualquer campanha julgada discriminatória no território nacional.
Sem dúvida, campanhas publicitárias transnacionais como as da Benetton colocam problemas práticos de regulamentação para a publicidade. A empresa, que tem sua sede na Itália, contratara uma agência francesa, a Eldorado, para a criação de suas campanhas, e tinha como fotográfo a emblemática figura do também italiano Oliviero Toscani. A sustação das publicidades e punição de anunciantes como Benetton (e suas respectivas agências de publicidade) dependia - e continua dependendo - das restrições impostas pelo quadro jurídico de cada país. Vale registrar que as campanhas dos anos 1990 eram veículadas em mais de 50 países. Mas não se deve esquercer, contudo, que a contratação de advogados para a representação da denunciada diante dos tribunais pelo mundo afora deve ter lá o seu ônus financeiro.
A estratégia de tocar em tabus da Igreja Católica em suas publicidades também vem de longa data. A publicidade ao lado foi também alvo de um processo ético no CONAR (processo no. 177/91), cuja denúncia contou com a assinatura de mais de mil peticionários escandalizados, uma raridade nos processo daquele órgão nos início dos anos 1990, isto é, antes do advento da Internet (e da possibilidade de encaminhar uma denúncia via formulário online). Mas nem isto foi suficiente: as denúncias de publicidades da Benetton que vinham sendo encaminhadas ao CONAR continuavam, via de regra, sendo arquivadas por unanimidade pelos membros do Conselho de Ética.
Esta situação de impunidade só se alteraria no ano seguinte com a instauração de outro processo ético - o de no. 229-91. Além da especificação trazida pela Lei 8081, duas outras novidades contribuíram para alterar radicalmente a jurisprudência até então adotada pelo CONAR: a aprovação do Código Brasileiro dos Direitos dos Consumidores (CBDC) e alterações importantes no papel do Ministério Público na proteção de direitos difusos.
Mas não vou me alongar aqui nessa pendenga. Quem tiver interesse em saber mais sobre as reviravoltas ocorridas no julgamento dos processos éticos movidos contra a Benetton por discriminação racial no Brasil, deixo aqui um link que leva a um artigo meu publicado na Revista Líbero exatamente sobre este tema: http://www.casperlibero.edu.br/rep_arquivos/2010/12/10/1292000568.pdf.
Enfim, qualquer que tenha sido o impacto da campanha da Benetton nos demais países, uma coisa é certa até o momento: a publicidade do idílico beijo do Papa Bento XVI era a única, até a presente data, a ser retirada de veiculação. Resta saber o que as demais celebridades envolvidas - Angela Merkel, Nicholas Sarcozy, Barack Obama, etc, etc.- terão a dizer sobre essas lições imagéticas de "não-ódio".
E para quem achava que ela tinha aposentado as luvas de boxe, ledo engano! Lá vem a Benetton de novo com mais uma campanha publicitária de arrepiar os cabelos das velhinhas católicas e dos barbudos sunitas seguidores do imã Ahmed Mohamed el Tayeb.
Quem conhece a Benetton há pelo menos 20 anos sabe que a preferência por controvérsias de grande envergadura é estratégia antiga: primeiro vem a veículação; depois a retirada de circulação com pedidos de desculpas; e no intervalo entre as duas, uma cascata volumosa de comentários na mídia impressa, eletrônica e digital em todos os continentes do planeta. Assim foi com esta última campanha: a Benetton veicula a campanha na manhã do dia 16; o Vaticano se pronuncia à tarde; a Benetton pede desculpas logo em seguida; o Vaticano promete ação judicial no dia seguinte, e por aí vai.
Bem, muito pouca gente sabe, mas as polêmicas da Benetton tiveram um papel bastante importante na regulamentação da publicidade. Uma alteração significativa no quadro jurídico antidiscriminatório no país aconteceu no intervalo entre duas grandes polêmicas suscitadas por peças publicitárias da Benetton. Ambas foram, por sinal, alvo de processos éticos instaurados pelo Conselho Nacional de Auto-regulamentação publicitária (CONAR).
A publicidade "Ama de Leite" (denominação amplamente utilizada na cobertura midiática da época) foi alvo do processo no. 076-90 no CONAR.
Ao que parece, a Benetton teve um papel preponderante na alteração trazida com a Lei 8081, que passou a coibir todo ato de "praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor, religião" no Brasil. Coincidentemente ou não, a lei foi aprovada pouco tempo da decisão final do processo no. 076-90, arquivado por unanimidade em 09 de agosto de 1990.
Antes desta lei, um dos argumentos de defesa avançados pela agência de publicidade responsável pela veiculação das campanhas da Benetton no Brasil, a J.W. Thompson, era o de que a publicidade tinha sido criada fora do país e que ela era responsável tão somente pela sua veiculação no país, não lhe cabendo, portanto, nenhuma sanção penal. A partir da promulgação da Lei 8081 em 21 de setembro de 1990, anunciante, agência e meios de comunicação passam a ser igualmente responsabilizados pela criação e veiculação de qualquer campanha julgada discriminatória no território nacional.
Sem dúvida, campanhas publicitárias transnacionais como as da Benetton colocam problemas práticos de regulamentação para a publicidade. A empresa, que tem sua sede na Itália, contratara uma agência francesa, a Eldorado, para a criação de suas campanhas, e tinha como fotográfo a emblemática figura do também italiano Oliviero Toscani. A sustação das publicidades e punição de anunciantes como Benetton (e suas respectivas agências de publicidade) dependia - e continua dependendo - das restrições impostas pelo quadro jurídico de cada país. Vale registrar que as campanhas dos anos 1990 eram veículadas em mais de 50 países. Mas não se deve esquercer, contudo, que a contratação de advogados para a representação da denunciada diante dos tribunais pelo mundo afora deve ter lá o seu ônus financeiro.
A estratégia de tocar em tabus da Igreja Católica em suas publicidades também vem de longa data. A publicidade ao lado foi também alvo de um processo ético no CONAR (processo no. 177/91), cuja denúncia contou com a assinatura de mais de mil peticionários escandalizados, uma raridade nos processo daquele órgão nos início dos anos 1990, isto é, antes do advento da Internet (e da possibilidade de encaminhar uma denúncia via formulário online). Mas nem isto foi suficiente: as denúncias de publicidades da Benetton que vinham sendo encaminhadas ao CONAR continuavam, via de regra, sendo arquivadas por unanimidade pelos membros do Conselho de Ética.
Esta situação de impunidade só se alteraria no ano seguinte com a instauração de outro processo ético - o de no. 229-91. Além da especificação trazida pela Lei 8081, duas outras novidades contribuíram para alterar radicalmente a jurisprudência até então adotada pelo CONAR: a aprovação do Código Brasileiro dos Direitos dos Consumidores (CBDC) e alterações importantes no papel do Ministério Público na proteção de direitos difusos.
Mas não vou me alongar aqui nessa pendenga. Quem tiver interesse em saber mais sobre as reviravoltas ocorridas no julgamento dos processos éticos movidos contra a Benetton por discriminação racial no Brasil, deixo aqui um link que leva a um artigo meu publicado na Revista Líbero exatamente sobre este tema: http://www.casperlibero.edu.br/rep_arquivos/2010/12/10/1292000568.pdf.
Enfim, qualquer que tenha sido o impacto da campanha da Benetton nos demais países, uma coisa é certa até o momento: a publicidade do idílico beijo do Papa Bento XVI era a única, até a presente data, a ser retirada de veiculação. Resta saber o que as demais celebridades envolvidas - Angela Merkel, Nicholas Sarcozy, Barack Obama, etc, etc.- terão a dizer sobre essas lições imagéticas de "não-ódio".
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Sono, balbúcia e sentido
Além de sobrecarregar o fígado, dormir pouco e muito tarde tem outros efeitos colaterais perversos e de efeito imediato. Um deles é acordar procurando sentido nas coisas. O outro é procurar, procurar, procurar e não encontrar. Ou pior: recusar ver sentido em tudo o que parece claro e translúcido.
Esta notícia aqui publicada hoje na Folha online, por exemplo, toca em cheio na questão do sentido (e de onde ele emerge): mercado de brinquedos nos Estados Unidos acaba de ser apresentado a uma boneca que fala palavrões (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1010850-boneca-que-fala-palavrao-causa-indignacao-entre-pais-nos-eua.shtml).
A venda nas lojas "Toys 'R' Us", o brinquedo está sendo acusado de balbuciar as palavras "crazy bitch" (algo semanticamente próximo a "puta louca"). Questionada pela opinião pública por lá, a famosa rede de lojas de brinquedo se defende com um argumento no mínimo suspeito: "Um porta-voz da cadeia, contactado pela AFP, afirmou que a boneca não diz palavrões, apenas balbucia". Pelo visto, falar palavrão não pode, mas balbuciar, pode.
Enfim... Ainda que a marca ou o fabricante do produto não tenham sido revelados em nenhuma passagem da notícia (muito menos o que significa a sigla AFP), sabe-se pelo menos que ele faz parte de uma linha intitulada "You & Me Interactive Triplets". O que não ajuda muito na falta de sentido do brinquedo: se a linha cumprir a promessa que traz no seu nome (o que poderia ser traduzido como "tríade interativa 'Eu & Você' "), não quero nem ver que tipo de diálogo edificante e interativo o restante da trinca espera ensinar aos pobres lactentes daquele país.
E já que eu comecei a conversa hoje falando de sono (ou da falta dele), eis aqui outra matéria, publicada no mesmo jornal, que trilha a mesma senda de coisas que ora parecem sem sentido, mas depois deixam de ser: a mergulhadora italiana Cristina Zanato desenvolveu técnica única para imobilizar tubarões, colocando-os para dormir (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1010821-mergulhadora-desenvolve-tecnica-para-adormecer-tubaroes.shtml).
A técnica consiste em "ao esfregar com a mão suavemente sobre pequenas aberturas ao redor de sua boca e nariz, conhecidas como ampolas de Lorenzini". Se nos fiarmos nas fotos que o fotógrafo brasileiro Marcio Lisa tirou de uma sessão de adormecimento de tubarões promovida pela mergulhadora nas Bahamas, a técnica parece ser até bem eficaz: "ela induz os animais a um estado de paralisia, no qual eles ficam por até 15 minutos".
Como toda descoberta involuntária, a arte de transformar tubarões em Belas Adormecidas nasceu do susto e da total ausência de sentido: "Aprendi (a técnica) por acidente. O tubarão vinha alto em direção ao meu rosto. Eu o toquei para empurrá-lo para baixo, mas o tubarão parou de nadar. Foi um comportamento que nos maravilhou e não podíamos explicar".
Com o tempo, a mergulhadora descobriu que o sentido morava nas tais ampolas de Lorenzini, "órgãos sensoriais eletrorreceptores que ajudam os animais a detectar vibrações ao seu redor". O problema é que a hilação entre a massagem sobre o órgão e o efeito adormecedor pode ser tênue se você não conhecer suficientemente a anatomia do animal e - literalmente - errar a mão. Eu, cá do meu lado, jamais tentaria: antes sem sentido, do que sem a mão!
Bem, já que nada faz sentido para mim hoje, o melhor mesmo é eu ir andando. Está na hora de procurar o sentido da minha existência em outro lugar. E vamos ver se hoje eu durmo mais cedo, isto é, se os deuses se reunirem em conselho e aprovarem o meu pedido encaminhado em três vias autenticadas em cartório.
Esta notícia aqui publicada hoje na Folha online, por exemplo, toca em cheio na questão do sentido (e de onde ele emerge): mercado de brinquedos nos Estados Unidos acaba de ser apresentado a uma boneca que fala palavrões (http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1010850-boneca-que-fala-palavrao-causa-indignacao-entre-pais-nos-eua.shtml).
A venda nas lojas "Toys 'R' Us", o brinquedo está sendo acusado de balbuciar as palavras "crazy bitch" (algo semanticamente próximo a "puta louca"). Questionada pela opinião pública por lá, a famosa rede de lojas de brinquedo se defende com um argumento no mínimo suspeito: "Um porta-voz da cadeia, contactado pela AFP, afirmou que a boneca não diz palavrões, apenas balbucia". Pelo visto, falar palavrão não pode, mas balbuciar, pode.
Enfim... Ainda que a marca ou o fabricante do produto não tenham sido revelados em nenhuma passagem da notícia (muito menos o que significa a sigla AFP), sabe-se pelo menos que ele faz parte de uma linha intitulada "You & Me Interactive Triplets". O que não ajuda muito na falta de sentido do brinquedo: se a linha cumprir a promessa que traz no seu nome (o que poderia ser traduzido como "tríade interativa 'Eu & Você' "), não quero nem ver que tipo de diálogo edificante e interativo o restante da trinca espera ensinar aos pobres lactentes daquele país.
E já que eu comecei a conversa hoje falando de sono (ou da falta dele), eis aqui outra matéria, publicada no mesmo jornal, que trilha a mesma senda de coisas que ora parecem sem sentido, mas depois deixam de ser: a mergulhadora italiana Cristina Zanato desenvolveu técnica única para imobilizar tubarões, colocando-os para dormir (http://f5.folha.uol.com.br/bichos/1010821-mergulhadora-desenvolve-tecnica-para-adormecer-tubaroes.shtml).
A técnica consiste em "ao esfregar com a mão suavemente sobre pequenas aberturas ao redor de sua boca e nariz, conhecidas como ampolas de Lorenzini". Se nos fiarmos nas fotos que o fotógrafo brasileiro Marcio Lisa tirou de uma sessão de adormecimento de tubarões promovida pela mergulhadora nas Bahamas, a técnica parece ser até bem eficaz: "ela induz os animais a um estado de paralisia, no qual eles ficam por até 15 minutos".
Como toda descoberta involuntária, a arte de transformar tubarões em Belas Adormecidas nasceu do susto e da total ausência de sentido: "Aprendi (a técnica) por acidente. O tubarão vinha alto em direção ao meu rosto. Eu o toquei para empurrá-lo para baixo, mas o tubarão parou de nadar. Foi um comportamento que nos maravilhou e não podíamos explicar".
Com o tempo, a mergulhadora descobriu que o sentido morava nas tais ampolas de Lorenzini, "órgãos sensoriais eletrorreceptores que ajudam os animais a detectar vibrações ao seu redor". O problema é que a hilação entre a massagem sobre o órgão e o efeito adormecedor pode ser tênue se você não conhecer suficientemente a anatomia do animal e - literalmente - errar a mão. Eu, cá do meu lado, jamais tentaria: antes sem sentido, do que sem a mão!
Bem, já que nada faz sentido para mim hoje, o melhor mesmo é eu ir andando. Está na hora de procurar o sentido da minha existência em outro lugar. E vamos ver se hoje eu durmo mais cedo, isto é, se os deuses se reunirem em conselho e aprovarem o meu pedido encaminhado em três vias autenticadas em cartório.
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